III ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DE FILOSOFIA
UFPE-UFPB-UFRN
13-15 de junho de 2005 / Recife, Pernambuco
Tema: "Ciência, Existência e Poder"

Os resumos estão organizados em ordem alfabética.
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O SIGNIFICADO DO TERMO LIVRE NA ÉTICA DE BENEDICTUS DE SPINOZA
Emanuel Fragoso - UECE

A aplicação do termo livre na Ética de Benedictus de Spinoza, a rigor, só é possível a Deus, enquanto substância única absolutamente infinita. No entanto, o homem, enquanto modo finito da substância, não está inteiramente impossibilitado de ser livre, pois, ainda que lhe seja interdito nascer livre, ele ainda pode tornar-se livre. Nosso objetivo com o presente trabalho é o desenvolvimento e a análise do conceito de Liberdade na Filosofia de Benedictus de Spinoza, considerada a partir de sua definição para o termo livre, que se encontra na definição VII da Parte I de sua obra maior, a Ética, considerado sob a perspectiva do modo finito. Por conseguinte, partiremos do estudo da liberdade em relação com a vontade, com o entendimento e com a necessidade, procuraremos demonstrar que a liberdade, quando aplicada aos modos finitos, constitui, não uma propriedade inata, mas sim uma conquista deste a partir da posse de sua potência de agir e da potência de pensar, que possibilitará ao homem atingir a sua liberdade, superando, por assim dizer, os aparentes “condicionamentos” inerentes aos modos finitos, através do conhecimento pela razão do que é em si a necessidade das coisas; ou seja, suas causas.
 

O Absoluto enquanto Processo em Heráclito e Hegel: (Uma leitura a partir dos fragmentos de Heráclito e do prefácio da Enciclopédia das Ciências Filosóficas de Hegel)
ERICSSON VENANCIO CORIOLANO - UECE

Esse artigo pretende fazer uma aproximação entre as filosofias de Heráclito e Hegel a partir da compreensão que o absoluto só pode ser apreendido enquanto processo. Trata-se, pois, de partir da leitura dos fragmentos de Heráclito identificar sua concepção de Logos e relaciona-la com a idéia de movimento, de devir. Pois para Heráclito o Logos se dá a partir da luta (pólemos) dos contrários, ou seja, da unidade das diferenças; essa unidade é o devir, o movimento. O Logos só pode ser apreendido quando se pensa conforme esse processo. Processo que é o resultado da negação determinada entre ser e não-ser. Essa mesma compreensão possui Hegel quando expõe o absoluto a partir de um processo de diferenciação do próprio absoluto com ele mesmo a partir de suas mediações consigo mesmo. Ou seja, para Hegel, o fundamento de todo conhecimento em si se dá no seu próprio desdobramento em si e para si, que é por outro lado mediado pelo outro de si. A necessidade da filosofia se dá então em passar pelos vários objetos do espírito (sensibilidade, imagens, os fins da vontade, etc.) e apreender o que é o objeto por excelência da filosofia: o pensar.
 

Ética e Retórica em Hobbes e Rousseau
Evaldo Becker

O presente texto visa tratar de forma breve algumas questões acerca da Retórica ou do uso da linguagem nas obras de Hobbes e Rousseau, e como esta questão se liga às questões da ética e da política. Pretendemos demonstrar que para Rousseau a linguagem ou o discurso possuem tanto uma valoração negativa quanto uma valoração positiva, e que Hobbes após ter pretendido expor uma Ciência Civil alheia as questões da retórica, acaba por se convencer da necessidade de atentar à forma como os conteúdos são repassados pois percebe que o conhecimento por si só não consegue ser implementado, necessitando dos artifícios da retórica para chegar à bom termo. Pretendemos também verificar alguns elementos da presença de Quintiliano no que se refere à retórica em Hobbes e que talvez tenham indiretamente chegado até Rousseau. Os principais textos a serem abordados, a fim de realizar tais intuitos serão: o Ensaio sobre a origem das línguas e o Emílio de Rousseau e o Leviatã e de Hobbes bem como o texto Razão e retórica na obra de Thomas Hobbes de Quentin Skinner.
 

A construção da noção de limite a partir da Physiologia e suas implicações com o tema da morte
Everton da Silva Rocha - UFRN

Segundo Philip de Lacy existe um princípio unificador no ensinamento de Epicuro, esse fundamento é a noção de limite ou ainda os termos gregos péras e óros,importantíssimos nas reflexões sobre aspectos da physiologia e da ética. De Lacy aponta que limite é relativo ao domínio de variação de que são suscetíveis as propriedades genéricas de um ser natural, conseqüentemente o máximo e o mínimo que a natureza confere aquelas variações; o princípio pode ser aplicado a todos os corpos materiais. Indo além, o limite atinge inclusive a especulação em torno dos átomos. A noção de limite é construída junto com a demarcação de um campo de variação, cada cota encontrando-se encerrada entre dois pontos. A Constancia das características específicas se exprime através da idéia de limite.

Para um composto sua transitoriedade é sua condição de existência, tempo é sempre tempo para o corpo, a perspectiva epicúrea deixa claro que o homem é um corpo, nunca perdendo de vista que a cada instante esse corpo expressa-se por meio de sensações acompanhadas de dor ou prazer, presentes enquanto o composto existir, a morte é o limite para essa agregação. A alma compreendida como um corpo num corpo não escapa a esse inexorável limite. Se o homem nada é sem sensações, o entendimento da morte surge como um limite insuperável para cada um, pois só o encontramos quando nos deparamos com a morte de outros compostos, semelhantes por possuírem natureza análoga, possuindo uma antecipação do que será nosso próprio processo de dissolução.

Esse trabalho pretende traçar algumas implicações para o tema da morte, delineando seu lugar dentro da physiologia de Epicuro, tomando como fundamento a noção de limite.
 

Ciência em Aristóteles
Felipe Gomes Paiva - UFPB

Este trabalho apresentará as diferenças entre proposições dialéticas, demonstrativas, sofísticas e erísticas. Conforme Aristóteles, em seu tratado dos Segundos Analíticos, julgamos conhecer algo cientificamente, e não à maneira sofística, por acidente, quando conhecemos a causa pela qual a coisa é e a necessidade dessa coisa de ser sempre. Esta definição já marca a diferença entre ciência e sofística; utilizaremos, ainda, o texto Refutações Sofísticas, para precisar esta diferença. A dialética difere da ciência dada a natureza de suas premissas e o modo como são usadas. Na ciência, as premissas gozam de propriedades que a tornam distintas das premissas dialéticas. As premissas científicas são verdadeiras, primeiras, imediatas, anteriores, causa da conclusão e mais conhecidas. Mediante tais características, Aristóteles monta o seu sistema das ciências. Nosso trabalho visa estabelecer as condições do conhecimento científico, em geral, mediante as distinções na natureza das premissas. A distinção aristotélica não parece ser adequada ao estudo das ciências da natureza, posto que nestas ciências é possível identificar geração e corrupção, o que é impedido pela necessidade de que o objeto da ciência seja eterno e imutável; nós mostraremos como é possível solucionar esta aparente contradição tomando unicamente a natureza das premissas. O resultado final mostra um Aristóteles mais “atenuado” que aquele considerado pela tradição.
 

A ação da inteligência na gênese do universo no Timeu de Platão
Felipe Tupinambá - UFPB

Timeu é uma conversação entre quatro personagens: Sócrates, Timeu, Crítias e Hermócrates. Objetivamos aqui apresentar sua introdução (17c-27a) e o primeiro discurso de Timeu sobre a natureza do mundo (27d-47e). Nos deteremos de maneira breve na primeira parte onde Platão, através de Crítias, apresenta a legendária história de Atlântida como sendo a realização da sociedade ideal no mundo físico e, mais pormenorizadamente na segunda parte, na descrição feita por Timeu da criação do universo: Seu criado; Os elementos de sua constituição; As características do Cosmo; Os corpos celestes; o Ser humano: alma, corpo e suas partes.
 

MARXISMO E CULTURA NO CAPITALISMO AVANÇADO
Fernando Magalhães - UFPE

A globalização constitui-se em um processo complexo e de múltiplos enfoques. Embora seu campo de ação alcance as mais diversas esferas da atividade humana, o objeto primordial das análises sobre o seu desenvolvimento tem sido a economia. Naturalmente, as pesquisas sobre seus aspectos econômicos não impedem que outras áreas do conhecimento sejam, igualmente, alvo de estudos. Mas a excessiva ênfase conferida a esse terreno obscurece - ou subtrai a importância de - outras dimensões importantes, notadamente a da cultura. Uma abordagem sobre a paisagem cultural da globalização não é de fácil digestão. É suficiente mencionar as dificuldades de Samuel Huntington em encontrar uma definição aceitável para o termo cultura, ou mesmo os riscos em que incorre a interessante tese de Jean-Pierre Warnier nessa arena, ao negar a globalização das culturas, apontando para a mundialização dos bens culturais. No universo marxista, a discussão segue a mesma linha polêmica de outras correntes. Compare-se, por exemplo, os trabalhos de Jameson, da cultura como dinheiro ao de Peter Worsley, de um mundo moldado por comunidades culturais para se ter uma noção da multiplicidade de interpretações. Isso sem mencionar o fato de que muitos marxistas se posicionam contra a “cultura global”. A proposta dessa comunicação é modesta. Não tem a pretensão de invadir o solo movediço da originalidade, mas apenas debater, no sentido de provocação intelectual, algumas idéias de Marx contidas no Manifesto Comunista que não se opõem a uma globalização da cultura. Ainda que se possa reconhecer, no presente, uma hegemonia dos valores culturais de determinada sociedade, é possível afirmar, com segurança, a inexistência da globalização de outras culturas no mundo contemporâneo?
 

O Alvorecer do Idealismo alemão e o Escrito da Diferença de Hegel
Filipe Augusto Barreto Campello de Melo - UFPE

O começo do século XIX está marcado pelo debate que estava submetendo à prova a filosofia pós-kantiana e por uma nova forma de interpretar os sistemas filosóficos. O conhecimento das obras de Fichte e Schelling proporcionou a Hegel as chaves para a compreensão da problemática central do idealismo alemão. A análise de Hegel sobre os pensamentos filosóficos de Fichte e de Schelling, apresentados no assim chamado Escrito da Diferença (A Diferença dos Sistemas Filosóficos de Fichte e Schelling), marca o início da carreira filosófica de Hegel. Com esta obra Hegel intervém em um assunto principal da polêmica filosófica, pontuando as diferenças entre a concepção transcendental e a concepção especulativa e expondo sua primeira visão de uma nova fundamentação da filosofia que progressivamente haveria de alcançar formas de expressão cada vez mais elaboradas.

Diante do insucesso das tentativas de Fichte e Schelling em unificar o sujeito em natureza e espírito, Hegel constrói um sujeito como unidade-totalidade regido pela dialética hegeliana da suprassunção, cujas características começam a ser elaboradas nesta obra. Com esta obra, Hegel contribui para a discussão filosófica com temáticas e reflexões novas, além de explicitar a diferença entre o idealismo “subjetivo” de Fichte e o idealismo “objetivo” de Schelling.

Esta obra apresenta, portanto, um primeiro elemento de interesse enquanto, como primeira obra publicada por Hegel, nos mostra um filósofo da sua grandeza que se posiciona diante da evolução do pensamento filosófico que o conduziu até à sua filosofia, examinando o pensamento dos autores que o precederam e concedendo-lhes uma posição e um papel.

Com o Escrito da Diferença, Hegel não faz apenas uma explanação imparcial dos sistemas de Fichte e Schelling, mas realiza uma interpretação própria, com elementos e contribuições que iniciam a constituir a identidade particular do pensamento hegeliano. No período de elaboração desta obra, o jovem Hegel está buscando sua autonomia de posicionamento filosófico, e o método que segue é o da discussão (auseinandersetzung) com os filósofos precedentes. Como se procura mostrar nesse trabalho, Hegel chega ao seu próprio sistema absorvendo os pensamentos filosóficos precedentes, compreendendo-os e superando-os.
 

O tempo como questão fundamental na analítica do ser-aí em Ser e Tempo de Martin Heidegger
Fillipa Carneiro Silveira - UFC

Este trabalho tem por objetivo explicitar de modo preliminar em que sentido a noção de tempo se apresenta como questão central na primeira fase do pensamento de Martin Heidegger, mais especificamente na obra Ser e Tempo. Tendo como questão fundamental a pergunta pelo sentido do ser, Heidegger aponta como primeiro passo desta reflexão a análise do ser-aí enquanto ente que coloca esta pergunta. Este movimento faz surgir a noção de temporalidade (Zeitlichkeit) como questão central para a compreensão do ser do ser-aí, como a passagem deste para a pre-sença. A pesquisa foi desenvolvida a partir de uma leitura do parágrafo quinto de Ser e Tempo, onde a importância da temporalidade é apontada pela primeira vez na obra, bem como de uma conferência que a precede cronologicamente, e onde já se pode vislumbrar os primeiros ensaios sobre esta questão, intitulada Der Begriff der Zeit, de 1924. Sempre na perspectiva de apontar para um “pensar originário”, Heidegger proporá um novo estatuto ontológico da noção de tempo, distinguindo o que ele chama de “noção vulgar” (o modo como a tradição pensou o tempo, enquanto critério ontológico de distinção entre seres temporais e entes que são, apesar e para além do tempo) e o tempo enquanto característica central do ser-aí; como horizonte de compreensão do ser. Neste mesmo movimento dá-se uma outra distinção fundamental: entre a temporalidade, enquanto sentido fundamental do ser-aí e temporariedade (Temporalität), enquanto determinação originária do ser e de seus modos.
 

Jean-Paul Sartre - um pensador do século XXI
Francisco Júnior Damasceno Paiva - UFPB

A trajetória de Jean-Paul Sartre(1905-1980) é marcada por profundas transformações. O mestre do existencialismo francês é também o mais legítimo representante do intelectual militante do nosso século. A grande mudança na filosofia sartriana se dá justamente com a introdução do conceito de história no seu pensamento. Por isso, alguns críticos e intérpretes, destacando as diferenças entre O Ser e o Nada e a Crítica da Razão Dialética, chegam a considerar que há um primeiro e um segundo Sartre. Podemos observar, no entanto, que não há rupturas, mas uma unidade em sua obra, o que nos permite falar em evolução do pensamento sartriano. Mas essa evolução não é só teórica ou uma mudança de conceitos e categorias. É, principalmente, uma transformação prática, fruto de seu engajamento, de sua militância política. Ela é perceptível já em O Existencialismo é um humanismo, sendo mais nítida em Questões de Método e na Crítica da Razão Dialética. Nestas obras, Sartre apresenta a sua noção de liberdade dentro do contexto da escassez e pensa o homem a partir da materialidade. Com a introdução do conceito de práxis, o existencialismo encontra seu lugar no seio do próprio marxismo. O existencialismo deve iluminar o saber marxista e ajudá-lo a construir um verdadeiro conhecimento do homem concreto. Sartre considera o marxismo a filosofia insuperável do nosso tempo. Uma leitura atenta da Crítica da Razão Dialética revela-nos a vitalidade, ao mesmo tempo, do marxismo e do pensamento sartriano nos nossos dias. A contribuição de Jean-Paul Sartre, enquanto intelectual e militante, homem de pensamento e de ação; tanto na literatura, no teatro, na política como na filosofia; permanece de valor inestimável. As questões suscitadas por Sartre continuam ainda hoje , no centenário do seu nascimento, pertinentes e extremamente atuais, a desafiar a humanidade e certamente será assim nos próximos cem anos.

 

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