III ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DE FILOSOFIA
UFPE-UFPB-UFRN
13-15 de junho de 2005 / Recife, Pernambuco
Tema: "Ciência, Existência e Poder"

Os resumos estão organizados em ordem alfabética.
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EXPLICAÇÃO CIENTÍFICA
Adriano Marques da Silva - UFRN

Reconhecemos, vaga e intuitivamente, o termo 'explicação' como um processo através do qual obtemos respostas sobre determinados acontecimentos ou o porquê de certo estado de coisas. Sabemos também que é próprio das investigações científicas alcançar uma concepção explicativa, não a mera coleção de fatos particulares, por mais extensa que seja. O que é pois a explicação científica, qual sua natureza? Uma resposta possível ( e largamente conhecida) está na teoria de Hempel (1965), segundo a qual o fenômeno a ser explicado ( explanandum) seria conseqüência lógica do explanans ( classe de leis gerais e circunstâncias particulares do fenômeno a ser explicado), que por sua vez deve (ao menos em princípio) ser suscetível de comprovação por meio de observações empíricas.Ou seja, as explicações ( tanto as dedutivo-numológicas quanto as indutivo-estatísticas) podem e devem ser concebidas como argumentos dedutivos.

Mas será que a explicação científica pode ser analisada unicamente em termos das relações inferenciais contidas no explanans e no explanandum? O presente trabalho apresenta uma abordagem alternativa (Gardenfors, 1988),em que é posta em relevo a noção de 'circunstância epistêmica' através de um modelo probabilístico de estados epistêmicos o que, tentaremos demonstrar, fornece subsídios para uma crítica da abordagem tradicional proposta por Hempel.
 

Educação: Direito humano ou mera ideologia
Adriano Melo Medeiros - UFPE

A educação, como afirma Kant, “é o maior e mais árduo problema que pode ser proposto aos homens”, pois ela pode ser ao mesmo tempo um meio de construção de uma ordem social mais justa e um meio de escravizar o ser humano a uma determinada ordem social; ao mesmo tempo que liberta, escraviza.

Educação é poder. A serviço de quem está este poder? A educação é de fato o direito de todo ser humano de se constituir enquanto sujeito ou é uma mera ideologia a serviço da classe dominante, no intuito de manter o poder? Na tentativa de responder a tais questões, baseado nas concepções kantianas e piagetianas sobre a educação, foi feito um levantamento dos fundamentos das concepções da educação enquanto um direito humano e do processo de construção histórica desta concepção. Por meio de tal análise conclui-se que a educação é de fato um direito humano, contudo tem sido usado como argumento para a manutenção do poder pela classe dominante. Com isto, pensar a educação como um direito de todo ser humano é pensar também uma estrutura social e política onde este direito possa ser garantido.
 

Homem e Cultura
Alessandra Uchôa Sisnando - UFPE

No presente trabalho, pretendemos analisar dois aspectos fundamentais, diríamos, essenciais, da subjetividade humana. Trataremos dos temas cultura e desejo enquanto constitutivos e, porque não dizer também, enquanto construção do homem.

Cultura e desejo são temas do tipo que nunca perdem sua atualidade; entretanto, chama-nos a atenção as diferentes formas de abordagem e compreensão dos mesmos. Aqui, poderíamos nos perguntar, se todos os temas dignos de tratamento ao longo da história também não foram abordados de maneiras diversas, por diversos autores? E que sendo assim, valeria a pena mais uma vez remexer nesse baú humano?

O próprio termo utilizado acima 'cultura civilizada' já geraria por si muitas controvérsias; trata-se, antes, de definir de que forma cultura e desejo podem ser trabalhados a favor da constituição humana. No momento nos limitaremos a essa expressão, pois ainda não verificamos qual e mesmo se há alguma outra que possa substituir-lhe na compreensão da condição humana e dos muitos infortúnios que se atribuem à civilização. Tais infortúnios seriam justos? A civilização com sua ‘culturalização’ limita o homem enquanto ser de desejo? A vivência dos desejos humanos agride o processo de civilização?

Esses são alguns dos questionamentos que pretendemos abordar nesse breve trabalho, e para tanto, partiremos de duas obras de dois dos maiores pensadores da humanidade: Sigmund Freud e Georg W. F. Hegel. Utilizaremos respectivamente: O mal-estar na civilização, obra de 1929, na qual Freud expressa que o mal-estar na civilização é ocasionado pela renúncia aos instintos sexual e de agressividade; e, Lições sobre a filosofia da história universal, obra cuja primeira publicação data de 1832, mais precisamente a Introdução, na qual o filósofo condensa muito do seu sistema filosófico, buscando elucidar o homem enquanto ente simultaneamente produto e produtor de cultura. Nesse paralelo, dito aqui de forma rápida, lançaremos mão de outras obras dos autores citados, a fim de que se tornem mais evidentes divergências e convergências que possamos encontrar.
 

Da crítica à moral ao “sentido da terra” em Nietzsche
Alex Antonio Abrantes Marques Silva - UFPB

A comunicação trata da relação existente entre moral e verdade na filosofia de Friedrich Nietzsche. Evidencia, a partir da leitura do prólogo de “Assim Falou Zaratustra”, que esta relação se caracteriza como uma crítica radical ao conhecimento racional e a sua pretensão de verdade, ou seja, uma crítica à idéia de verdade considerada como “valor superior”. Destaca-se, dentro desta perspectiva, a noção relativa à “morte de Deus” como sendo fundamental para se pensar o esvaziamento dos valores metafísico-morais da tradição filosófica ocidental, que até então ocupavam o lugar de fundamento da realidade (da verdade). Enfatiza-se, tendo por base esta chave de leitura, o conceito de “sentido da terra” em conexão com o de “super-homem”, como elemento primordial para colocar em discussão a proposição nietzschiana de uma nova forma de saber, de uma outra compreensão da noção de verdade.
 

Sartre fenomenólogo
Alex Keine de Almeida Sebastião - UFMG

Trata-se de situar Sartre no âmbito da fenomenologia, especialmente a partir de referências a fragmentos das obras “A Transcendência do Ego” e “O Ser e o Nada”, apontando as influências recebidas e a interlocução estabelecida com Husserl e Heidegger. Em que Sartre se aproxima e em que ele se afasta das reflexões dos dois grandes fenomenólogos que o antecederam? De Husserl, tido como o fundador da fenomenologia, Sartre evocará a centralidade da noção de intencionalidade como atributo da consciência e criticará a postulação do Eu transcendental, considerado um retrocesso idealista. De Heidegger, serão os conceitos de autenticidade e historicidade que Sartre saudará como indispensáveis ao seu próprio pensamento, enquanto negará à morte e ao futuro o papel privilegiado que lhes é atribuído na compreensão do Dasein. Busca-se destacar a originalidade da apropriação efetuada por Sartre de conceitos basilares das obras husserliana e heideggeriana, na construção de sua própria filosofia, classificada como uma fenomenologia existencial.
 

Ética e Conhecimento no TIE de Espinosa
Alex Leite - UESB

O objetivo da comunicação é analisar a presença de um projeto ético, como preparação do caminho capaz de permitir um modo de percepção adequado das coisas. Percebe-se claramente no TIE a articulação entre o estilo de vida que o filósofo pôde criar e a elaboração de critérios fundamentais para tal percepção. Sendo assim, a criação de um estilo de vida e a necessidade de conhecer características da natureza humana, sobretudo, a força da inteligência serão os pontos centrais da comunicação. A nossa hipótese é: quanto aos modos de percepção das coisas já apontados no TIE eles nascem conforme o modo de existir e da experiência parcial de como os homens podem conhecer. A consideração inicial que chegamos é que a elaboração de uma nova maneira de viver citada no TIE estava intimamente vinculada ao trabalho de aperfeiçoamento da inteligência. Para Espinosa teve que ocorrer uma decisão existencial que o forçasse a descobrir e adquirir o melhor ângulo de percepção do real. Podemos perceber ainda, que para ele, a constituição de algumas regras de vida serviram como forma de evitar a subtração da força da inteligência. Aliás, o problema que nos parece central no TIE é o de como organizar uma maneira de viver que permita ir ao extremo da capacidade de conhecimento, isto é, um estilo que procure fortalecer a potência cognitiva do humano. Nesse sentido, regras de vida e modos de percepção do real remeteriam um ao outro segundo Espinosa.
 

Modos de Percepção e Gêneros de Conhecimento em Benedictus de Spinoza
Alexandre Magalhães de Castro - UECE

Na filosofia de Benedictus de Spinoza - racionalista holandês do século XVII -, um dos temas de maior destaque, é o que concerne aos “modos de perceber”, que são utilizados para afirmar alguma coisa de forma indubitável; ou seja, os Modos de Percepção ou Gêneros de Conhecimento. Fica evidente no discorrer do assunto que se refere, de fato, às formas de conhecer usadas em toda a tradição filosófica. A relevância do tema evidencia-se no fato do assunto ser abordado em três de suas obras: no Breve Tratado, no Tratado da Correção do Intelecto, e na Ética. Inicialmente nossa análise será restrita às duas últimas obras citadas. Assim, os dois primeiros modos de percepção no Tratado da Correção do Intelecto - equivalentes aos que pertencem ao primeiro gênero de conhecimento na Ética - são, segundo Spinoza, a espécie de conhecimento que se adquire pelo “ouvir dizer” e pela “experiência vaga”, respectivamente, não podendo assim servir como qualquer critério de verdade, além de serem a causa de nossos erros. Para efeito de comparação, podemos chamar o primeiro por “fé” e o segundo por “conhecimento indutivo”. O terceiro modo de percepção, ou segundo gênero de conhecimento, será o método “dedutivo” que, apesar de apresentar-se como seguro e também necessário na busca da “verdade” - pois é por ele que concluímos a partir de uma universal sem perigo de erro -, não é ainda o mais perfeito, pois não é capaz de perceber por si as essências das coisas. Por fim, o quarto modo de percepção, ou terceiro gênero de conhecimento, ao qual o filósofo denominará por conhecimento intuitivo, ou simplesmente, intuição, é o único que compreende a essência adequada da coisa, sem perigo de erro. É também este último, o conhecimento pelo qual devemos nos esforçar ao máximo para usá-lo, já que é somente através dele que a coisa é percebida por sua essência unicamente ou por sua causa próxima. Num segundo momento, restringiremos nossa análise no presente trabalho, ao Tratado da Correção do Intelecto, com o intuito de buscar esclarecer os possíveis pontos obscuros que possam eventualmente surgir na leitura desta ou das demais obras que tratam do assunto.
 

Rousseau e a razão iluminista
Alexsandra Sombra Lourenço - UECE

O trabalho tem como objetivo refletir sobre a real efetividade do período iluminista, através da leitura e análise do pensamento de um de seus mais ilustres filhos: Jean-Jacques Rousseau. O período iluminista, marcado pela razão e por uma supremacia da dignidade e da liberdade do homem, conhecido na história como “Século das Luzes”, pretendia retirar o homem das trevas medievais na qual a razão era vítima da imposição teológica que podava as possibilidades filosóficas e científicas de então, ao restringir o pensamento ao campo religioso, tornando a Filosofia submissa da Teologia. Esse período de luzes proporcionou um vasto horizonte de oportunidades, tanto para a filosofia quanto para a ciência e outras áreas do conhecimento, sendo subsidiado pela razão e conduzido pela liberdade, que era o bem maior reivindicado por todos. O que torna Rousseau especial dentro desse período determinado pela razão, que tudo clareia, é sua postura diante dessa tão pretensa forma de conduzir o pensamento e a vida. Rousseau não considerava a razão como única forma de retirar o homem de seu estado de servidão. Ele via a razão como traidora dos verdadeiros interesses do homem, legitimando seu estado de opressão e escravidão. Para ele, o iluminismo, com todo o seu brio inovador, não pôde libertar o homem de suas amarras, sendo incapaz de solucionar o problema da liberdade de forma eficiente e verdadeira. O que pretendemos nesse trabalho é compreender como e por que as idéias de Rousseau são consideradas fortes pontos de reflexão sobre aquela que, ainda hoje, impera absoluta sobre os pensamentos: a razão.
 

A questão da Unidade Ontológica na Física Moderna
Alexsandro Medeiros - UFPE

Steven Weinberg, Nobel de Física de 1979 e autor do livro: The First Five minutes, publicou um artigo na Edição Especial N. 8 da Scientific American do Brasil, 2005, intitulado: À procura de um universo unificado, no qual ele afirma que “O objetivo primordial da física é entender a Natureza de forma unificada” e faz um resumo de como a Física Moderna tem-se empenhando na busca de uma teoria que unifique as forças fundamentais da natureza bem como sua estrutura originária. Nos dois últimos anos temos nos empenhando em conjunto com o Prof. Witold Skwara (como bolsista do PIBIC) a trabalhar na área de Filosofia da Natureza e da qual nossa monografia (em execução) aborda, em sentido estrito, a questão da unidade ontológica no pensamento de Heisenberg e dos Pré-socráticos. Nosso intuito não é trabalhar este aspecto essencial da nossa monografia, mas trabalhar em sentido amplo a questão da unidade ontológica, tal como Steven Weinberg ressalta em seu artigo. De um modo geral, Einstein passou os últimos três últimos anos de sua vida em busca de sua teoria, embora errada, do campo unificado. Heisenberg, em seu livro Física e Filosofia, acredita poder pensar a estrutura fundamental do real a partir de uma substância originária (tal a arché dos pensadores originários) que em alemão ele chamou de Urmaterie. Stephen Hawking aborda aquela que tem sido conhecida como a Teoria da Grande Unificação, em seus livros famosos, O Universo numa casca de noz e Uma breve história do tempo, uma teoria que unifique física quântica e teoria da relatividade geral. Brian Greene, autor do livro O Universo Elegante é um dos grandes defensores da teoria das supercordas que pretende, embora não comprovado ainda experimentalmente, superar as dificuldades de unificar as três forças do Modelo Padrão com a teoria da relatividade geral. Acreditamos que a Filosofia não pode passar indiferente aos avanços da física moderna. Nossa modesta pretensão é contribuir para tornar fecundo este diálogo entre Física e Filosofia que, em sentido estrito, esteve na origem do pensar filosófico, através dos pré-socráticos.
 

O Líder do Século XXI - Ética do Reconhecimento como um novo Paradigma do agir no “mundo-do-trabalho”
Alfredo de Oliveira Moraes - UFPE

O autor se propõe a apresentar uma leitura filosófica da conjuntura atual, enfocando o entrelaçamento das dimensões econômica, política, social e do sistema educacional na formação das lideranças políticas e empresariais, destaca em sua crítica que a formação da liderança no modelo atual está aprimorado em a)prover aos líderes de uma erudição vazia; b) capacitar os líderes com uma instrumentação técnica que os transforma em máquinas de re-produção de idéias; c) instrui numa cultura sem capacidade crítica que enaltece um não-pensar e uma obediência cega aos preceitos do consumo; e d) conduz o líder a uma perdad da dimensão de profundidade autêntica.A partir daí propor um questionamento e uma alternativa ética, tomando como fio condutor e paradigma a dialética do reconhecimento de inspiração hegeliana, articulando seus elementos, categorias e conceitos, redimensionando a compreensão do homem e do seu mundo na perspectiva de uma sociedade cuja diferença ontológica entre os homens não se converta em diferença geradora de desigualdades sócio-econômicas promotoras de injustiça.

 

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