IV ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DE FILOSOFIA
UFPE-UFPB-UFRN

XVI SEMANA DE FILOSOFIA DA UFRN

"O Universal e o Particular Hoje"

Natal, 5 a 9 de junho de 2006
 

 

Apresentação Áreas temáticas Atividades Programação Hospedagem/Alimentação Comissão

Resumos

Os resumos estão divididos de acordo com a primeira letra do nome do autor do trabalho.

A - D

E - H

I - L

M - P

Q - T

U - Z


A vontade de Potência como Critério de Avaliação do Valor dos Valores na Genealogia Nietzschiana
Manoel Jarbas Vasconcelos Carvalho
UECE

O presente estudo tem por objeto a obra do filósofo alemão Friedrich Wilwelm Nietzsche entitulada “A Genealogia da Moral” (1887). O que enfocaremos de especial nesta obra e tomaremos aqui por nosso objetivo reside em demonstrar o aspecto central da “Vontade de Potência” como critério de avaliação utilizado pelo filósofo para avaliar o valor dos valores morais em sua genealogia. Para tanto, adotamos como referencial metodológico a perspectiva deleuziana que acredita ser a “vontade de potência” algo similar à vida. E portanto, o único critério seguro capaz de avaliar o que é “bom” ou “ruim”. Se a vida é o único crivo, o valor maior “bom” é tudo aquilo que potencializa, expande e a enriquece. E “ruim” é tudo aquilo que degenera, despotencializa e a empobrece. Neste sentido, como observa Alfredo Naffah Neto: o termo “Vontade de Potência” configura-se como conceito central de Ética Nietzschiana, pois, Vontade de Potência e Vida são termos sinônimos (1996, p. 49). É na leitura e compreensão da genealogia Nietzschiana, que iremos perceber o total distanciamento entre Ética e Moral. Desta forma, o filósofo desconstrói o senso comum que acredita ser esses termos uma só e mesma coisa: doutrina dos deveres do homem. A Ética nada tem a ver com os deveres: aliás, para Nietzsche quem age por dever não é autônomo, não é livre, vive sob o ditames do rebanho. Sendo assim, a Moral é vista como negatividade e oposta a Ética. É sob a perspectiva da Vontade de Potência que o filósofo irá analisar o valor dos valores morais, tecendo a diferenciação entre os diferentes tipos de moral descritos por ele em sua genealogia. Seriam elas: a “moral do senhor”, “nobre” ou “aristocrática” entendida por nós como Ética, e a “moral dos escravos” ou de “rebanho” entendida aqui como Moral. Para o filósofo todos os valores são advindos da vida, sendo assim, tudo para ele é Vontade de Potência seja ela positiva ou negativa. A Ética representa a vontade afirmativa de potência, pois, significa a afirmação plena e incondicional da vida, o contrário a “moral do rebanho”, representa a negação da vontade de poder, pois, o que ela afirma não é a vida, e sim uma realidade transcendente e oposta a ela. Por isso, a Ética Nietzschiana repousa como tônico vitalizador da vida, pois, possibilita o desmascaramento e a desconstrução de toda moral baseada no não-valor. Ao mesmo tempo que oferece a vida seu redimensionamento através de sua expansão e afirmação incondicionais, tornando-a finalmente o único valor. Como afirma Deleuze: o que Nietzsche chama de transmutação, transvaloração: não é uma mudança de valores mas uma mudança no qual deriva o valor dos valores, a apreciação no lugar da depreciação, a afirmação como vontade de poder (1993, p. 143). Sendo assim, o papel de Ética consiste em operar a mudança. Desta forma, o sujeito ético é aquele que reinventa o real e transfigura a vida, na medida em que promove a transvaloração de todos os valores.
 


Maquiavel e o Republicanismo
Marco Aurélio Cardoso
UFG

Existe uma idéia essencial de liberdade presente no pensamento político maquiaveliano. Em várias passagens de suas obras encontramos referências de Maquiavel à República. Esta forma de governo é a única que salvaguarda o interesse da esfera estatal, pois os cidadãos convivem diretamente com a liberdade. Não existe perigo para o Estado quando o cidadão procura adquirir uma boa reputação pela via pública, ou seja, quando se empenha em atuar na defesa do interesse comum. Dessa maneira, portanto, temos como proposta apresentar o republicanismo abordado por Maquiavel com o intuito de demonstrar a importância da liberdade para o desenvolvimento do bem comum.
Palavras-chave: Republicanismo, liberdade, bem comum, Estado
 


Guerra Justa: Uma Análise Crítica
Marco Aurélio de Medeiros Jordão
UFCE

Analisaremos o conceito de “guerra justa” sob a ótica do filósofo americano John Rawls com o intuito de não só apresentarmos objetivamente esse conceito, tão pouco trabalhado nas rodas filosóficas, como também suas implicações ao levarmos esse conceito às últimas conseqüências. Como isso se dará? Através de exemplos históricos e comparações com outros filósofos que defendem um ponto de vista diferente de Rawls no que se refere a esse conceito. Para tal empreitada nos valeremos de alguns textos básicos, qual seja, o §58 de “Uma Teoria da Justiça”; “O Direito dos Povos”, especificamente a parte III na qual Rawls trabalha a sua teoria não ideal; o texto “Guerras Justas e Injustas”, de Michel Walzer, cujas idéias básicas se aproximam sobremaneira a de John Rawls. Por outro lado, para contrapor essa idéia, utilizaremos as idéias iluministas de Kant em seu texto “À Paz Perpétua” e mostraremos como o filósofo é contra esse conceito, mostrando como esse termo é paradoxal e com isso impossível de se sustentar. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo levantar a questão acerca desse tema tão polêmico, mas pouco estudado nas universidades brasileiras, talvez por acharmos essa realidade distante de nós já que vivemos num país “pacífico”, cujo histórico de guerra nos é escasso. No entanto, devemos nos atentar para a nossa realidade e percebermos que as guerras não estão tão distantes de nós, e que se quisermos enfrentá-la (seja a favor dela, seja contra) devemos entender sua lógica e seus pressupostos, pois só assim poderemos encará-la de modo crítico e sério.
 


A Categoria de "Indivíduo" em Kierkegaard
Marcos Érico de Araújo Silva
UFPB

Este trabalho terá como propósito analisar a categoria de “Indivíduo” na filosofia de Kierkegaard, tendo como fundamentação teórica a leitura hermenêutica do opúsculo “O Indivíduo: duas notas a respeito do Individuo” (esc. 1856; publ. póst. 1859). O Indivíduo enquanto categoria surge pela primeira vez no horizonte filosófico com Sócrates. Mas rapidamente é emudecido, massificado e excluído da reflexão. Os acontecimentos mundiais do século XIX, principalmente em 1847, no âmbito da política, da filosofia, da religião e da cultura em geral corroboravam e provocavam, de certo modo, o pensamento de Kierkegaard que desde sua Dissertação de 1841 valorizava a questão do Indivíduo. De fato, havia uma supervalorização da multidão, da massa em detrimento do indivíduo. Isso levava a um equívoco radical acerca do cristianismo. Além de que a reivindicação da “humanidade’ ou da “multidão” como instância de verdade ética, religiosa ou ético-existencial era uma depreciação e um mal-entendido acerca da condição humana. O homem não é um exemplar numérico da espécie. Ele é um indivíduo, único, portador de uma individualidade inalienável. Para elaborar a sua crítica à tradição Kierkegaard forjará a categoria de “Indivíduo” como o conceito mais importante de sua filosofia, no sentido de ser a base motivacional na criação da estrutura de seu pensamento. O opúsculo de que nos serviremos para construirmos nossa reflexão ilustra essa questão. A categoria kierkegaardiana de “Indivíduo” aparece como resposta a essa problemática da tradição e, ao mesmo tempo, é norteadora da produção filosófica do filósofo. O “Indivíduo” é uma categoria dialética e, com efeito, sua relação com o corpus kierkegaardiano também. “O ‘Indivíduo’ pode significar o homem único entre todos, e também cada qual, toda a gente. Ora, se se quiser despertar dialecticamente a atenção, há que usar continuamente a categoria de ‘o Indivíduo’ nesta dupla acepção”. Nesta citação de Kierkegaard vemos que ele é um filósofo, não um irracionalista propagador do individualismo egocêntrico. A categoria de “Indivíduo” engendra o método kierkegaardiano, a maiêutica ou método da comunicação indireta, a produção pseudonímica ou heteronímica. Esta tem uma razão de ser, não é um capricho arbitrário do filósofo. Eis a dialética da categoria de o “Indivíduo” em relação com o corpus do filósofo como crítica ao Sistema, a tradição: os pseudônimos, enquanto simbolizando a existência concreta (individual) na apropriação existencial da verdade (universal), diferem uns dos outros apenas em matéria interindividual de cultura, de talento etc; nos Discursos edificantes, o outro lado da dialética, o Indivíduo aparece em sua pureza expressando o que todo homem é ou deve ser; é o caráter humano geral. Aqui de modo mais explícito o Indivíduo singular supera o universal, não necessariamente negando-o mas indo além. Tornar-se “Indivíduo” é se lançar neste processo de apropriação da Verdade. Desenvolver a categoria de “Indivíduo” focalizando principalmente sua relação com a produção filosófica-teológica de Kierkegaard será a finalidade deste trabalho, de nossa Comunicação (direta).
 


A lógica-dialética de Hegel - A Doutrina do Ser na Ciência da Lógica
Marcos Fabio Alexandre Nicolau
UFC

Nosso trabalho visa elucidar os principais momentos dialéticos da Doutrina do Ser, na obra Ciência da Lógica, que é uma explicitação sobre as estruturas da realidade, para apreendermos o que é dialética em Hegel e como essa serve de estrutura de seu sistema. Para tal, partimos da premissa que a apreensão do método hegeliano se dá no estudo de seu pleno desenvolvimento e que, para o filósofo, o método não é algo que deva ser aplicado ao conhecimento da realidade, mas é algo que lhe é intrínseco, pois a realidade é dialética.
Para Hegel a dialética é antes a natureza própria e verdadeira das determinações do entendimento, sendo o dialético aquilo que constitui a alma motriz do progredir científico, fazendo desse processo a possibilidade do avanço rumo ao Conceito.
A Lógica de Hegel é dividida em três doutrinas: a do Ser, a da Essência e a do Conceito. A relação entre essas doutrinas é que a primeira trata dos aspectos imediatos e superficiais das coisas, a segunda de suas naturezas básica e interna, ou seja, de suas relações, e a terceira de seu ser total. No primeiro momento, a doutrina do ser, o ser é apresentado em suas determinações consecutivas: qualidade, quantidade e medida. Hegel contrasta as categorias do ser e do nada, que são supostamente unificadas na do devir. Esta idéia também é considerada como encerrando uma contradição inerente, e é substituída pelo “ser determinado”, isto é, o ser na posse de qualidades. As qualidades, porém, se sucedem em alteração e há uma seqüência infinita, que se opõe ao ser determinado, sendo chamada por Hegel de infinito “ruim” ou “negativo”. O verdadeiro infinito, que compreende a síntese das duas idéias anteriores, é o ser-para-si, que é infinito no sentido de ter aplicações sem limites. As categorias até agora enunciadas se incluiriam nas de qualidade. Hegel passa a estudar analogamente a categoria da quantidade e, finalmente, como a síntese das duas, a da medida. É na identidade que há no ser que se apresenta a primeira negação, que anuncia uma determinação, pois ele só pode ser um para-si quando se relaciona com os outros, a negação, que é interna e externa, pois o ser só é na medida em que mantém tal relação (interior, ou consigo, e exterior, ou com outro).
Sendo início de nossa pesquisa de mestrado, buscar-se-á apreender a Doutrina do Ser, expondo toda sua dialeticidade através de um estudo claro e sucinto. Estudar esse método, esse processo dialético, demonstrado aqui por nós de maneira resumida, é a proposta desse trabalho, e como a filosofia sempre é pensada a partir de um determinado modo, primar pela compreensão adequada do método hegeliano é tomar o Método como modo de conhecer, de instaurar o ato de conhecer, que institui os problemas e fornece estilo à filosofia.
 


Comentários acerca da Problemática da Vontade a partir dos Últimos Escritos sobre Filosofia da Psicologia de Wittgenstein
Marcus José Alves de Souza
UFG

A conhecida argumentação wittgensteiniana acerca do problema da linguagem privada ataca um certo ponto de partida filosófico sobre como abordar as relações entre linguagem e experiência, a saber: a suposição que o vocabulário que expressamos os conceitos mentais adquirem significado em virtude de nossas próprias experiências. Seria como se houvesse um acesso privilegiado em termos egológicos. “Sentir dor”, “querer algo”, “sentir ódio”... seriam significantes em termos irredutivelmente subjetivos, apenas o sujeito que “quer”, que “sente dor” ou que “odeia” sabe qual é seu estado mental correspondente.
Nos “Últimos Escritos”(“Letze Schriften über die Philosophie der Psychologie”), em especial o volume II, Wittgenstein faz reflexões sobre essa idéia de acesso subjetivamente privilegiado, mostrando suas inconsistências, bem como estabelecendo algumas explicações para o “interno” e o “externo”, no bojo dessa discussão.
A pretensão dessa comunicação é tecer comentários sobre o tema da vontade aproveitando de algumas das reflexões feitas por Wittgenstein nesses textos.
 


Como descrever eventos mentais?
Maria Aparecida de Paiva Montenegro
UFC

Em Como ser um morcego?, Thomas Nagel (1974) examina a polêmica questão da descrição dos eventos mentais e sugere que somente uma fenomenologia objetiva, ainda por ser construída, seria capaz de dar conta da dimensão universal característica dos enunciados da ciência – pensada como discurso da terceira pessoa -, ao mesmo tempo em que salvaguardaria o caráter particular atribuído aos estados mentais, acerca dos quais se supõe que a perspectiva da primeira pessoa detenha um conhecimento privilegiado. A presente comunicação pretende mostrar, a partir das críticas à psicologia formuladas por filósofos contemporâneos de tradições distintas, como Wittgenstein e Georges Politzer, que esse impasse em torno do cunho subjetivo dos eventos mentais e a descrição objetiva dos mesmos requerida pela ciência repousa justamente na ilusão de que se tem, na primeira pessoa, acesso privilegiado aos próprios estados mentais. A impossibilidade de uma linguagem privada, apontada por Wittgenstein, assim como a noção de “drama”, proposta por Politzer como constituindo o fato psicológico por excelência, parecem fazer convergir as vertentes continental e anglo-saxã da filosofia contemporânea no que tange à desconstrução da antiga ilusão de uma vida interior que antecederia as práticas lingüísticas. Em uma palavra, pretende-se mostrar que é somente no âmbito da linguagem – portanto, de uma perspectiva universal -, que se constrói um discurso do particular - aquele acerca dos próprios eventos mentais.
 


Teologia e Natureza em Kant
Maria Célia dos Santos
UFC

Esta proposta de trabalho pretende entender a concepção de natureza e teleologia na Crítica da Faculdade de Julgar de Immanuel Kant. O conceito de teleologia é hoje relegado ao esquecimento, ou à insignificância, no campo das ciências físicas e biológicas. O pensamento de Kant, porém, é de que tal conceito é imprescindível para entender muitas formas naturais que não se encaixam nos princípios da Lógica Transcendental. Se admitirmos, com Kant, que o mecanismo puro não é suficiente para nos ajudar na compreensão de todos os fenômenos, ou seja, que apenas com causas eficientes não podemos levar a cabo a explicação sistemática do mundo, e isto se dá necessariamente em relação ao conceito de corpo organizado... a idéia teleológica é aceitável como reguladora e serve para auxiliar o conhecimento.
 


Amor como Percepção na Filosofia de Benedictus de Spinoza
Maria Tereza Mendes de Castro
UECE

A tradição filosófica grega foi a primeira a reconhecer o amor como uma força harmonizadora e motora responsável pela ordem de todas as coisas existentes. Seguindo esta linha de pensamento, o filósofo holandês Benedictus de Spinoza reconhecerá o amor como uma idéia de harmonia através da qual o homem se une àquilo que identifica a sua natureza à natureza da substância perfeita. Em sua obra “O Breve Tratado” Spinoza define o amor como a união com o objeto julgado magnífico e bom para o nosso entendimento. Dessa maneira, podemos atribuir ao amor os mesmos atributos da substância perfeita como, por exemplo, a eternidade e a infinitude. O amor surge ainda como algo indispensável ao discernimento humano que conduzirá o homem ao grau maior da escala de gêneros de conhecimento: o conhecimento intuitivo. O homem, ao atingir este gênero de conhecimento, deixa de ser escravo de suas paixões e se aproxima da substância única, se identificando com a sua natureza. Spinoza, então, revela o amor numa dimensão totalmente racional através da qual o homem evolui pelo conhecimento, aumentando a sua liberdade.
 


Estudo do Conceito de Verdade em Heidegger
Miguel Antonio do Nascimento
UFPB

Nesta oficina trato de uma parte de estudo mais amplo sobre o problema da verdade em Heidegger. Procuro pôr em relevo o fato de que a definição heideggeriana da verdade como adequação tem sua importância maior em mostrar o que é necessário para se definir a verdade em filosofia e não propriamente em mostrar a crítica que é feita ao conceito de verdade adotado pela tradição filosófica até então; e de outra parte, o fato indica também que a pergunta pela verdade continua sendo agora a exigência precípua da filosofia que é ainda a mesma dos primórdios, não se justificando que o tema da verdade seja subestimado. Com base na leitura dos textos “Da essência da verdade” e “Ser e tempo” § 44 tento caracterizar o sentido de “essência” da verdade para além destes textos, e que se encontra refletido em outras obras de Heidegger, que tratam deste mesmo assunto.
 


O Surrealismo e a Crítica ao Racionalismo
Nahyara Estevam Marinho
UFC

O nascimento oficial do movimento artístico chamado de Surrealismo data de 1924 com a publicação do Manifesto do Surrealismo assinado por André Breton. Os artistas acusam a desvalorização da imaginação pelo homem na medida em que ele é envolvido pelo cotidiano e pelas imposições das regras sociais, como por exemplo, o racionalismo exacerbado do pensamento moderno, que traz a necessidade de classificar e teorizar aquilo que é captado por meio da experiência empírica. Pretendo, portanto, por meio deste trabalho, fazer uma análise do movimento surrealista e da crítica à racionalidade que, apesar de estar presente em diversas áreas do conhecimento, tomo como base a discussão que se dá no âmbito filosófico. A razão, desde a modernidade delegada como instância pela qual todo questionar do homem sobre o mundo teria que passar por seu exame, provoca a depreciação do irracional, da quimera, do caótico, que também passam a ser objetos de uma tentativa de explicação. Com a teoria de Freud e a descoberta do inconsciente, é deslocada a razão de seu posto como principal lógica de conhecimento para a revelação da verdade única do mundo, apresentando uma outra capacidade humana que tem sua própria estrutura não-racional. O movimento propõe, então, a expressão automática, seja ela por meio da fala, da escrita e de outros meios artísticos, e a livre associação, que seriam livres da intervenção da racionalidade e que possibilitariam a manifestação do caótico e do irracional, também constitutivos do homem. Para o filósofo alemão Nietzsche, o estabelecimento de leis científicas que regem os acontecimentos no mundo, de regras morais e de uma verdade seriam necessidades psicológicas de negação da mutação constante do mundo, inclusive do homem, e das suas infinitas possibilidades. O medo da finitude se manifesta pela construção de verdades imutáveis. A ciência, a moral e toda filosofia ocidental tradicional e platonista atuam de forma a negar a pluralidade do mundo, o devir, o caótico e o dionisíaco, que, através da arte, o surrealismo pretende resgatar. As manifestações artísticas são também uma forma de linguagem, na medida em que revelam a apreensão do artista dos paradigmas, ou das mudanças deles, e os levam ao público, que – por sua vez – os identificam por meio da experiência estética. O Surrealismo segue, portanto, a crítica à razão como única fonte de sentido que pode levar ao conhecimento, que ganha maior força no século XX tanto na filosofia, como nas demais áreas do saber. As próprias ciências naturais encontram por meio das experiências empíricas, dados que as contradizem. Porém, a racionalidade e o cientificismo estão fortemente arraigados à cultura ocidental e, apesar de criticados, a valorização do caótico e do irracional permanece na clandestinidade. A proposta do Surrealismo de expressão automática e associação livre, totalmente independentes das regras que nos foram impostas é um exercício bastante difícil – alguns dirão: impossível – mas louvável em um momento em que nos perguntamos quais as possibilidades de uma nova forma de ver o mundo e a nós mesmos.
 


O ideal ascético: Acerca do problema da filosofia da religião em Nietzsche e Kant
Nilo César Batista da Silva
UFRN

Nietzsche na crítica à tradição do pensamento metafísico articula o ideal ascético como suporte metafísico da religião, da moral, da ciência e da própria filosofia. Para ele, o exercício do filosofar, em suas origens, propriamente ditas, foi pautado por este ideal ascético. Na Genealogia da moral ele afirma: “o ideal ascético foi até agora senhor de toda filosofia, porque a verdade na tradição foi entronizada como Ser, como Deus, como instância Suprema” (GM:1998,§ III,24).Na Dialética Transcendental de Kant Deus é colocado como uma idéia ou um conceito puro da razão, enquanto representação necessária da razão humana, Deus permite conduzir as categorias do entendimento até ao seu limite de unidade, totalidade e incondicionado. Como a idéia de Deus não se estabelece em nenhuma realidade objetiva, ou seja, não se subsume nenhuma dimensão fenomênica no âmbito de um juízo demonstrativo, Deus apenas fornece ao entendimento uma direção vazia do ponto de vista da economia do conhecimento e da teoria da razão. O ideal transcendental resguarda a idéia de Deus de tornar-se um ídolo cujo conteúdo seria emprestado na experiência sensível, assim o conceito transcendental de Deus como o mais real de todos os seres não pode ser omitido na filosofia por mais abstrato que ele seja, pois ele pertence à ligação e à depuração de todos os conceitos concretos.
 


Aspectos terapêuticos da linguagem no 2º Wittgenstein
Nilton Luiz da Rocha
UFRN

Perguntamos ao 2º Wittgenstein: a filosofia exerce propriedades terapêuticas para as inquietações filosóficas do homem? Esta é a questão que tentaremos esclarecer no desenvolvimento do presente artigo. Observa-se uma diferença desde logo com relação ao título proposto do trabalho, o qual propositadamente, abre as portas para as nossas discussões. É a filosofia ou é a linguagem, no processo terapêutico que possibilita o estado de tranqüilidade intelectual no homem? Para responder a estas questões, localizaremos inicialmente o que está provocando o estado de inquietação, para a seguir aplicarmos as articulações da linguagem como processo terapêutico. Aqui, convém lembrar que estamos tratando de casos em que os sintomas derivam da paixão pelo saber.
 


A relação dialética entre o sistema de Hegel e os tropos céticos de Agripa
Oscar Cavalcanti de Albuquerque Bisneto
UFRN

A perspectiva do presente trabalho consiste na articulação de três momentos precisos: em primeiro lugar, busca realizar uma apreciação do real significado que possui os tropos de Agripa para a estratégia cética de Hegel; em segundo, procura expor criticamente a interpretação hegeliana das aporias legadas pela tradição filosófica, não apenas as do ceticismo antigo, mas sobretudo a do dualismo da filosofia crítica de Kant; e, finalmente, procura evidenciar desse modo como Hegel, quer para negar, quer para defender-se, quer até mesmo para afirmar, sempre e necessariamente está a pressupor os tropos como o único paradigma metafísico, somente a partir do qual ele poderia legitimamente fundar o início do seu Idealismo Absoluto. Ora, se já é um lugar comum afirmar que Descartes extrai a validade da certeza do cogito ao levar as objeções do ceticismo às suas últimas consequências, então, em se tratando da estratégia cética de Hegel, asseveramos que ele pouco se distancia da postura cartesiana. Pois, igual ao cogito, o ponto fixo de Descartes, o primeiro conceito da Lógica - e que por isso deve servir de eixo de sustentação para todo o Sistema - tem de ser totalmente imune aos ataques lançados contra a possibilidade segura de um legítimo início para a ciência. De modo que este primeiro conceito da Lógica não será outro que o puro ser, tacitamente adquirido junto aos tropos, que, por ser absolutamente vazio de determinações, não traz consigo nenhuma pressuposição, resultando assim supostamente incólume face às arguições céticas.
 


Rousseau e a crítica histórica no Emílio
Otacílio Gomes da Silva Neto
UFPB

O problema do ser e do parecer em Rousseau não fica à margem da crítica histórica. Lendo a história como palco das ações humanas deve-se perceber quais são os historiadores que narraram os feitos das personagens históricas com maior veracidade. A crítica a história pressupõe as ações morais de suas personagens. Rousseau percebe que a história como palco das ações humanas é o ambiente favorável para identificarmos as autênticas ações morais. A ambigüidade também se faz presente no processo histórico, pois na história pode-se ocultar a verdade e afirmar a mentira. A idéia segundo a qual conhece-se os homens pelas ações e não pelo discurso presente no Livro IV do Emílio ou Da Educação (1762), resgata as conclusões do Discurso sobre as ciências e as artes (1750), bem como o tema das razões especiosas presente no Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (1754). A história tem a sua importância pedagógica na proporção em que pode contribuir ou não com a formação moral do aluno. Nessa perspectiva, a história é importante porque está relacionada com o bem agir. Rousseau parece inseri-la numa perspectiva mais ampla que é a perspectiva moral. E é nessa perspectiva que podemos interpretar o estudo da história como mais importante do que o estudo da filosofia. Através do discurso, a filosofia pode ser fonte de falsidade e instabilidade no âmbito da moral. A história tem a tarefa de desmascarar aquilo que a filosofia encobre. Na ótica de Rousseau, não são as belas palavras que dizem a verdade, mas as belas ações. Mostrando as ações, a história pode desmascarar os homens mostrando-os como eles são em verdade.
 


As Bases éticas do Realismo Jurídico
Pablo Capistrano
FARN

As correntes de interpretação jurídica que se fiam em pressupostos realistas desenvolvem-se a partir de uma crítica sistemática as correntes hermenêuticas principológicas. Nesse sentido, tanto o naturalismo jurídico, quanto o formalismo necessitam ser descartados, tendo em vista o pressuposto básico das correntes realistas que indica que a operação hermenêutica de extração da solução de casos, com base em normas jurídicas ou princípios gerais de direito é impossível. Tal pressuposto vai forçar a hermenêutica realista a conceber a interpretação jurídica como estando centrada no caso e nas conseqüências das decisões judiciais. Sob esse aspecto, no entanto, não parece fazer sentido admitir que as correntes realistas devam ser consideradas como derivação de uma ética utilitarista para o campo da interpretação jurídica. Isso se faz claro na medida em que, caso o realismo jurídico, admita o consequencialismo utilitarista, deveria também admitir seus pressupostos principologicos (principio da máxima felicidade). A partir dessas considerações o pressente trabalho tem como objetivo fundamental, demonstrar que, a solução para o problema da construção de uma fundamentação ética que sustente os pressupostos hermenêuticos das escolas realistas, passa, não pela adoção de uma ética teleológica nos moldes do utilitarismo clássico, mas sim de uma teleologia baseada na retomada de pressupostos de uma ética das virtudes Aristotélica, em conformidade com a leitura de Michel Villey.
 


Do Parricídio à má Consciência: Articulações entre o Masoquismo e a Vontade de Poder em Nietzsche e Freud
Pablo Severiano Benevides
UFCE

Este trabalho, ao tomar a Psicanálise e as investigações de Nietzsche acerca da origem da moral por referenciais, objetiva problematizar a relação entre aquilo que diz respeito a uma falta cometida e seu possível vínculo com um castigo ou punição. Ao afirmar que o castigo, ao contrário do que habitualmente se pensa, não está intimamente associado à punição, mas antes ao exercício da vontade de poder, Nietzsche abre um espaço para uma articulação fecunda com as concepções freudianas acerca do masoquismo e do sadismo. Comecemos pela seguinte questão: qual é, para a Psicanálise, a origem dos sentimentos morais? Esta resposta é elaborada a partir da hipótese mítica do parricídio como advento da cultura. Há, portanto, a suposição de que, num tempo anterior à cultura, havia um Pai terrível que detinha para si todas as mulheres disponíveis e privava os irmãos (seus filhos) de um contato sexual com estas. Uma vez que estes se unem em suas pequenas forças, exterminam o Pai e o devoram num ritual totêmico. Diante disto, recai sobre eles um sentimento de culpa pelo ato cometido que os leva a proibirem a manutenção de vínculos sexuais com as mulheres – suas irmãs – como forma moral de manter viva a memória do pai em função da proibição do incesto. Se, todavia, o ato cometido diz respeito a uma dimensão ficcional, este se sustenta para dar conta daquilo a que a Psicanálise veio dar voz: o masoquismo. No que diz respeito a esse movimento de trazer para si a culpa por um suposto ato cometido, cabe pormos a seguinte questão: como, para Nietzsche, a punição veio a ser interpretada como um castigo, e como o castigo veio a articular-se com a idéia de uma falta cometida? Originariamente não se atribuía àquele que era punido a culpa pelo o que ocorreu, isto veio a ser posto somente com a idéia de livre arbítrio. Aí entra em jogo a figura ímpar do sacerdote asceta, que irá mudar a direção do ressentimento dos fracos dando-lhe um sentido: “o sofrimento decorre de um dano cometido”. Cria-se a vinculação necessária entre o sofrimento (interpretado como “castigo”) e a vontade de sofrer mais: há que se punir para quitar uma dívida impagável. Esta é dirigida a Deus, já que ele consiste em todo o ideal que é a antítese da vontade de domínio e dos instintos animais. Voltemos à articulação entre Nietzsche e Freud: o que, para Nietzsche consiste no redirecionamento do ressentimento, para Freud diz respeito ao parricídio. Estes cumprem, ao que parece, a mesma função: instaurar o sentimento de culpa e de autopunição. A divergência aqui aparece uma vez que, para Freud, há um masoquismo original – manifestado sob a forma punitiva e cumpridor das exigências da pulsão de morte – que decorre de uma parte da libido presa no próprio eu, ao passo em que, para Nietzsche, o masoquismo – sob o nome de má consciência – é um fundamento secundário e não original, já que consiste numa forma de manutenção de uma vida que se degenera.
 


A relação entre filosofia e tempo presente apresentada nos prefácios da Ciência da Lógica de Hegel
Patrick de Oliveira Almeida
UECE

Uma das preocupações que os prefácios da Ciência da Lógica revela consiste em mostrar que a tarefa do pensamento filosófico está em superar a defasagem existente entre o ponto de vista que a consciência-de-si atinge sobre seu tempo, como saber de uma época, e as transformações substanciais que acometem o domínio do espiritual, na medida em que as mesmas devem ser retiradas da inconsciência científica e elevadas ao reconhecimento. Este movimento de elevação é o que constitui propriamente o processo de formação científica. Tal processo se desenrola como a própria realização do desígnio do Espírito: o autoconhecimento, que tem o significado do Espírito que vem a se saber como livre e pura “interioridade”. Esta presente comunicação tem o objetivo de problematizar o cumprimento desta tarefa enquanto ela é pensada como indissociável do tempo presente. Para tanto, temos como ponto de partida os dois prefácios da “Ciência da Lógica” que, por conterem afirmações muito genéricas, nos obriga a empreender um movimento de saída em direção a outra obras (Fenomenologia do Espírito, Enciclopédia das Ciências Filosóficas, Princípios da Filosofia do Direito), no sentido de buscar mediações que nos auxiliem na referida problematização.
 


A leitura sartriana da psicanálise em O Ser e o Nada
Pierre Mignac de Lira
UFPE

Dentre os que se defrontaram com a problemática da psicanálise no séc. XX, se destaca a figura de J. P. Sartre, que se considerava não um ‘falso amigo’ da psicanálise, e sim um ‘companheiro de viagem crítico’. Neste trabalho não pretendemos traçar uma história das relações de Sartre com a psicanálise, rastreando textos e entrevistas com ela relacionados, mas ater-se única ou pelo menos principalmente à obra de Sartre O ser e o Nada, considerando que as teses com relação à psicanálise, nela contidas, não se alteraram substancialmente no decorrer dos anos. Para isso, no primeiro momento trataremos das críticas feitas a Freud, mais especificamente, e por serem as principais, as que se encontram no segundo capítulo da primeira parte da referida obra. Em seguida, tentaremos avaliar a relevância que essas críticas podem ter para com a obra freudiana, e como elas se articulam com a filosofia existencial de Sartre.
 

A - D

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I - L

M - P

Q - T

U - Z


Programa de Pós-Graduação em Filosofia
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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