III ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DE FILOSOFIA
UFPE-UFPB-UFRN
13-15 de junho de 2005 / Recife, Pernambuco
Tema: "Ciência, Existência e Poder"

Os resumos estão organizados em ordem alfabética.
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As definições de substância, atributos e modos enunciados na Ética de Benedictus de Spinoza
Francisco Gledson Girão de Souza

Nossa comunicação é uma exposição das definições de Substância, Atributos e Modos enunciados na Ética de Benedictus de Spinoza. Na Parte 1 de sua obra "Ética Demonstrada em ordem Geométrica", Spinoza desenvolve uma nova concepção de Deus, inteiramente diferente da que se tinha até então. Spinoza expõe um Deus cuja existência não é mais demonstrada a partir de uma teologia revelada, mas perfeitamente compreensível de maneira racional. Em sua obra, Spinoza define Deus como o ser "absolutamente infinito" que consta de infinitos atributos, dos quais cada um destes exprimem sua essência como eterna e infinita. A Substância é aquilo cuja concepção não necessita da concepção de outra coisa, é algo de que podemos formular uma idéia cuja natureza pode ser compreendida sem a ajuda de qualquer coisa exterior, anterior a todas as coisas e constituída de infinitos atributos. Spinoza defende em seu pensamento a existência de uma única substância, da qual provêm todas as demais coisas, também existentes. Os atributos ou propriedades são no pensamento spinozista como condições de possibilidade para que a noção de substância chegue ao entendimento humano, ou seja, os atributos expressam a essência da substância. Sendo o atributo expressão da substância, ele também deve ser, como ela, concebido por si, ou seja, também possui uma certa independência em relação à sua origem, e tudo o que resultar de qualquer atributo também deve ser eterno e infinito pelo mesmo atributo.A Substância possui infinitos atributos, porém, o entendimento humano identifica apenas dois deles: o pensamento (res cogitans) e a extensão (res extensa). Ao contrário da substância, os modos são os que não podem existir independentemente, mas somente em alguma outra coisa, da qual dependem, ou seja, os modos têm sua causa, o seu princípio, em algo que é exterior a eles. O modo tem sentido de acidente, ou seja, a existência modal não é autônoma, mas o existir por outra coisa não quer dizer que exista nela como conteúdo.
 

Considerações sobre Richard Rorty
Giovanni da Silva de Queiroz - UFPB

Dois textos recentes de autores brasileiros, apoiados em tradições filosóficas distintas, discutem o pensamento de Richard Rorty. O primeiro deles é uma resenha de Para realizar a América (PIZA, Suze de Oliveira. Para realizar a América, de Richard Rorty, e sua recepção no Brasil, Crítica Marxista, São Paulo, n. 17, p. 131-140, nov. 2003). A autora, Suze de Oliveira Piza, faz uma pequena apresentação de Richard Rorty, dizendo ser um dos filósofos mais festejados no meio acadêmico contemporâneo; que ele se apresenta como burguês liberal pós-moderno (ou como liberal romântico burguês), que acredita em reformas gradativas que façam avançar a solidariedade, a justiça econômica e a liberdade dos cidadãos. O segundo texto intitula-se “O Relativismo como contraponto”, de autoria de Bento Prado Jr (in _____. Erro, ilusão, loucura: ensaios. Rio de Janeiro: Editora 34, 2004, p. 199-223.). Neste, Richard Rorty é apresentado como herdeiro da velha sofística grega, partidário de uma epistemologia niilista (ou antiepistemologia) que, por recusar o fundacionalismo, abre a porta ao relativismo. Esta forma de fazer filosofia, porque despreza qualquer dogmatismo, importa-se com a consistência de versões, descrições e, sobretudo, com re-descrições que são aberturas de novas formas possíveis de pensamento ou de ação. Nosso trabalho discute as duas críticas apresentadas, situando Richard Rorty no pensamento contemporâneo e defende, ao final, a proposta rortyana de fazer filosofia.
 

A ETICIDADE COMO PROPOSTA IRREVOGÁVEL NA TEORIA EDUCACIONAL DE ROUSSEAU
GLÁUCIA LIMA DE SOUZA

Falar de educação, no contexto proposto por Rousseau, é buscar se apoderar de toda a dimensão ética e moral que permeia as obras do autor. É fundamental perceber que Rousseau contextualiza, no decorrer de seus escritos, as peculiaridades que validam a real educação, que só pode ser pautada na honradez do conceito ético e moral que viabiliza a lapidação do indivíduo e subjazem sua dimensão magistral. Rousseau, então, nos convida a iniciar uma criteriosa reflexão acerca das singularidades que justificam essa educação que, ao assumir uma perspectiva ética-moral, lança mão de uma possibilidade bem mais eficaz do que a que reduz a educação a reproduzir adestramentos inválidos. Ao contrário, Rousseau eleva a educação ao patamar irrevogável de tornar o indivíduo sujeito de sua própria vida, ou seja, a educação, a ótica rousseauniana, é uma chamada à aclamação da autonomia do ser, observando que seu papel não se restringe há um repasse mecanicista de conteúdos, mas consiste no encontro dos conteúdos necessários com o exercício crítico da ética moralizante imprescindível para conduzir o ser humano ao que ele pode ser de melhor. Para tanto, Rousseau dinamiza, em cada etapa da formação do sujeito, os inevitáveis aspectos que dão margem a esta educação, que deve ser respeitada como uma herança de identificação do sujeito, permitindo fazê-lo tutor de si mesmo e parte integrante do meio de forma eficaz. Cada momento deve ser explorado e respeitado como degrau necessário para o aprimoramento do indivíduo. Contudo, deve-se observar que só o que é útil pode contribuir para a educação do sujeito, a fim de propiciar a germinação da semente do bem que nele reside, respaldando-o enquanto ser humano. A educação rousseauniana é a que viabiliza a autonomia do sujeito, quando este se encontra no ápice de sua integridade, pois busca fundamentar-se e elevar-se no que for bom e útil, através do exercício de sua própria natureza que lhe conduzirá á uma formação concisa e plena de valores. Assim, Rousseau traz à educação seu valor ético, e faz dela o mecanismo mais eficaz de engrandecimento do indivíduo.
 

A PROBLEMÁTICA DO SUJEITO NOS MANUSCRITOS ECONÔMICO-FILOSÓFICOS: um estudo acerca das raízes filosóficas do marxismo
Gutemberg Silva Miranda

Os Manuscritos Econômico-Filosóficos representam uma fase do pensamento de Marx profundamente influenciada pelas idéias de Hegel e Feuerbach, que serviram de base não apenas para sua concepção em torno do sujeito, mas sobretudo para sua formação político-filosófica em geral. A inversão materialista da dialética hegeliana, ao lado do humanismo de Feuerbach, constituem as mais importantes fontes da filosofia do Jovem Marx, que pode ser sintetizada como uma tentativa de superar a inversão da essência humana produzida pela subordinação do homem ao produto de seu trabalho. Ao propor um novo olhar sobre o sujeito, indicando a impossibilidade de sua efetivação no sistema capitalista de produção, Marx proporá também um novo conceito do homem, que já não poderia ser enxergado de forma compartimentada, mas tão somente em sua unidade com a natureza, com a sociedade, e consigo mesmo. Dessa forma, o indivíduo passa a ser visto como um “ente-espécie”, cujas necessidades ao invés de um entrave, deveriam ser a meta de todas as riquezas desdobradas de nossos esforços. Pretendemos demonstrar os traços singulares dessa visão em torno dos problemas subjetivos, e a preocupação marxiana em superar o olhar fragmentado da metafísica, que sempre encarou o sujeito como uma entidade abstrata e inumana, cindido da realidade social que o forjou historicamente. Por fim, pretendemos demonstrar que, a partir dos Manuscritos Econômico-Filosóficos, que só foram publicados em 1932, o marxismo passou por um intenso processo de reinterpretação, e seus fundamentos subjetivos e antropológicos foram profundamente redimensionados.
 

A fundamentação da Bioética a partir da Ética da Responsabilidade de Hans Jonas
Harim

Nosso trabalho se propõe a apresentar duas grandes correntes vigentes na Bioética hoje, a saber: a pragmático-utilitária, com forte respaldo nos EUA, e a de tradição humanista, mais expressiva na Europa. Teremos como principal incumbência, confrontar criticamente estas duas posições, tendo como veio crítico a análise crítica joniana sobre os projetos éticos adotados por estas duas perspectivas, propondo-se a fazer uma desconstrução destes projetos éticos a partir da análise empreendida por ele na sua obra O Princípio de Responsabilidade.
 

Hegel: História e Necessidade
Hildemar de Araújo Bezerra

A leitura da filosofia da história, de Hegel, nos remete de imediato a uma ligação intrínseca entre a História e a Necessidade de seus fatos; isto é, a partir de um Telos histórico (o progresso na consciência da liberdade), o qual é o doador de uma unidade de sentido racional à história, fica justificada a Necessidade de tais fatos. Isso implica duas coisas: 1) um realismo político ao estilo de Maquiavel (mas um realismo justificado por um telos), no sentido de que não se pode negar a realidade das relações morais e políticas tal como se nos apresentam na história, idealizando assim, construções abstratas; 2) em decorrência disso, o trabalho do Filósofo torna-se uma espécie de hermenêutica, a qual quer apreender os aspectos positivos de seu objeto, penetrando nele, antes que faça uma crítica negativa dele. Para Hegel, a busca desses aspectos positivos é o próprio trabalho da Filosofia, donde daí, o objetivo desse trabalho é mostrar, a partir da Filosofia da História, como tal idéia se desdobra.
 

Freud na política - uma impressão derridiana
Hugo Bezerra Tiburtino - UFPE

Em Mal de Arquivo - uma impressão freudiana e em Estados-da-alma da psicanálise: o impossível para além da soberana crueldade, Derrida busca incluir a psicanálise no campo de discussões políticas e sociais vigentes. Essa entrada psicanalítica não é apenas como um coadjuvante, que vem apenas para complementar a cena e mantê-la intacta; assemelha-se, bem mais, a vinda de um novo autor, que discute em profundidade e reescrever fundamentalmente a nossa visão de política. Obviamente, no entanto, o Freud de Derrida é já o de uma interpretação bastante pós-moderna, que trabalha no âmbito da crítica da metafísica da presença e do sujeito, qual metafísica se disseminou em todos os âmbitos da vida ocidental e hoje, apesar do abalo do inconsciente, comanda as principais estruturas sociais. O filósofo argelino parte, então, mais daquilo que a psicanálise tem a dar (aquilo que chama à psicanálise ou o que a psicanálise chama), do que da psicanálise em si, tal qual foi na história. E apesar das muitas polêmicas que se possa levantar, Derrida tem a mérito de conseguir, ainda que com uma hermenêutica muito heterodoxa, trazer os conceitos psicanalíticos para um contexto mais próximo das questões éticas, políticas e jurídicas. O retrato (mal tirado, diga-se de passagem) dessa contribuição derridiana é esse nosso documento, onde nos concentramos, com as duas obras citadas, nas críticas e desconstrução da atual visão de política, sobrando tempo, ainda que pouco, para tentar entrever uma possível reconstrução da política, mesmo que fosse necessário descartar essa palavra ou seu conceito.
 

OS FILÓSOFOS E O PODER
Inácio Strieder - UFPE

Muitas vezes se polemiza sobre a função do filósofo em nossa sociedade. E há os que alegam que a função do filósofo é apenas a de intérprete dos acontecimentos. Outros defendem a necessidade de o filósofo assumir posições frente ao mundo real, e se engajar para contribuir na transformação da sociedade. Esta última parece ser a mais adequada ao sentido da filosofia na civilização ocidental. Já os sofistas se envolviam com o jogo do poder político. Também Sócrates, Platão e Aristóteles são protótipos de filósofos preocupados com o poder político. Os estóicos romanos (Sêneca, Marco Aurélio) são homens do poder. Agostinho fala das duas cidades. Tomás de Aquino reflete sobre a justiça e os sistemas de governo. Maquiavel aconselha os príncipes. Os filósofos iluministas são os ideólogos da revolução francesa. Posteriormente, Kant, Hegel, Marx analisaram e interpretaram questões de poder político e religioso E até hoje os grandes filósofos se preocupam em discutir e se aproximar do exercício do poder. E todos os governos (democráticos ou ditatoriais) procuram filósofos para legitimarem seu sistema de governo. Na minha comunicação pretendo analisar a atitude que os filósofos de hoje deveriam ter com relação ao exercício dos poderes que interferem em nossa vida.
 

A atividade do trabalho livre, como fundamento da ética marxiana
Inaldo Inácio da Silva - UFPB

Esta comunicação visa discutir a importância do trabalho livre para a ética marxiana. O tema central de Marx é a transformação do trabalho alienado e desprovido de significado, em trabalho produtivo e livre, definido por ele como “auto-criação”. Ao analisar a produção capitalista, Marx crítica a Economia Política por omitir a alienação do trabalho e ratificar a propriedade privada, oriunda do trabalho explorado. A critica marxiana ao Capitalismo, diz respeito ao fato deste Sistema perverter as relações sociais de produção e transformar o trabalho em trabalho forçado, alienado. Sendo assim, Marx entende que a liberdade humana só pó ser resgatada nas relações de produção, com a luta histórica do proletariado. Entendemos que ao propor o resgate do trabalho como atividade livre, Marx contribui para a formação de uma ética, uma ética libertadora, fundada não no idealismo, mas no ser concreto, o homem real.
 

CORPO E ALTERIDADE EM SARTRE: O OUTRO COMO APARIÇÃO DO OLHAR
IRAQUITAN DE OLIVEIRA CAMINHA - UFPB

Nosso objetivo é examinar, segundo Sartre, o problema da alteridade a partir de um retorno radical à experiência do outro. Não se trata aqui de saber como o conhecimento do outro é possível, mas de explicitar o sentido mesmo de se estar em contato com o outro. Propomos analisar a percepção do outro como uma questão de natureza ontológica e não epistemológica. Tanto o eu como o outro não são puras interioridades. Caso um sujeito fosse pura interioridade, ele seria inacessível como outro. Ser consciência é sempre ser no mundo como existência corporal. É neste contexto que Sartre situa a problemática da experiência do outro como experiência da aparição do olhar. A relação fundamental que um sujeito tem com um outro sujeito se manifesta pela possibilidade permanente de ser visto por outrem. É pelo olhar que o outro é percebido como sujeito e não como objeto.

 

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