III ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DE FILOSOFIA
UFPE-UFPB-UFRN
13-15 de junho de 2005 / Recife, Pernambuco
Tema: "Ciência, Existência e Poder"
Os resumos estão organizados em
ordem alfabética.
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A relação entre o mundo sensível e o
inteligível na filosofia de Plotino Nas Enéadas, Plotino apresenta como tese
fundamental a distinção entre o mundo inteligível e o mundo sensível. Distinção
esta que apresenta um grave problema, tendo em vista que o sistema plotiniano se
pretende essencialmente monista. Ou seja, se partirmos do pressuposto segundo o
qual o sistema de Plotino é monista, como de fato o próprio pretendia, a
distinção entre os dois mundos necessita de uma justificativa. O presente
trabalho, portanto, visa a uma apreciação da resposta oferecida por Plotino no
que respeita especificamente à passagem (processão) ontológica da dimensão do
incorpóreo para a do corpóreo, pois, segundo Plotino, apenas há uma única
realidade, a saber, o Uno, do qual todas as coisas procedem. Dessa forma, os
dois mundos, o sensível e o inteligível, participam desta única realidade, e a
processão do incorpóreo para o corpóreo se afigura como necessária. E do
resultado de tal processão fica eliminado o caráter dualista, uma vez que a
matéria é tida como não subsistente, o que acaba por garantir que o sistema
plotiniano deve, sim, ser considerado monista, pois o mundo sensível não foi
produzido do nada. |
O Devir em Hegel Dentro do sistema hegeliano, o devir tem
um caráter importantíssimo, pois - representando a lembrança do movimento
efetuado pela consciência, durante o seu processo de descobrimento - garante que
a verdade seja percebida na sua totalidade, passando a ser encarada não mais
como um alvo que pode ser alcançado de imediato ou por uma revelação, mas
essencialmente como algo que demanda desenvolvimento para mostrar-se. Este
trabalho pretende fazer uma pequena, mas significativa exposição, sobre como o
vir a ser na história da humanidade corresponde à própria manifestação do
Absoluto - que se faz mundo para conhecer-se; de como é imprescindível ao
sistema de Hegel a adoção de uma lógica polivalente, para que, dessa maneira,
seja evidenciado o valor e a necessidade da série sucessiva de figuras que
compõem a vida do Todo; analisa-se também, o papel que a negatividade assume
dentro do processo dialético, permitindo e determinando o surgimento dos
estágios do saber. E por fim, esclarece sobre a necessidade do Absoluto ser
entendido não como substância, mas sujeito. |
Ação e controle consciente Um dos problemas do estudo da ação é saber
o que faz com que uma ação voluntária seja uma ação. Esta comunicação trata de
um dos pré-requisitos mais importantes para que uma ação seja considerada
voluntária: saber se o agente tem um controle consciente sobre as partes do
corpo com as quais ele realiza a ação. Pois se ele não tem controle,
dificilmente podemos responsabilizá-lo(a) por sua ação. No entanto, como podemos
saber se de fato temos controle sobre nossos membros e conseqüentemente sobre as
nossas ações? Esta é uma das questões que Benjamin Libet endereçou quando
realizou uma experiência que pode nos ajudar a entender se temos controle
consciente e como funcionaria o controle consciente na ação voluntária. Ele
conseguiu marcar o momento do aparecimento de RPs (readiness potential) nos
sujeitos da experiência ao mesmo tempo em que estes prestavam atenção
introspectiva ao momento em que perceberam a intenção de agir.A diferença de
tempo entre os dois é significativa para a questão do controle consciente, mas
Libet consegue resultados ainda mais interessantes que levam à sua conclusão de
que o controle consciente se dá através do poder de vetar conscientemente as
possíveis ações. Tal conclusão tem grande relevância para as questões sobre a
responsabilidade humana e para a questão do livre arbítrio. |
DESEJO E NECESSIDADE EM CONFLITO NA ÉTICA
EPICURISTA A Filosofia de Epicuro (341 a 270 a.C)
está historicamente marcada pela perda da autonomia política grega. A
cilvilização que antes prezava pela escravidão e a superioridade do homem
genuinamente grego, absorvia novas culturas. Essas mudanças influenciaram numa
nova concepção filosófica. Diante das novas manifestações e dos valores por eles
acentuados, encontramos a filosofia de Epicuro, cuja excelência do homem é
ressaltada pelo prazer “puro” e autárquico. Em nosso trabalho, abordaremos a
filosofia Epicurista enquanto prposta de afastamento do convívio em sociedade e
um tornar-se a si mesmo. Tendo como fonte básica a Epístola de Epicuro a Meneceu
(ou Carta sobre a Felicidade), desenvolveremos em nossa pesquisa a problemática
do equilíbrio humano diante do prazer Epicurista; critério de felicidade e
condutor do agir do homem. Dessa forma, o prazer no sistema filosófico de
Epicuro ressalta uma terapia antropológica cujo fundamento de realização do
homem se assenta no prazer que torna-o senhor de si mesmo, diante das desavenças
políticas assistidas pelo cidadão da polis, diante do cosmopolitismo empreendido
por Felipe e Alexandre da Macedônia. Teremos, ao longo dessa exposição,
analisado o conceito de prazer na filosofia de Epicuro, e como este pode ser
maléfico ao homem na ausência do equilíbrio entre corpo e alma. |
O primado do outro em “O ser e o nada”
de Jean Paul Sartre Da notável contribuição sartriana à
filosofia contemporânea, a questão do outro é uma das temáticas mais profundas e
interessantes neste pensador. No primeiro capítulo da terceira parte da obra "O
ser e o nada", inicia-se de fato, a discussão acerca da existência do outro e
sua relação de conflito e constante desafio com o eu. A primeira prova da
existência do outro se encontra na experiência da vergonha. Também, a
pressuposição negativa de que o outro não é o eu, constitui-se como fundamento
da relação entre eles, uma relação não cognitiva. A presença do outro, por ser
evidência, jamais poderá ser demonstrada e nem negada. Dentro do eu, há razões
suficientemente comprometedoras com o outro, as quais poderemos questionar. Num
primeiro momento, quando o eu olha o outro, o vê simplesmente como um objeto, ou
seja, há um distanciamento da ciência do eu que reduz o outro. Justamente, o
aspecto mais interessante desta questão é o do olhar do outro, pois é a partir
daí, que toda a estrutura ontológica do eu é abalada, passando-se de sujeito
para objeto. No reconhecimento da existência do outro, procura-se colocar a
reflexão da consciência do eu como um acontecimento de ordem metafísica. Enfim,
o que se pode mensurar é que a análise sartriana procura fundamentar uma
definição não totalitária da relação do eu com o outro, muito embora, esta
relação seja marcada pelo conflito e também, pelo fato de um querer dominar o
outro. Mas o objetivo central não é o da dominação e sim, o da busca do outro,
para reconhecer o eu como elo importante na relação que vai travar com ele e com
o mundo. |
A NOÇÃO DE EXPERIÊNCIA EM BENJAMIM Fundamentado no texto experiência e
pobreza, abordaremos, segundo Benjamim, as implicações por quê passou o homem a
partir do advento da primeira guerra e do progresso científico que contribuíram
para o surgimento de um novo homem. Este, segundo ele, teve sua primeira
natureza (aura) perdida para dar lugar a sua segunda natureza; a técnica,
extensão de seu corpo, onde a ética e a experiência de vida foram substituídas
pela estética, caracterizando uma negação total do homem como razão, pela falta
de autenticidade dos novos valores adquiridos, acumulando hábitos distorcidos
para adaptar-se às situações extremas. Assim sendo, a única experiência que a
geração contemporânea tem para transmitir é a experiência dolorosa e vergonhosa
da guerra cujo caráter de horror não motiva ninguém a transmitir tal
experiência: “experiência do corpo pela fome, a experiência moral pelos
políticos”. Trata-se de uma experiência não mais embasada na memória e na
contemplação que interioriza o homem, aquele que tenta estabelecer um
prolongamento entre o presente e o passado, pois é pela cultura do passado que o
homem se realiza acrescentando a si algo de espiritual, mas não é assim. O homem
contemporâneo perdeu também a noção de continuidade histórica, esquecendo o
passado como algo ultrapassado e fora de uso, até porque o próprio
desenvolvimento da sociedade moderna baseado das grandes transformações se
caracteriza pela velocidade com que as coisas acontecem em todos os âmbitos,
desvinculando o homem de suas origens e despojando-o culturalmente que Valter
Benjamim aponta como uma nova forma de miséria. Para Benjamim, barbárie adquire
um conceito novo e positivo, é a situação social e cultural em que se encontram
as pessoas. É a busca do necessário, daquele pouco que o impele a se valer do
que sobrou. Mas sempre buscando a renovação ainda que “galvanizada”. Este homem
sabe que tem que se contentar com mínimo, buscando na arte do mimetismo saídas
para suportar os reveses deste novo mundo louco que distrai e embriaga,
desvirtuando-o totalmente, e por que não dizer desumanizando-o. |
Da impossibilidade de se pensar
genuinamente o existir humano desde a metapsicologia freudiana Nos Seminários de Zollikon Heidegger faz uma reflexão sobre as ciências que meditam sobre o homem e suas patologias psíquicas, denunciando o quanto estas são servis ao modelo fisicalistas, assentadas, deste modo, nos sistemas da metafísica moderna. Aqui nos interessa o olhar heideggeriano sobre a psicanálise freudiana, especificamente quando o filósofo aponta que a tentativa de explicação dos fenômenos humanos a partir de pulsões, caracteriza metodologicamente uma ciência cuja matéria não é o homem, mas sim a mecânica. Questionando se a metapsicologia freudiana seria um método apropriado pensar o homem enquanto homem, mais precisamente, o Dasein enquanto Dasein, Heidegger desafia: “será que em toda construção freudiana da teoria da libido o homem está mesmo aí?” Pretendemos, nesta comunicação, dar voz a
esta provocação heideggeriana apontando em que medida a psicanálise freudiana,
por ser debitária da metafísica que este filósofo pretende desconstruir, não
alcança a dinâmica do existir humano tal como é pensada desde a ontologia
fundamental. Em outros termos: pleiteamos indicar que a metapsicologia de Freud
por entender o homem enquanto aparelho psíquico determinado por relações de
forças pulsionais acaba por concebê-lo como coisa objetificada, o que torna sua
linguagem inadequada para pensar genuinamente o ser-no-mundo. |
Vampira, personagem da revista em
quadrinhos X-Men, como alegoria das “moradas do ser” heideggerianas O objetivo deste artigo é analisar como as histórias em quadrinhos dos X-Men, por meio da personagem Vampira, alegorizam a filosofia de Martin Heidegger a respeito do ser. A mutação genética deu a Vampira o poder de, ao toque, absorver as essências das pessoas, incluindo memórias e habilidades. Ao tocar prolongadamente uma pessoa, pode absorver por completo sua essência, passando a ter crises geradas pelo conflito entre as personalidades das pessoas que ela tocou e sua personalidade “autêntica”. Essa trama em torno das crises de
identidade alegoriza as diversas fases da filosofia de Heidegger a respeito do
ser, desde a idéia do ser como angústia e transcendência até o conceito
heideggeriano de Logos, que considera o ser como espaço de equilíbrio
espontâneo entre o devir e a permanência. Heidegger, em suas diferentes versões,
encontra solo fértil para germinar na simbologia apreendida ao encararmos
Vampira em sua dimensão alegórica. |
Três Níveis de Ação Pretendo nesse trabalho identificar três diferentes níveis de ação que se
sobrepõem um ao outro, o da ação autônoma, o da ação voluntária não raciocinada,
e o da ação voluntária raciocinada, investigando também as relações estruturais
de pressuposição que vigem entre eles, além das de transformação de um mesmo
tipo de ação de um nível superior para um nível inferior. Adicionalmente,
mostrarei que essas distinções e mesmo as suas inter-relações encontram um
fundamento biológico e evolucionário na teoria do cérebro triúno de Paul McLean. |
O Afeto como necessário à realização da
liberdade do homem na Ética de Benedictus de Spinoza Na Parte 3 da Ética de Benedictus de Spinoza, o termo afeto (Affectus) é definido como a idéia de uma afecção (Affectio) ou modificação do corpo. Neste sentido, o presente trabalho busca demonstrar a necessidade dos afetos na realização da liberdade do homem no pensamento de Spinoza, diferenciando assim dos pensadores da tradição filosófica, que fazem consistir a liberdade num poder incondicional da vontade individual em qualquer circunstância. A liberdade em Spinoza encontra-se no ato do indivíduo em conformidade com o todo em que estes inseridos, como partes que são; e, esta totalidade é definida como Substância única absolutamente infinita ou simplesmente Deus. Neste contexto, o primeiro passo para a liberdade não pode consistir na eliminação dos afetos, pois estes também são necessários, enquanto parte de nossa natureza, e como tais, não dependem de nossa vontade e sim das leis de nossa natureza. Ser livre não será a ação de subjugar nossos afetos, ou qualquer tentativa de expurgá-los, mas sim, pelo conhecimento das leis de nossa natureza, em plena integração com o todo, conhecendo tais leis, começar a agir fundamentado nas idéias adequadas, advindas dos afetos e não fundamentado nas idéias inadequadas, advindas das paixões. Segundo Spinoza, não é uma ação que vence uma paixão, mas sim uma afecção forte que vence uma mais fraca; ora, uma afecção é forte ou fraca, a partir do objeto que é desejado seja mais real ou menos real; ou seja, mais próximo de nossa realidade, do que mais longe da mesma e, sobretudo, uma afecção é mais forte quando o objeto desta é necessário, do que quando é contingente. Neste contexto das afecções, não resta lugar para o livre-arbítrio. Portanto, o homem livre para Spinoza não deve agir baseado na vontade e fundamentando em valores. Ele deve agir apenas pela força interior de seu desejo e de sua compreensão de si. Sendo assim, estará agindo em conformidade com sua natureza. Gostaríamos de agradecer a FUNCAP pelo apoio financeiro para a realização deste projeto de pesquisa.
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