III ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DE FILOSOFIA
UFPE-UFPB-UFRN
13-15 de junho de 2005 / Recife, Pernambuco
Tema: "Ciência, Existência e Poder"

Os resumos estão organizados em ordem alfabética.
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Não há subjetividade fora da intersubjetividade: considerações sobre a Dialética do Reconhecimento na Fenomenologia do Espírito de Hegel
Suzano de Aquino Guimarães (UFPE)

O debate filosófico contemporâneo sobre a questão da alteridade tem suscitado investigações díspares. As desconstruções operadas pela chamada pós-modernidade ainda não obtiveram êxito definitivo. E a crítica radical dos “fundamentos metafísicos” pode ser resumida na seguinte metáfora: primeiro nos deram asas para depois nos roubar o céu. Admitindo a crítica hegeliana ao modelo solipsista moderno, esta comunicação privilegia a apreensão e exposição da Dialética do Reconhecimento, presente na Fenomenologia do Espírito (IV/A) de Hegel, onde a problemática da alteridade ganha particular significação e pode ser resumida na seguinte sentença: não há subjetividade fora da intersubjetividade.
 
OS ALICERCES HERACLITIANOS DA FILOSOFIA ESTÓICA
Thiago Barbalho (UFRN)

Dentro dos fragmentos gregos da doutrina estóica se encontra uma série de palavras que, pela freqüência com que são citadas, sintetizam várias das idéias ali tratadas. Neste trabalho destaca-se pýros, fogo, verbete que concentra tanto a idéia estóica de lógos enquanto o sentido da realidade quanto a noção divina e onipresente de uma essência que se desdobra na matéria. Fogo é, portanto, considerado pelos seguidores de Zenão de Cítio como a representação mais autêntica da potência geradora e transformadora da phýsis. Desse modo, é possível elucidar alguns elos entre a physiología do estoicismo grego e o pensamento de Heráclito de Éfeso, especialmente aquilo que este pensou sobre o fogo e o devir enquanto phýsis. O trabalho lança alguns fragmentos de Heráclito dentro da lógica do pensamento estóico grego e tenta, com isso, mostrar a raiz heraclitiana da filosofia inaugurada por Zenão de Cítio.
 
O trágico em Nietzsche e Benjamin
Thiago Mota Fontenele e Silva / UFC

O objetivo deste trabalho consiste em uma interpretação da noção de trágico nos pensamentos de Friedrich Nietzsche (1844-1900) e de Walter Benjamin (1892-1940), com base na leitura de trechos selecionados de O nascimento da tragédia (1872) e Origem do drama barroco alemão (1925). A temática do trágico, objeto comum de consideração de ambas as obras, favorece a compreensão dos pontos de contato entre os pensadores, bem como de suas discrepâncias. O fio condutor que possibilita esta investigação é a crítica proposta tanto por Nietzsche quanto por Benjamin do que se poderia chamar de abordagens moralizantes da tragédia, influenciadas principalmente pela Poética de Aristóteles. A crítica de Nietzsche ao aristotelismo moralizante da tragédia pode ser entendida no âmbito de sua reflexão extra-moral acerca do mundo, que revela o caráter agonístico do trágico, pensando-o como fenômeno estético fundamental. Por sua vez, Benjamin, tendo em vista o esclarecimento da distinção rigorosa entre tragédia (Tragödie) e drama barroco (Trauerspiel), partindo de sua peculiar concepção de filosofia da história, realiza uma crítica às abordagens moralizantes do trágico, que acaba por desembocar em uma crítica ao que ele chama o “esteticismo” nietzschiano. Enfim, este trabalho tem a pretensão de pensar, em Nietzsche, as relações entre tragédia e visão de mundo extra-moral e, em Benjamin, as relações entre tragédia e filosofia da história.
 
Lima Vaz: A experiência humana de Deus e da fé; e os desafios atuais do mundo cristão
Tiago Borges de Brito (UFPE)

Lima Vaz analisa de que maneira, qual a estética, a fé se dispõe no espírito. Logo, então, procede numa investigação sobre a experiência de Deus que em especial possui como característica a envergadura de ser encontrada em todas as dimensões da experiência humana (mundo, eu, outro), quer dizer, o homem quando experiência o mundo, encontra Deus como primeiro e último fundamento, como conseqüência também experiência em si o “toque” divino, tamanha a complexidade perfeita do espírito, e quando se depara com o “outro” percebe que nele, há também, a experiência da idéia divina, que nele se passa o mesmo que consigo próprio.
Portanto Deus pode ser encontrado em todas as dimensões humanas. Porém, há duas acepções corriqueiras para a experiência de Deus, a religiosa (experiência do Sagrado) e do Sentido radical. Sobre elas Lima Vaz procedeu em demonstrar as suas diferenças. A religião decorreria em conseqüência de um arrebatamento do quão espantoso é o acontecimento do mundo e da vida, o que logo por muitas vezes desencadeia uma visão mística, alegórica, que constrói e determina aquilo que é Sagrado.
A outra acepção, a do Sentido radical, se caracteriza como um significado fundante de todas as outras significâncias; pela fé confia-se a um significado fundante (Deus) todo o predomínio de preencher as referências com um significado derivado de Si. A experiência do Sentido radical pode ser ou não acompanhado da experiência religiosa. Como também a experiência religiosa pode ser vivida sem conhecimento de um Sentido radical.
Por final, Lima Vaz trata da particularidade que acerta a experiência cristã de Deus. No caso cristão o Sentido radical está compreendido na vivência de um ser histórico: Jesus Cristo. Essa característica cristã sofre, hoje em dia, uma grande descrença, pois os “olhos” do mundo não conseguem mais enxergar a manifesta relação entre a experiência do Sentido radical e a experiência decorrente da fé atribuída a Cristo, este correspondendo à encarnação da linguagem do Sentido radical. Acredita Lima Vaz que sanar essa deficiência resultará num retorno à prevalência do sentido do Deus cristão, que sofre constante marginalização em nossos tempos.
E, contra toda crítica ao sentimento de fé, a qual a contemporaneidade está submersa, pretende o autor demonstrar que a insurgência contra a fé se demonstra como um rebaixamento, uma visão que ignora uma instância humana.
 
A visão aristotélica da constituição da família na Política
Valdenisia Rodrigues (UECE)

Dos oito livros que compõem a obra Política, em dois - os Livros I e II -, Aristóteles irá tratar do tema da família e sua constituição. Nossa intenção com o presente trabalho é a de apresentar a descrição que Aristóteles expõe em sua obra, explicitando os processos pelos quais se constitui a família, ressaltando sua importância para o contexto político da polis. Aristóteles, utilizando o método de análises e sínteses sucessivas que lhe é peculiar, irá definir o homem como um animal social e político, que só encontra a realização e a satisfação dos seus desejos na vida em comunidade, na vida em sociedade; ou seja, na polis ou na cidade-Estado. A necessidade em se tratar desse tema justifica-se pela constituição do Estado, que, segundo Aristóteles, é composto por muitos indivíduos agrupados em famílias. E estas, por sua vez, são compostas por quatro elementos básicos, a saber: os filhos, a mulher, os bens e os escravos, além, obviamente, do chefe que a dirige e a comanda, chamando a si a responsabilidade em guiar os filhos e as mulheres, tendo em vista que estes são imperfeitos. Vale destacar que para Aristóteles a mulher é inferior ao homem e deve obediência a ele, o que é justificado pela natureza da alma, na qual há uma parte que comanda e uma parte que é comandada, às quais são atribuídas qualidades diferentes, correspondendo à primeira, o racional, que seria do homem; e à segunda, o irracional, que seria da mulher, a quem faltaria portanto a capacidade de decidir, papel exclusivo do homem. É a este, enquanto chefe de família, que cabe também o cuidado com bens da família, que são necessários à satisfação das necessidades básicas e a uma vida moderada e sóbria. A propriedade, como Aristóteles cita, é uma parte da família, com seus instrumentos inanimados e animados - incluído neste último os escravos. Dessa forma, ao distinguir assim a família, Aristóteles está criticando seu antigo mestre, Platão, que em sua obra A República afirma como necessária a extinção da constituição familiar, propondo que os bens, as mulheres e os filhos sejam comuns à todos. A crítica de Aristóteles fundamenta-se principalmente no fato de que o excesso de unidade no Estado acabaria indo de encontro à liberdade e destruiria a cidade, visto que a mesma depende das ações individuais de seus membros. Além disso, conclui ainda Aristóteles, este “comunismo” entre mulheres e filhos acabaria com as relações saudáveis entre os pais e os filhos, coibindo o estímulo às virtudes, que são por sua vez, extremamente necessárias à constituição do homem, que somente pode alcançar a felicidade por seu intermédio. E, quanto mais virtuosos os homens, melhor será o Estado.
 
MODELOS DE EXPLICAÇÃO EM SOCIOLOGIA DA CIÊNCIA
Vicente de Paula Gomes

A filosofia da ciência de base sociológica, um dos campos mais fecundos hoje na investigação do conhecimento, afirma a determinação do último por fatores sociais. Diversamente do que advogam as filosofias inatistas e aprioristas, a sociologia do conhecimento concebe o saber como relativo a, ou determinado por um contexto existencial. Como etapas teóricas importantes do campo destacamos a reflexão marxista inicial, o seu amadurecimento na sistematização empreendida por Karl Mannheim e sua expansão atual sob o comando da “escola de Edimburgo”. No esteio da visão marxista da vinculação entre infra e superestrutura é desenvolvida toda uma teorização sobre a apropriação e sobre a produção do conhecimento pelas classes sociais como arma ideológica na luta pelo poder. Já a contribuição de Karl Mannheim consiste na percepção de que o fenômeno da ideologia remete a uma perspectiva de compreensão do pensamento humano que transcende a conotação moral dada àquele fenômeno pela visão marxista. A vinculação existencial do pensamento não significa distorção, deformação, mascaramento da realidade, mas determinação da função do pensamento ao nível da estrutura mental. A expansão atual comandada pela “escola de Edimburgo” consiste em incluir na tese da determinação social mesmo os conhecimentos formais como a lógica e a matemática.
Uma das questões fundamentais nesse campo é a discussão sobre o vínculo entre conhecimento e contexto. As principais respostas dadas à questão são: a) a relação deve obedecer ao modelo de explicação nomológico causal e b) é necessário o método hermenêutico para apreender a natureza significativo-valorativa do vínculo. O procedimento que temos considerado adequado para tentar equacionar a controvérsia em torno dessa questão é o mesmo utilizado pela sociologia da ciência no produzir suas proposições: analisar os estudos de casos concretos, considerados fontes dessas proposições, para tentar extrair deles o(s) modelo(s) de “explicação” que utilizam ao vincular conhecimento e contexto. Para elucidação da controvérsia propõe-se a análise do estudo de Mackenzie sobre a estatística na Inglaterra, considerado exemplar no campo. Suas conclusões não endossam a concepção causal de explicação. Apontam para um modelo mais flexível do vínculo.
 
O SUJEITO CONTEMPORÂNEO E NOVAS FORMAS DE MAL-ESTAR
Vincenzo Di Matteo (UFPE)

Pretendo, nesta exposição, pensar o mal-estar do sujeito no discurso cultural de Freud como grade de leitura para análise e compreensão dos ‘destinos’ da subjetividade na contemporaneidade.
Parto da convicção de que os escritos freudianos sobre a cultura ainda são úteis para pensarmos os problemas das subjetividades singulares, das instituições sociais e políticas, das novas formas de sofrimento presentes na atualidade. Todavia, é inegável que nossa sociedade pós-industrial e globalizada não é a mesma daquela Freud. É legítimo, portanto, se colocar a seguinte questão: o que aprendemos com Freud sobre cultura e ‘mal-estar’ - e devemos, portanto, incorporar ao nosso patrimônio cultural - e o que merece ser problematizado.
A hipótese que norteia minha reflexão é que o ‘mal-estar’ freudiano era decorrente de uma privação excessiva de liberdade em troca do benefício da segurança e da ordem. O nosso é filho de uma maior liberdade ao preço, porém, de menos segurança. Ou, quem sabe, conseguimos apenas acrescentar novas formas de sofrimento àquelas herdadas da modernidade?
Para ensaiar algumas respostas, certamente provisórias, procedo, inicialmente, a uma explicitação da problemática envolvida. Em seguida, reconstruo geneticamente o pensamento freudiano sobre o conflito subjetividade-cultura, enfim o confronto com nossa realidade atual.
 
Rousseau, Locke e o MST
Washington Luiz Martins da Silva - UFPE

A discussão girará em torno da seguinte pergunta: As ações do MST se legitimam ou rompem com a idéia de propriedade em Rousseau?
Para legitimar a propriedade privada, Rousseau se baseia na argumentação lockeana exposta no Ensaio Sobre o Governo Civil. Para ele, a propriedade individual se fundamenta no trabalho e no espaço que o homem incorpora as coisas, antes do Estado e muito antes da natureza. Diferentemente de Locke, Rousseau advoga em favor da propriedade privada limitada e, apesar do conceito rousseauniano de propriedade se fazer no marco da concepção liberal, ele é um árduo defensor da sociedade de pequenos produtores.A defesa da propriedade comunal que defende Rousseau coincide com os interesses de movimentos de luta para a utilização de espaços públicos vitais para a sobrevivência de determinada camada social.
 
O estatuto da filosofia do jovem Karl Marx
Wellington de Lucena Moura - UFPB

A partir da determinação adotada na crítica da filosofia especulativa do direito, Marx buscou explicar a política a partir da economia. Os primeiros escritos produzidos nesta busca estão nos livros A Sagrada Família, na defesa do conceito de Proudhon sobre propriedade, e nos Manuscritos Econômico-Filosóficos. A questão relativa à realização da filosofia e o tratamento final dado a esta forma de consciência encerram os escritos explicitamente filosóficos de Marx, especialmente, nos acima citados Manuscritos Econômico-Filosóficos, em A ideologia alemã e nas Teses sobre Feuerbach.
Neste trabalho, examinaremos os primeiros escritos de Marx sobre a forma de consciência fundamental: a economia política. Nosso objetivo é demonstrar nos primeiros escritos do jovem Marx sobre economia, a continuidade e o desenvolvimento da filosofia da práxis através do método dialético, resultando em categorias como alienação do trabalho, o proletariado como classe revolucionária, a essência do lucro através da mais-valia e o comunismo como destino possível, além do papel da filosofia na luta de classes na teoria como arma teórica das classes exploradas.
Depois procederemos à análise da filosofia como fim e como realização, do ponto de vista do jovem Marx. Finalmente, examinaremos a filosofia da práxis que permeia toda a obra examinada. Concluiremos com a exposição das noções essenciais da filosofia de Marx relativas à autonomia relativa de todas as formas de consciência, à relação entre o “interpretar” e o “transformar”, e também, à relação dialética entre teoria e práxis.
 
Sob a evolução cósmica, o fenômeno da Socialização e da Globalização
WITOLD SKWARA (UFPE)

Os ecos da socialização - de acordo com Teilhard de Chardin - já começam a ressoar durante a coalescência dos “elementos” físico-químicos na “textura” da Matéria; depois, intensificam-se no domínio biológico, quando se dá a integração instintiva dos organismos na parte baixa da “Árvore da Vida”. No entanto, com o advento do Homem, a coalescência “mecânica” e a integração “instintiva”, mudam de rumo e entram no plano novo, mais elevado e mais espontâneo, para construir a “película” da Noosfera.
O fenômeno da Socialização na Terra, com alcance antropo-cósmico, outrora expansiva e divergente, hoje compressiva e convergente, a partir dos anos 80, culmina no paroxismo da Globalização acelerada, de caráter contraditório, visto que, ela une quando promove o ideal de uma “aldeia” planetária, e ao mesmo tempo, ela separa quando difunde o “império” das empresas trans-nacionais, aumentando o abismo entre os pobres e os ricos, como também, promovendo a crise ambiental, isto é, a poluição da natureza e a destruição da biosfera.

 

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