III ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DE FILOSOFIA
UFPE-UFPB-UFRN
13-15 de junho de 2005 / Recife, Pernambuco
Tema: "Ciência, Existência e Poder"

Os resumos estão organizados em ordem alfabética.
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Parmênides e Heráclito: duas concepções do logos
Pierre Mignac de Lira - UFPE

Com o advento da filosofia na Grécia Antiga - mais especificamente na ilha de Mileto com Tales e os seus discípulos - o homem deixa de observar a physis apenas do ponto de vista mítico-religioso, e passa a investigar a realidade em sua estrutura primordial; tenta descobrir o fundamento e o princípio de todas as coisas, a arché. Nesse período em que a filosofia dava os seus primeiros passos, surgiram dois filósofos que marcaram todo o pensamento ocidental: Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia. Este, ao proclamar que tudo é, e que não há movimento, estabelece a validade do ser para todas as coisas; aquele, ao afirmar que o não-ser caminha ao lado do ser capta a realidade da forma como ela se apresenta; estabelecendo, assim, o devir como fundamento último das coisas. Evidentemente o tema proposto por nós não pretende resolver as aporias que surgem da tentativa de unir ou afirmar uma dessas teorias como a mais verdadeira. Mas, temos como objetivo principal: a) fazer uma exposição analítica das principais concepções filosóficas de Parmênides e Heráclito b) e em seguida tentar mostrar algumas críticas feitas por Platão, no dialogo Sofista, as idéias desses dois filósofos pré-socráticos que tanto influenciaram o modo de pensar da civilização ocidental. Palavras-chave: ser; não-ser; devir; movimento, logos.
 
Fenomenologia em Vilém Flusser
Rachel Costa - UFRN

Pretendemos com nossa comunicação discorrer sobre o método fenomenológico utilizado por Vilém Flusser (filósofo Tcheco naturalizado brasileiro). Ele é um exemplo da corrente filosófica que se funda a partir de Edmund Husserl e que se desdobrou em formas singulares de fazer fenomenologia, de acordo com cada autor. Flusser utiliza-se da redução fenomenológica em seus textos de modo original e instigante, o seu “colocar entre parentênses” está presente em suas entrelinhas, algumas vezes quase que imperceptivelmente. Assim, nosso objetivo é mostrar essa originalidade de Flusser através de exemplos retirados de seus textos, tendo como base a fenomenologia husserliana, da qual ele se diz um adepto.
 
O FUNDAMENTO MORAL DA PENA EM KANT
RITA DE CÁSSIA SOUZA TABOSA FREITAS - UFPB

Kant é um defensor do regime racional da pena. Para se aplicar à pena é necessário, segundo o filósofo, que o homem seja uma criatura moral e racional. Como ser moral, o homem é dotado de vontade, e se esta não é boa, o homem age em prol da sua própria felicidade em detrimento dos interesses da sociedade e pode cometer um delito pelo mal radical que está nele. Mesmo na qualidade de criminoso, todo cidadão é co-legislador e deseja que a pena seja aplicada contra quem comete um crime, mesmo que ele seja o criminoso. O criminoso, além de ser punido pelo soberano, é punido também pela sua pura razão jurídica legislativa.
Todo homem, enquanto ser metafísico, deseja que todo delito cometido seja punível, por ser a sociedade mais importante que o indivíduo, pelo fato da honra ser superior aos interesses cotidianos; essa decisão é tomada por seu “eu legislador a priori”. A punição, em Kant, está relacionada à separação dos sujeitos: o sujeito puro que co-legisla e do “eu empírico” que sofre com a determinação da pena. Essa divisão encontra-se estabelecida no interior do homem, de modo que o sujeito puro exige a punição enquanto o “eu empírico” sofre as conseqüências.
O direito de punir tem a sua raiz no imperativo categórico, pois este, sendo uma regra prática, visa que uma ação contingente se converta em necessária, impondo a cada ação um caráter de universalidade e necessidade, harmonizando o sujeito que pratica a ação com o cumprimento do dever.
Historicamente, Kant representa um marco na defesa da dignidade humana, pois ele “representa a fundação absoluta do homem como objeto incondicional de respeito e sujeito de uma dignidade inalienável” (Garapon, 2001, p. 42). Os motivos para dignificar o homem são os mesmos para puni-lo com demasiado rigor. Quando se considera o foro interno do criminoso, a sua história pessoal, se lhe retira a sua dignidade, o seu respeito pessoal. Kant, ao vincular a dignidade ao homem, afirma que ela é tudo, salvo os seus sentimentos. Ser passível de punição, em Kant, é ser livre, é ser autônomo.
 
Sobre o Nome da Rosa
Roberto Cardoso da Cunha - UECE

Sabe-se que, às questões formuladas por Porfírio sobre a natureza dos universais, Pedro Abelardo, em sua Logica Ingredientibus, acrescenta uma quarta: "se é necessário que os gêneros e as espécies tenham alguma coisa que se lhe sujeite pela denominação", em outras palavras, "se essas coisas denominadas fossem destruídas, se poderia, ainda, o universal consistir apenas no significado intelectivo". Sua resposta é dada em dois momentos: primeiramente, não se pode de modo algum querer que os nomes universais existam quando cessam de existir as coisas que eles nomeiam. Não havendo predicação de muitos, cessa também a universalidade (nesse sentido estrito). Por outro lado, encerrada a universalidade quanto à nomeação, resta um aspecto positivo da universalidade dos nomes: "como ocorre com o nome da rosa, quando já não existem mais rosas", não mais havendo nomeação persiste ainda a significação, senão não haveria qualquer sentido para a proposição "nenhuma rosa existe". Se, portanto, não resta dúvida quanto ao anti-realismo da filosofia de Abelardo, cabe ressaltar que, para nós, a importância desse anti-realismo parece enraizar-se antes nesse deslocamento do problema da nomeação para o da significação, que nas críticas aos chamados realistas exagerados (por exemplo, seu antigo mestre Guilherme de Champeaux). Assim, parece-nos ser esse o motivo pelo qual, Abelardo se vê obrigado a elucidar o modo como se obtém o significado dos universais (condição sine qua non para a resolução do "questionário" e, de certo modo, uma antecipação às respostas dadas). Ora, o universal é obtido por meio da abstração, isso nos remete diretamente para a distinção entre o modo de entender (inteligir) e o modo de subsistir e, na medida em que, é a intelecção que considera as coisas separadamente, por meio da abstração, compreender o modo próprio de significação do universal é também compreender as ações e as faculdades da alma. A questão que pretendemos desenvolver é sobre a possibilidade de compreender o modo próprio de significação do universal, ou seja, o conteúdo exposto na Logica Ingredientibus, a partir da compreensão sobre a intelecção exposta no Tractatus de Intellectibus.
 
CRÍTICA E DIALÉTICA EM ROBERTO SCHWARZ
Romero Venancio - UFS

A nossa comunicação tem por objetivo apresentar e problematizar a articulação entre forma literária e processo social na crítica marxista de Roberto Schwarz. Tomamos como referência dois textos do crítico paulista: Pressupostos, salvo engano, de "dialética da malandragem" e Acumulação literária e Nação periférica.
Nos situamos nas linhas dos seguintes comentadores: Paulo Arantes, Bento Prado Junior, Sérgo Paulo Rouanet, Maria Elisa Cevasco e Francisco Alambert.
 
Da posição do niilismo na filosofia de Nietzsche
Selma Regina Nóbrega de Albuquerque - UFPB

O objetivo deste trabalho é demonstrar, no rastro do pensamento nietzschiano, como o advento do niilismo é a conseqüência da desvalorização dos valores morais, metafísicos e religiosos da tradição ocidental, que tem a mesma raiz comum, ou seja, são fruto de uma interpretação moral da existência e do mundo. Desse modo, a questão do niilismo assume em Nietzsche o estatuto de uma questão fundamental, mediante a qual a experiência da instauração e dissolução dos valores morais é trazida à problematização filosófica, para explicitar sua origem, seu transcurso e os âmbitos nos quais a moral se desenvolve.
 
A PEQUENA ÉTICA DE PAUL RICOEUR - ARISTÓTELES E A COMPONENTE DA VIDA BOA
SÉRGIO RICARDO VIEIRA RAMOS - UFPE

Esta reflexão procura chegar até ao conceito ricoeuriano de vida boa ou de bem viver marcadamente orientado pela ética aristotélica e que representa a primeira componente daquilo que Paul Ricoeur denomina ética fundamental ou intenção ética que, por sua vez, corresponde ao primeiro nível de sua leitura ética da hermenêutica do si. A hermenêutica do si que vem confrontar com o conflito rumoroso entre as radicalidades antípodas da militância e da dissidência no cogito e que apresenta-se, portanto, como uma alternativa situada à igual distância das duas posições em questão.
Os passos que percorremos pretenderam alcançar o conceito de vida boa ou bem viver, básico para a arquitetônica da pequena ética. Para tanto, procurou-se:
i. posicionar a pequena ética no conjunto de pesquisas que correspondem para Ricoeur ao trabalho levado a termo pela hermenêutica do si, acrescentando, doutra parte, uma reflexão sobre a importância e a necessidade da pequena ética. Então, com estes três quesitos - posição, importância, necessidade - propusemos o sentido da pequena ética;
ii. refletir a problemática da pequena ética, vinculado numa antropologia e numa ontologia, orientada sob as credenciais das categorias subjacentes a hermenêutica, em especial a hermenêutica do si. Adiantamos, nesse sentido, que não refletimos a pequena ética como problema, quer dizer, sua possibilidade.
iii. O lugar da intenção ética na estrutura específica da ordem prática, onde se destaca,
iv. A vida boa, exemplarmente investigada por Aristóteles.
 
A Utopia de Campanella e o Renascimento
Solange Rodrigues - UFRN

O período do Renascimento na História do homem trouxe a aventura e a ousadia. A busca por uma “certa” independência dos ditames divinos da Idade Média surpreendeu com muitas novidades expressas no que poderíamos chamar de progresso. A maioria destas novidades foi tratada com muita originalidade nesse período, consequenciando uma nova postura diante do mundo.
A partir desta contextualização histórica, apresentaremos A Cidade do Sol, de Tommaso Campanella, fazendo inferências entre o termo Utopia e seu significado para o renascentista.
 
A Abordagem Conexionista na Filosofia da Mente
Sorainy de Oliveira Mangueira - UFPB

Segundo a abordagem conexionista, o cérebro funciona de modo semelhante a processadores ligados em paralelo. Enquanto que no cérebro o processamento das informações é feito através das conexões entre os neurônios, no modelo computacional este processamento se efetuará artificialmente, através de redes de processadores interligados, que tentam simular o processamento de informações que é efetuado naturalmente pelo cérebro. A intrincada conexão entre os processadores é um modelo que tenta simular a complexa relação que os neurônios estabelecem entre si, as sinapses, com vistas a processar as informações que chegam até o cérebro. Tal abordagem é muito criticada, pois, por mais promissor que seja um modelo artificial de mente-cérebro, esse modelo estará sempre agindo programado por regras sintáticas, e a mente humana, só referente à linguagem, funciona considerando toda a semiologia: a sintaxe, a semântica e a pragmática; mas não podemos deixar de considerar a importância de se estudar A Abordagem Conexionista, pois a mente humana ainda é um dos principais focos das especulações filosóficas, devido ao seu grau de obscuridade e de complexidade, portanto, qualquer prática de simulação da mente humana feita de forma artificial tende a mexer com todas as teorias das Ciências Cognitivas. Afinal, se as ações mentais humanas e manifestas podem ser naturalmente simuladas de forma artificial, de forma programada, será, a mente humana, um grandioso e complexo programa de processamento de informações?
 
Elementos para uma epistemologia não-representacional
Suely Figueiredo - AESO / UNIVERSO

A filosofia moderna partiu, com Descartes, Hume e Kant, da idéia de que a mente cria a representação e chegou, com Wittgenstein e a filosofia analítica, à idéia contrária de que a representação cria a mente. Estamos agora prontos para dissolver essa tensão dialética, explicitando uma nova base paradigmática que não considere, como ponto de partida, a dicotomia entre representação e mundo: a epistemologia não-representacional.
Essa nova epistemologia deve incorporar elementos da epistemologia da complexidade, desenvolvida a partir da filosofia de Morin e Prigogine, pois a representação não acontece entre a fé perceptiva e o efeito mental, como se o ser fosse algo isolado do mundo. O efeito de representação acontece com o homem-no-meio. A projeção da relação homem/meio como um sistema complexo demonstra que, entre homem e meio, há uma troca de informações que garante, pelo menos, a sustentabilidade desses sistemas -homem e ambiente - como tal. Troca implica captar informações do meio, processá-las e estruturá-las de forma que, quando enviadas ao meio, esse compreenda e responda como o esperado.
A proposta de uma epistemologia não-representacional entende, também, que essa geração de uma aparência de exterioridade do mundo pelo nosso equipamento cognitivo não é o fundamento de nossa percepção, mas algo que ocorre no interior do sistema homem/meio e que tem no corpo que se auto-locomove a interface das informações que transitam do meio físico ao mental e vice-versa. Recentes estudos sobre uma filosofia da mente, de autores como Dennett e Searle, vêm discutindo modelos cognitivos que compreendem a mente como um efeito do corpo e a informação como a base constitutiva de toda essa estruturação. A elaboração do modelo cognitivo de mente enquanto corpo oferece um terreno sólido para a construção de uma epistemologia não-representacional.
Se, de acordo com a proposta epistemológica que ora construímos, o corpo opera toda a comunicação entre ser e meio ambiente, a representação não implicará algo em oposição ao mundo. Se pudermos estabelecer uma relação de gênese entre o elemento material corpo e o fundamento da representação mental do exterior, estaremos evidenciando outro vínculo extra-simbólico entre o que chamamos de representação e o meio.

 

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