III ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DE FILOSOFIA
UFPE-UFPB-UFRN
13-15 de junho de 2005 / Recife, Pernambuco
Tema: "Ciência, Existência e Poder"
Os resumos estão organizados em
ordem alfabética.
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Ciência como desejo de domínio em
Nietzsche O propósito desta comunicação é o de
apresentar, a partir de uma compreensão da ciência como um dos desdobramentos da
vontade de verdade como vontade de poder, em Nietzsche, uma
interpretação da ciência então pensada como desejo de domínio. É em especial nas
obras do terceiro período da produção nietzschiana, aí inclusos os escritos
póstumos, que é exposto o controverso tema da vontade de poder, tendo em
vista também os seus muitos desenvolvimentos: vontade de vida, vontade
de engano, de verdade, de domínio. Entendida como uma
formulação para o devir, a vontade de poder se apresenta, no humano, ao
nível da consciência, como desejo de conhecer, que é, sobretudo, desejo de
encontrar calculabilidade, previsibilidade nos processos naturais - torná-los
familiares, conhecidos -, como possibilidade de exercer controle no mundo, e de
ver-se livre do temor de sua tragicidade. Segundo Nietzsche, o universo é um
aglomerado de força, que se organiza sob a forma de centros de força em
constante luta entre si, e o homem, mais um centro, encontra-se essencialmente
mergulhado nessa luta, de onde emerge a vontade de verdade,
compreendendo-se que um acréscimo de saber representa um acréscimo de força, um
engrandecimento de poder. Contudo, faz-se imperativo assinalar, numa análise
complementar, que na obra nietzschiana a ciência, apesar de seu refinamento
metodológico na busca do conhecimento, nada mais é do que uma visão perspectiva,
portanto, um conjunto de valorações atribuído à realidade, mais precisamente, à
ela imposto; na verdade, um amontoado de enganos, articulados como linguagem,
usados para descrever o mundo, culminando no entendimento de que conhecer é uma
esquematização estabelecida pela necessidade fundamental da vontade de poder.
Enfim, demonstraremos como, sob o impulso da vontade de verdade como
vontade de poder, o homem, com a pretensão de se assenhorear da realidade a
partir do conhecimento, termina por enreda-se, pela natureza do mesmo impulso,
em teias de engano erigidas à categoria de verdade. |
A Teoria do Conhecimento de Benedictus de
Spinoza: uma introdução Nossa intenção com o presente trabalho é a
de expormos, por meio de uma detalhada descrição seguida de uma análise, os
argumentos propostos por Benedictus de Spinoza em sua crítica e subseqüente
reforma do método pelo qual o intelecto melhor se dirige ao verdadeiro
conhecimento das coisas. Para tal, inicialmente, faremos a exposição, seguida de
uma análise mais detalhada e comparativa, dos modos de conhecimento conforme
descritos por Spinoza nas três obras em que nosso autor trata desse tema, o
Breve Tratado, o Tratado da Correção do Intelecto e a Ética. A
partir da leitura dessas obras, procuraremos explicitar a descrição spinozista
dos modos de conhecimento, evidenciando a alteração da terminologia da primeira
à terceira obra, dos termos “modos de conhecimento”, empregado nas duas
primeiras, aos termos “gêneros de conhecimento”, empregados por Spinoza na
Ética. Também evidenciaremos a opção de Spinoza pelo conhecimento do
terceiro gênero, ou conhecimento intuitivo, pois é este o tipo de conhecimento
que possibilita ao homem atingir a beatitude. Por absoluta necessidade do
sistema, abordaremos também a questão do método desenvolvido por Spinoza, o
método geométrico ou euclidiano, e qual a sua importância dentro da reforma do
conhecimento, bem como sua importância dentro do sistema considerado em sua
totalidade. Por fim, faremos uma apresentação por meio de uma “introdução”
presente em nosso texto, na qual evidenciaremos a importância do Tratado da
Correção do Intelecto para a fundamentação epistemológica da Ética. |
Lógica Relevante: uma interação com a
lógica ilocucionária No programa da Teoria dos Atos de Discurso (T.A.D.), de Searle e Vanderveken, existe uma semântica formal, isto é, uma teoria da significação dos enunciados que dá conta dos aspectos vericondicionais e ilocucionários F(P), onde F é uma força ilocucionária que serve para indicar a função realizada quando do uso literal do enunciado (assertivo, diretivo, força de promessa, etc.), e P um conteúdo proposicional ao qual a força é aplicada. Nessa semântica geral, a lógica ilocucionária trata dos aspectos ilocucionários da significação F , e a lógica proposicional, dos aspectos vericondicionais P. Segundo a T.A.D., assim como toda teoria adequada das proposições deve proceder à análise de suas condições de verdade, toda teoria adequada dos atos de discurso da forma F (P) deve proceder à análise de suas condições de sucesso e de satisfação. Observando que a lógica relevante é a
lógica que mais se aproxima da linguagem comum, nosso objetivo é discutir em que
medida um sistema de lógica relevante poderá contribuir para medir, avaliar a
relevância dos atos ilocucionários tais como as asserções, interrogações e
exclamações, e propor que um tal sistema poderia integrar-se à lógica
proposicional dos atos de discurso. |
Filosofia e Instituição: Um olhar através
de Nietzsche e Derrida A comunicação trata da apresentação de
duas perspectivas possíveis sobre a relação “instituição-filosofia-educação”.
Uma é desenvolvida a partir da III Intempestiva de Nietzsche intitulada
Schopenhauer Educador. Outra é desenvolvida a partir do livro Força da
Lei de Jaques Derrida. Enquanto Nietzsche desconfia das instituições e
propõe uma educação inserida em uma ética da singularidade, Jaques Derrida não
parece querer pensar o mundo sem as instituições. Tentaremos mostrar estas duas
posições a partir do projeto desconstrucionista , nos atentando para como
Derrida pensa as instituições dentro da idéia de metafísica da presença.
Mostraremos como a metafísica da presença, que muito se assemelha com a
crítica de Nietzsche à metafísica , não inviabiliza pensar sobre as
instituições. |
Modalidades “de dicto” e “de re” em lógica
deôntica Com vistas à obtenção de uma tradução
adequada de sentenças, que são ‘verdadeiras’ numa lógica deôntica natural, em
fórmulas válidas de uma linguagem formal de lógica deôntica, tem-se investigado
as propriedades de um cálculo que represente logicamente as modalidades
normativas de “obrigação”, “permissão”, “proibição”, “indiferença”, e
“comprometimento” associadas às expressões de quantificação universal e
existencial. As principais formas de associação das modalidades deônticas com as
de quantificação universal e existencial são aquelas que resultam dos usos das
modalidades “de re” (quando a noção modal se aplica a um predicado) e “de dicto”
(quando a noção modal se aplica a uma sentença quantificada). Este trabalho tem
por objetivo analisar o significado dessas formas de associação e quais delas
resultam em teoremas de um cálculo deôntico de predicados proposto. |
A dimensão ético-política no confronto
dos estatutos ontológicos da existência em Jean-Paul Sartre e Michel Foucault O tema trata do confronto entre Sartre e
Foucault, delineado dentro da tradição do pensamento francês no século XX, em
torno do compromisso do pensamento crítico com a História. Toma-se como ponto de
partida do trabalho o diálogo travado entre estes autores, estabelecido a partir
das revistas La Quinzaine Littéraire e L´Arc, na década de 1960.
Considerando entre eles a hipótese de uma possível aproximação, em torno das
poucas referências à “estética da existência” na produção foucaultiana da década
de 1980. Tal hipótese consubstancia um campo de investigação dos termos do
estatuto ontológico da existência, em Sartre no L´être et néant e em
Foucault na Histoire de la sexualité I e II. De modo mais específico, ela
concentra a investigação na problematização de uma dimensão ético-política
presente nestes autores, circunscrita em Sartre na condição ontológica da
consciência e em Foucault numa ontologia crítica do si-mesmo. Por fim, esta
pesquisa tem por objeto as implicações do estatuto ontológico da existência no
seu estofo histórico, desdobrado no pensamento destes autores em temas como a
liberdade e a autonomia do sujeito ou do indivíduo no quadro atual da sua
própria condição. |
Bioética e Natureza: limites da ação do
homem sobre a vida A bioética é o conhecimento discursivo-prático que analisa e disciplina a ação do homem sobre a natureza em todos os âmbitos, ou seja, a ação da práxis técnico-científica humana. Ela é, pois, de grande importância para a flexibilização da ética filosófica, posto que permite minimizar o descompasso causado pelo desenvolvimento tecnocientífico desenfreado. É cada vez mais claro que a humanidade precisa tratar com mais e responsabilidade seu hospedeiro, o Planeta Terra. Mas essa tendência em defender a Natureza pode ter seus perigos, podemos correr o risco de ver surgir uma tecnocracia ecológica mundial proveniente do conflito homem/natureza; como bem enfatiza Luc Ferry em seu livro A nova ordem ecológica: a árvore, o animal, o homem. Todavia, a passagem da humanidade inteira pelo crivo da seleção natural para a seleção artificial, via adaptação aos suportes técnicos, leva cada vez mais os cientistas, homens de decisão, filósofos, ecologistas, políticos e religiosos a se preocuparem com o devir global da Terra. Essa preocupação não deve se limitar apenas ao meio ambiente humano, mas, sobretudo se referir à dimensão global que envolve a vida de todos os seres no Planeta. A partir dessa visão integradora, a ecologia se constituiria como um novo paradigma da consciência universal. A tradição sempre defendeu uma ética antropocêntrica em que a natureza é reconhecida tão-somente como mundo material e lugar dos recursos que podem ser infinitamente explorados; ou ainda como meio ambiente externo ao homem que não se reconhece mais como ser natural, desvalorizando o suporte fundamental de sua própria condição de ser-no-mundo. Eis porque convém falar num novo ethos contemporâneo. O ethos é uma característica humana
e é essa característica que nos torna diferentes, livres e responsáveis. Sabemos
hoje que a noção de natureza é em si uma idéia culturalmente construída, e só
ela permite superar os impasses da controvérsia científica e, também, satisfazer
as necessidades culturais e naturais. Nosso estudo consiste, portanto, em
demonstrar o conceito de bioética e os pressupostos que norteiam a questão do
ecossistema enquanto problema filosófico; apresentaremos as vertentes do
pensamento ecológico e as idéias contemporâneas que alimentam seus
posicionamentos éticos e políticos. |
O CONCEITO DE VIRTUAL E OS SIMULACROS EM
LUCRÉCIO Em uma época em que a virtualização enquanto movimento generalizado, tem implicações no devir humano, cresce o interesse da filosofia pela noção do virtual e da virtualização dos objetos. As reconstruções dos corpos e dos objetos pelas tecnologias de visualização, por exemplo, trazem um mundo interior, à esfera do tangível, da presença, reconstituindo suas estruturas, virtualizando-o. São imagens que se desprendem, espectros que vagueiam pelo espaço, assim como os simulacros de Lucrécio. A fumaça e o calor que se desprende dos objetos em chama, a pele renovada das serpentes, as cores fortes das coberturas dos teatros, são analogias utilizadas para mostrar a natureza de tais simulacros, imagens desprendidas das coisas mesmas, que vagueiam pelo espaço ao encontro dos nossos sentidos. As imagens desprendidas são tênues, sutis, e, no entanto, são representações idênticas dos próprios objetos. Os simulacros soltam-se da superfície de tais coisas, dos seus "elementos diminutos", voam pelo espaço livre, conservando a figura e forma originais. Cópias fiéis daquilo que representam, estão constantemente nesse vaguear ininterrupto, levando consigo o registro do que são, ou ainda, do que eram, antes da captura pelos sentidos. Toda percepção é uma reconstrução. As coisas tornam-se perenes e permanentes, em parte, porque podem ser re-vistas, re-vividas, através dos sentidos, da imaginação ou da memória. A virtualização dos corpos, dos conhecimentos e das informações, agem em nosso mundo de forma análoga aos simulacros do filósofo. Trata-se, portanto, de um virtual que está em oposição ao atual, e não ao real. O objetivo desta comunicação é uma
apresentação dos simulacros dos objetos segundo Lucrécio, e em que medida esse
conceito explica o virtual contemporâneo sob uma perspectiva metafísica. |
Marxismo e libertação na obra de Jorge
Amado de 1934 a 1952 Não é novidade alguma afirmar que se podem
encontrar concepções filosóficas implícitas nas obras literárias. Nossa
intenção, neste trabalho, consistirá em ressaltar a preocupação filosófica com o
político-social de Jorge Amado. Tal preocupação tem como referencial a filosofia
marxista, concepção filosófica esta que parece ser orientadora da concepção de
mundo do autor. Em O mundo da Paz. União Soviética e Democracia popular,
escrito em fevereiro de 1950, no qual Jorge Amado relata suas experiências
vividas na Rússia entre 1948-1949, ele se afirma comunista, apresentando idéias
que suscitam a esperança e a crença no homem brasileiro, mesmo ressaltando suas
angústias frente às condições de vida da maior parte de nossa população. É ali,
também, que ele destaca a importância da participação do intelectual no processo
de libertação em vista de uma sociedade socialista. É no contexto do marxismo
que também deve ser compreendido o romance político Os subterrâneos da
liberdade, de 1952 (trilogia que tem como pano de fundo a vida política
brasileira nos anos do Estado Novo, com destaque às atividades clandestinas do
Partido Comunista Brasileiro). Não podemos deixar de mencionar, no contexto,
O cavaleiro da esperança, de 1942, relato biográfico sobre o líder comunista
Carlos Prestes. O romance Jubiabá, de 1934, também pode ser lido sob o
olhar da filosofia marxiana. E é este o nosso propósito neste trabalho: mostrar
que o autor possui “uma obstinada crença no futuro” (Amado, 1942: 4),
caracterizada pela idéia de que qualquer mudança qualitativa da sociedade só
pode ocorrer com a participação decisiva do povo. Esquecer este simples
enunciado é desconhecer o significado da libertação. |
O Projeto Utópico-Crítico da Filosofia da
Libertação em Enrique Dussel O presente trabalho dedica-se à Filosofia da Libertação, saber teórico que, nascido na América Latina, busca articular-se à práxis da libertação dos oprimidos. Fundamentado na leitura das principais obras do filósofo argentino Enrique Dussel, relaciona esse pensamento libertador às suas principais fontes inspiradores: as contribuições de Emmanuel Levinas e de Karl Marx. Todavia, para que esse discurso se configure enquanto pensamento autônomo e crítico desde o chão latino-americano, permitindo que a Filosofia da Libertação elabore seu próprio projeto utópico-crítico, surge a necessidade de superação da reflexão de Levinas e Marx, o que se apresenta como principal novidade dessa investigação, por possibilitar questionar o pensamento único, denunciando os mecanismos neoliberais de continuidade da dominação e da geração de novas vítimas. Precisamente, a Filosofia da Libertação elabora seu discurso a partir da vítima e fundamenta sua práxis com intenção de libertar essa vítima de toda situação de opressão, o que faz com que a libertação se constitua no único telos de todo projeto utópico-crítico dusseliano - de toda razão política crítica: todo pensamento e da reflexão de Enrique Dussel persegue, incansavelmente, a transformação das práticas opressivas, aspirando essa libertação a partir do lugar da vítima.
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