III ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DE FILOSOFIA
UFPE-UFPB-UFRN
13-15 de junho de 2005 / Recife, Pernambuco
Tema: "Ciência, Existência e Poder"

Os resumos estão organizados em ordem alfabética.
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Aspectos Metodológicos no Estudo das Paixões na Ética de Spinoza
Daniel Santos da Silva - UECE

O método é um dos pontos mais comuns quando a filosofia estudada é a de Spinoza. Por outro lado, tal interesse não se manifesta simplesmente na especulação a respeito da formalidade do método, mas de sua objetividade intrínseca à ordem dedutiva do método, e do desdobramento regional aplicado a temas que encontram sua fundamentação no caráter ontológico do método euclidiano considerado estrutura e racionalmente. Um desses temas privilegiados são as paixões. A relação com o método se faz com a pesquisa da possibilidade estrutural de se incluir as paixões na teia de composição da essência da natureza humana. Como o método geométrico exige necessariamente essa inclusão com base na natureza humana fundamentada em pressupostos ontológicos, um deles, a definição de causa de si, é um dos objetivos desse trabalho, que procura também discutir a ligação entre método, estrutura da racionalidade, conhecimento e as paixões. O entrelaçamento desses conceitos segue a ordem teórica das razões, que, como também se verá, é a mesma ordem das coisas.
 

A Ética na Política Segundo Maquiavel
Danilo Duarte de Sá

O objetivo da comunicação é esclarecer, à luz dos conceitos éticos e políticos, de forma contextualizada, o fundamento ético-político formulado por Nicolau Maquiavel e sua contribuição às formulações subseqüentes sobre a moralidade na sociedade constituída de um corpo político. Trataremos o referido tema, a partir de uma abordagem que busque nas particularidades do pensador florentino uma fundamentação da moralidade de seu tempo, bem como sua relação com a política européia da Idade Moderna. Tendo em vista que, apesar de ser denominado, pejorativamente, como maquiavélico, Nicolau Maquiavel tornou-se, para muitos, o primeiro pensador moderno a formular uma concepção ético-político tendo como parâmetro a análise das necessidades de sua própria sociedade. Esta análise irá fundamentar nossa comunicação a cerca da ética na política para traçarmos um paralelo com nossa contemporaneidade.
 

A estrutura dos corpo próprio - segundo Henrique Lima Vaz
Debora Klippel Fofano - UECE

A antropologia filosófica enquanto interseção de dois saberes, a metafísica e a ética, além de enunciar o homem como portador de razão universal e dotado de liberdade de escolha, vem revelar toda complexidade estrutural e dinâmica do fenômeno humano. Todavia, a intenção desta comunicação é colocar os conceitos de estrutura ou dos níveis ontológicos capazes de definir o espaço no qual está inserido o ser-homem. Particularmente no que diz respeito as categorias estruturais somáticas do mesmo, caracterizada pelo corpo próprio, que não é aqui tratado somente como uma entidade físico-biológica, mas enquanto pólo imediato da presença do homem no mundo (que refere também a sua situação espaço-temporal). O corpo próprio é a dimensão constitutiva e expressiva do ser do homem, já que o princípio da auto-comprensão humana começa com a compreensão da sua condição corporal, assim o homem organiza o seu estar-no-mundo, onde podemos distinguir algumas áreas relacionadas, como do biológico à sexualidade, do psíquico ao afetivo, do social ao comunicativo, do cultural a gestalt, logo, constituindo uma intencionalidade subjetiva do corpo que se exprime na corporalidade do Eu. Ainda podemos investigar os conceitos do saber do homem sobre o corpo que o situam no tempo e no espaço através dos discursos que são categorias constitutivas da pré compreensão de uma compreensão explicativa filosófica. Podemos analisar também o problemática do corpo com a oposição alma-corpo, que é dada tanto por versões religiosas da antiguidade, passando pela compreensão filosófica platônica e o dualismo cartesiano, além da versão biblico-cristã e finalmente a analise dada por um esquema reducionista cientifico. Logo, devemos observar o caráter dialético da constituição da essência do sujeito ou da resposta a questão sobre o ser. Assim ao situarmos a corporalidade no movimento dialético de constituição do homem, atribuímos ao corpo a competência de estrutura fundamental do ser do homem, e à corporalidade o estatuto de categoria constitutiva do discurso da antropologia filosófica, pois além dela (corporalidade) outras categorias, como o psiquismo e o espírito também farão parte desta constituição da estrutura do homem.
 

Lévinas e as fendas no ser
Demetrius Oliveira Tahim

A ontologia fundamental proposta por Heidegger mostra o Dasein imerso em uma inevitável existência na qual não pode escapar, o cessar deste confronto ocorreria com a morte do ente. Nesse sentido, o ente é condenado e submetido à existência na qual Lévinas designará por il y a: há. A existência torna-se um confronto inevitável com o fato da nudeza e crueza de que il y a. Mesmo na sua negação, mesmo na ausência total de entes, restará, no fundo deste nada, um resquício de ser. Parece-nos, sob esta perspectiva, que este não nos oferece saídas. Nosso confronto com ele torna-se irremediável. Contudo, não haveria possibilidade de nos evadirmos dessa existência impessoal? Para Lévinas há fendas no ser. Entretanto, o recurso ao nada se mostra ineficaz para a tarefa. Devemos, então, verificar se o nada não funcionando como negação do ser, poderia funcionar como intervalo. Desta maneira, mediante uma pesquisa da obra Da existência ao existente, unida à interpretação e reflexão, trataremos de compreender como esse nada pode ser produzido pela consciência com o seu poder de suspender-se e colocar-se numa posição de inércia na sua capacidade de sono. Destarte, está na consciência e em seu poder de sono e inconsciência a possibilidade de encontrarmos uma saída do ser e sua obra. Tal poder dado à consciência permite a evasão: dormimos. Contudo, dormimos sobre uma base, uma posição. Esta categoria entendida como ponto de inércia é onde ocorre o evento do surgimento de uma consciência. O estudo detalhado destas categorias mostrará como o ente pode suspender sua existência, livrar-se dela e dominá-la. Esse movimento, Lévinas designará por hipóstase, ou seja, o surgimento de um existente.
 

UMA RAMIFICAÇÃO CHINESA DA "ESCOLA DE IBN 'ARABÎ"
Edrisi Fernandes - UFRN

O "Neoconfucionista Islâmico" Liu Chih (n. c. 1670; m. em 1730) adaptou de um modo magistral o vocabulário e as idéias monistas da "escola de Ibn 'Arabî [ou akhbari]" à expressão neo-confuciana. Autor do T'ien-fang Hsing-li ("Natureza e Princípio da Direção do Céu", também traduzido como "Filosofia da Arábia") e do Chen-ching Chao-wei ("Mostrando a Ocultação do Domínio Real", uma paráfrase do Lawâ'ih ["Lampejos"] de Jâmî) Liu Chih foi "uma das mais sofisticadas mentes teológicas no mundo islâmico chinês" e marcou o apogeu da trajetória do "Confucionismo Muçulmano" (Tu Weiming, introd. a S. Murata, Chinese Gleams of Sufi Light. Nova Iorque: State University of New York, 2000, p. xi). Procuramos mostrar de que modo Liu Chih conseguiu comunicar, valendo-se sobretudo de palavras emprestadas do vocabulário do Neoconfucionista Chu Hsi (1130-1200) e daquele de um outro "Neoconfucionista Islâmico", Wang Tai-yü (n. c. 1590, m. em 1657 ou 58?), algumas idéias essenciais da escola akhbari, como p. ex. aquela da determinação subjetiva do Ser em dois estágios, um primeiro estágio de "conhecimento" (ár. 'ilm; chin. chih) e um segundo estágio de "poder" (ár. qudra; chin. neng), e aquelas idéias emanacionistas tão caras ao Neoplatonismo.
 

Ação e questão normativa
Eduarda Calado - UFPB

Propõe-se, no presente trabalho, uma explanação, concernente à filosofia da mente, das noções de ação, controle, intencionalidade e normas. Apresentando os seres humanos, o “nós”, como sendo, em essência, agentes executores de ações meneadas por um conteúdo racional, ou seja, por motivações que nos direcionam a coisas pelo controle exercido por crenças, desejos, intenções, volições e também propriocepções. Tal controle ou motivação (razões para agir) é dado por um conteúdo normativo. Nossas ações são, então, não apenas inferenciais, partindo de premissas (razões) para determinadas conclusões (ações), mas proposicionais, estão embasadas em um conteúdo de verdade.

Os seres humanos são, então, executores de ações guiadas pela sapiência, cuja intencionalidade passa a ser entendida não mais como um simples direcionamento sobre algo, mas como um direcionamento movido pela vontade de realizar condições de verdade, por regras claras. Regras essas de origem idiomática e, consequentemente, culturais; apenas a linguagem possibilita que tanto expressões quanto atitudes sejam reguladas a partir de motivações fundamentadas e aceitas como verdadeiras por nós. Assim, a acepção de intencionalidade é reformulada, levada ao patamar do proposicional ao considerar-se o caráter regulador.

Utilizando-se dessa noção de “high-grade intentionality”, nas palavras de Robert Brandom, cuja essência está na possibilidade de formulação de proposições e na valorização da compreensão e do julgamento, tratar-se-á das práticas lingüísticas, da semântica e das questões normativas. Em outras palavras, da passagem do status normativo à atitude, da relação entre o correto e o regular; da questão do vocabulário normativo; dos conceitos e concepções que embasam os julgamentos (em incursões à filósofos como Kant e Wittgenstein) e de como se dá a passagem de tais julgamentos não-evidentes na práxis para a instituição de leis e princípios rígidos, expressamente de conteúdo normativo.
 

A Noção de Tempo em Descartes
Elaine Guinevere de Melo Silva

Este trabalho pretende apresentar a concepção de tempo em Descartes a partir de suas "Meditações Metafísicas". Nesta comunicação, proponho-me à apresentação da concepção cartesiana de tempo vista sob dois aspectos, a saber, o ontológico e o epistemológico. O aspecto ontológico é depreendido particularmente a partir da tese da criação contínua, resgatada por Descartes a partir da tradição escolástica. No que diz respeito ao aspecto epistemológico, será examinada a fundamentação do cogito cartesiano, posto que é a certeza do cogito que irá inaugurar a cadeia das razões sob as quais se realizará o projeto cartesiano, qual seja, o de estabelecer "algo de seguro e constante nas ciências". Na fundamentação do cogito pode-se entrever uma relação entre tempo e pensamento a partir da consideração de que a garantia da certeza do cogito parece depender do momento de uma atenção; ou seja, para que se produza em mim a certeza relativa ao "Eu penso, logo sou", se faz necessário que meu espírito se fixe por um momento no Cogito, que é o meu ponto de apoio. Em suas Meditações, Descartes afirma "Eu sou, eu existo... mas por quanto tempo? A saber, por todo o tempo em que eu penso".No momento em que meu espírito deixa de fixar-se no Cogito para se deter em coisas diversas, pode ocorrer que esse ponto de apoio se precipite na obscuridade, arrastando consigo toda a cadeia das verdades até então adquiridas.
 

Um Breve Relato sobre as Três Transmutações do homem de Friedrich Nietzsche
Elainy Costa da Silva - UECE

O presente trabalho visa apresentar as três transmutações do homem de Friedrich Nietzsche, cujo conteúdo está contido na sua obra Assim Falou Zaratustra. Nietzsche inicia as três transmutações falando como o espírito se torna em camelo, a partir do camelo em leão e por fim o leão em criança. Primeiramente, o espírito de camelo carrega sobre si a pesada carga, ou seja, a moral cristã. Segundo Nietzsche, a moral cristã perverte os instintos, castrando a vontade de potência, que deixa de significar “criar” e passa a significar “dominar”, ou seja, firmada em dogmas e crenças, ela impõe a renúncia e a resignação como virtudes. Também conhecida como a moral dos escravos e dos fracos, eles invertem os valores, ou seja, inventam um além para compensar a miséria; criam à salvação da alma porque não possuem corpo; criam a idéia de pecado, pois não podem participar das alegrias e da satisfação dos instintos da vida.O espírito de camelo carrega sobre si essa carga; dessa forma ao se dirigir ao deserto, o camelo “questiona” os valores estabelecidos, acreditando que eles vão de encontro a sua natureza, sendo assim, o espírito volta-se para si, buscando sua essência, enquanto vontade de potência, a partir disso o espírito de camelo transmuta-se em espírito de leão. Ao tornar-se espírito de leão, o espírito quer conquistar sua liberdade, quer dizer, não quer mais chamar de senhor o “Tu-deves”, ou seja, a moral cristã; agora ele diz “eu quero”. O espírito de leão ainda não é capaz de criar novos valores, mas somente dar liberdade para a nova criação, sendo assim, ele trás para si o direito a novos valores. A partir disso o espírito de leão torna-se espírito de criança, cuja inocência, o esquecimento e o começar-de-novo trazem consigo as possibilidades de criar novos valores. Como criança, o espírito dá vazão à vontade de potência, criando assim valores que seriam o reflexo da sua força e da sua independência em relação a todos os valores vigentes, desprendendo-se de toda a cultura decadente.
 

A questão do Amor nas Relações Concretas com o Outro
ELIANA SALES PAIVA

Sartre, na obra O Ser e o Nada, ao tratar das relações concretas com o outro pressupõe a existência do para-outro (como distinto do para-si) e o corpo (enquanto é agido e percebido e não que age e percebe). Portanto, a condição de convivência do para-si com os diferentes, ou seja com o Em-si (mundo) e Para-Outro (os outros) é de reconhecimento da objetificação, ou seja, de uma objetividade ontológica e não epistemológica. Daí porque Sartre define que o amor aspira a identidade absoluta e tenta identificar o finito com o infinito; por isso o amor está condenado ao insucesso e reduzido a uma aspiração unilateral, pela qual a reciprocidade é decepcionante e se contenta de imaginar a vaga forma de um ideal fugido. As conseqüências são: a) a infinitização das vicissitudes amorosas adquirem um significado absoluto e um alcance desproporcionado e grotesco, b) todo tipo ou forma de amor humano destina-se ao fracasso. Porque essencialmente no amor, o amante quer ser o mundo inteiro para o amado e exige a reciprocidade, simultaneamente há a exigência de um sobre o outro para que faça escolhas originais e fundante da liberdade. O que gesta uma relação conflituosa entre amantte-amado e amado-amante, estabelecendo-se uma luta de sedução a fim de tornar o outro objeto de desejo.
 

Platão e o amor à beleza
Emanuel dos Santos Sasso - UECE

O presente trabalho tem como pretensão tentar explicitar, diante do horizonte metafísico platônico, a existência de uma realidade metafísica e não só de um saber metafísico. Durante pesquisas, objetivando a realização deste trabalho, deparei - me com esta realidade que, enquanto realidade metafísica ela é suprema e divina em Platão. Este trabalho tem como objetivo ainda, mostrar que o que fundamenta esta realidade divina é tudo aquilo que é belo e bom no mundo físico e humano, fazendo referência assim, ao conceito de beleza e de Eros neste filósofo. Após este primeiro momento, tentarei expor que, diferentemente de Sócrates, Platão ao desvelar a instância estética e erótica, nos propicia perceber que os valores físicos e humanos ou reais de beleza e bondade transcendem às próprias coisas materiais que os representam, já que Sócrates nos alertava para a importância de um saber fundamentado por valores morais e normas absolutas. Dessa forma, tentarei elucidar, à luz do sentido utópico de projeção, o porquê da busca e do desejo do homem por uma realidade absoluta. Por fim, pretendo através deste, demonstrar como e por que em Platão o desvelamento de uma realidade supra - sensível favorece a fundação de uma metafísica.

 

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