A vontade de Potência como Critério de Avaliação do Valor dos Valores na
Genealogia Nietzschiana
Manoel Jarbas Vasconcelos Carvalho
UECE
O presente estudo tem por objeto a obra do filósofo alemão Friedrich Wilwelm
Nietzsche entitulada “A Genealogia da Moral” (1887). O que enfocaremos de
especial nesta obra e tomaremos aqui por nosso objetivo reside em demonstrar
o aspecto central da “Vontade de Potência” como critério de avaliação
utilizado pelo filósofo para avaliar o valor dos valores morais em sua
genealogia. Para tanto, adotamos como referencial metodológico a perspectiva
deleuziana que acredita ser a “vontade de potência” algo similar à vida. E
portanto, o único critério seguro capaz de avaliar o que é “bom” ou “ruim”.
Se a vida é o único crivo, o valor maior “bom” é tudo aquilo que
potencializa, expande e a enriquece. E “ruim” é tudo aquilo que degenera,
despotencializa e a empobrece. Neste sentido, como observa Alfredo Naffah
Neto: o termo “Vontade de Potência” configura-se como conceito central de
Ética Nietzschiana, pois, Vontade de Potência e Vida são termos sinônimos
(1996, p. 49). É na leitura e compreensão da genealogia Nietzschiana, que
iremos perceber o total distanciamento entre Ética e Moral. Desta forma, o
filósofo desconstrói o senso comum que acredita ser esses termos uma só e
mesma coisa: doutrina dos deveres do homem. A Ética nada tem a ver com os
deveres: aliás, para Nietzsche quem age por dever não é autônomo, não é
livre, vive sob o ditames do rebanho. Sendo assim, a Moral é vista como
negatividade e oposta a Ética. É sob a perspectiva da Vontade de Potência
que o filósofo irá analisar o valor dos valores morais, tecendo a
diferenciação entre os diferentes tipos de moral descritos por ele em sua
genealogia. Seriam elas: a “moral do senhor”, “nobre” ou “aristocrática”
entendida por nós como Ética, e a “moral dos escravos” ou de “rebanho”
entendida aqui como Moral. Para o filósofo todos os valores são advindos da
vida, sendo assim, tudo para ele é Vontade de Potência seja ela positiva ou
negativa. A Ética representa a vontade afirmativa de potência, pois,
significa a afirmação plena e incondicional da vida, o contrário a “moral do
rebanho”, representa a negação da vontade de poder, pois, o que ela afirma
não é a vida, e sim uma realidade transcendente e oposta a ela. Por isso, a
Ética Nietzschiana repousa como tônico vitalizador da vida, pois,
possibilita o desmascaramento e a desconstrução de toda moral baseada no
não-valor. Ao mesmo tempo que oferece a vida seu redimensionamento através
de sua expansão e afirmação incondicionais, tornando-a finalmente o único
valor. Como afirma Deleuze: o que Nietzsche chama de transmutação,
transvaloração: não é uma mudança de valores mas uma mudança no qual deriva
o valor dos valores, a apreciação no lugar da depreciação, a afirmação como
vontade de poder (1993, p. 143). Sendo assim, o papel de Ética consiste em
operar a mudança. Desta forma, o sujeito ético é aquele que reinventa o real
e transfigura a vida, na medida em que promove a transvaloração de todos os
valores.
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Maquiavel e o Republicanismo
Marco Aurélio Cardoso
UFG
Existe uma idéia essencial de liberdade presente no pensamento político
maquiaveliano. Em várias passagens de suas obras encontramos referências de
Maquiavel à República. Esta forma de governo é a única que salvaguarda o
interesse da esfera estatal, pois os cidadãos convivem diretamente com a
liberdade. Não existe perigo para o Estado quando o cidadão procura adquirir
uma boa reputação pela via pública, ou seja, quando se empenha em atuar na
defesa do interesse comum. Dessa maneira, portanto, temos como proposta
apresentar o republicanismo abordado por Maquiavel com o intuito de
demonstrar a importância da liberdade para o desenvolvimento do bem comum.
Palavras-chave: Republicanismo, liberdade, bem comum, Estado
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Guerra Justa: Uma Análise Crítica
Marco Aurélio de Medeiros Jordão
UFCE
Analisaremos o conceito de “guerra justa” sob a ótica do filósofo americano
John Rawls com o intuito de não só apresentarmos objetivamente esse
conceito, tão pouco trabalhado nas rodas filosóficas, como também suas
implicações ao levarmos esse conceito às últimas conseqüências. Como isso se
dará? Através de exemplos históricos e comparações com outros filósofos que
defendem um ponto de vista diferente de Rawls no que se refere a esse
conceito. Para tal empreitada nos valeremos de alguns textos básicos, qual
seja, o §58 de “Uma Teoria da Justiça”; “O Direito dos Povos”,
especificamente a parte III na qual Rawls trabalha a sua teoria não ideal; o
texto “Guerras Justas e Injustas”, de Michel Walzer, cujas idéias básicas se
aproximam sobremaneira a de John Rawls. Por outro lado, para contrapor essa
idéia, utilizaremos as idéias iluministas de Kant em seu texto “À Paz
Perpétua” e mostraremos como o filósofo é contra esse conceito, mostrando
como esse termo é paradoxal e com isso impossível de se sustentar. Sendo
assim, o presente trabalho tem como objetivo levantar a questão acerca desse
tema tão polêmico, mas pouco estudado nas universidades brasileiras, talvez
por acharmos essa realidade distante de nós já que vivemos num país
“pacífico”, cujo histórico de guerra nos é escasso. No entanto, devemos nos
atentar para a nossa realidade e percebermos que as guerras não estão tão
distantes de nós, e que se quisermos enfrentá-la (seja a favor dela, seja
contra) devemos entender sua lógica e seus pressupostos, pois só assim
poderemos encará-la de modo crítico e sério.
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A Categoria de "Indivíduo" em Kierkegaard
Marcos Érico de Araújo Silva
UFPB
Este trabalho terá como propósito analisar a categoria de “Indivíduo” na
filosofia de Kierkegaard, tendo como fundamentação teórica a leitura
hermenêutica do opúsculo “O Indivíduo: duas notas a respeito do Individuo” (esc.
1856; publ. póst. 1859). O Indivíduo enquanto categoria surge pela primeira
vez no horizonte filosófico com Sócrates. Mas rapidamente é emudecido,
massificado e excluído da reflexão. Os acontecimentos mundiais do século
XIX, principalmente em 1847, no âmbito da política, da filosofia, da
religião e da cultura em geral corroboravam e provocavam, de certo modo, o
pensamento de Kierkegaard que desde sua Dissertação de 1841 valorizava a
questão do Indivíduo. De fato, havia uma supervalorização da multidão, da
massa em detrimento do indivíduo. Isso levava a um equívoco radical acerca
do cristianismo. Além de que a reivindicação da “humanidade’ ou da
“multidão” como instância de verdade ética, religiosa ou ético-existencial
era uma depreciação e um mal-entendido acerca da condição humana. O homem
não é um exemplar numérico da espécie. Ele é um indivíduo, único, portador
de uma individualidade inalienável. Para elaborar a sua crítica à tradição
Kierkegaard forjará a categoria de “Indivíduo” como o conceito mais
importante de sua filosofia, no sentido de ser a base motivacional na
criação da estrutura de seu pensamento. O opúsculo de que nos serviremos
para construirmos nossa reflexão ilustra essa questão. A categoria
kierkegaardiana de “Indivíduo” aparece como resposta a essa problemática da
tradição e, ao mesmo tempo, é norteadora da produção filosófica do filósofo.
O “Indivíduo” é uma categoria dialética e, com efeito, sua relação com o
corpus kierkegaardiano também. “O ‘Indivíduo’ pode significar o homem único
entre todos, e também cada qual, toda a gente. Ora, se se quiser despertar
dialecticamente a atenção, há que usar continuamente a categoria de ‘o
Indivíduo’ nesta dupla acepção”. Nesta citação de Kierkegaard vemos que ele
é um filósofo, não um irracionalista propagador do individualismo
egocêntrico. A categoria de “Indivíduo” engendra o método kierkegaardiano, a
maiêutica ou método da comunicação indireta, a produção pseudonímica ou
heteronímica. Esta tem uma razão de ser, não é um capricho arbitrário do
filósofo. Eis a dialética da categoria de o “Indivíduo” em relação com o
corpus do filósofo como crítica ao Sistema, a tradição: os pseudônimos,
enquanto simbolizando a existência concreta (individual) na apropriação
existencial da verdade (universal), diferem uns dos outros apenas em matéria
interindividual de cultura, de talento etc; nos Discursos edificantes, o
outro lado da dialética, o Indivíduo aparece em sua pureza expressando o que
todo homem é ou deve ser; é o caráter humano geral. Aqui de modo mais
explícito o Indivíduo singular supera o universal, não necessariamente
negando-o mas indo além. Tornar-se “Indivíduo” é se lançar neste processo de
apropriação da Verdade. Desenvolver a categoria de “Indivíduo” focalizando
principalmente sua relação com a produção filosófica-teológica de
Kierkegaard será a finalidade deste trabalho, de nossa Comunicação (direta).
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A lógica-dialética de Hegel - A Doutrina do Ser na Ciência da Lógica
Marcos Fabio Alexandre Nicolau
UFC
Nosso trabalho visa elucidar os principais momentos dialéticos da Doutrina
do Ser, na obra Ciência da Lógica, que é uma explicitação sobre as
estruturas da realidade, para apreendermos o que é dialética em Hegel e como
essa serve de estrutura de seu sistema. Para tal, partimos da premissa que a
apreensão do método hegeliano se dá no estudo de seu pleno desenvolvimento e
que, para o filósofo, o método não é algo que deva ser aplicado ao
conhecimento da realidade, mas é algo que lhe é intrínseco, pois a realidade
é dialética.
Para Hegel a dialética é antes a natureza própria e verdadeira das
determinações do entendimento, sendo o dialético aquilo que constitui a alma
motriz do progredir científico, fazendo desse processo a possibilidade do
avanço rumo ao Conceito.
A Lógica de Hegel é dividida em três doutrinas: a do Ser, a da Essência e a
do Conceito. A relação entre essas doutrinas é que a primeira trata dos
aspectos imediatos e superficiais das coisas, a segunda de suas naturezas
básica e interna, ou seja, de suas relações, e a terceira de seu ser total.
No primeiro momento, a doutrina do ser, o ser é apresentado em suas
determinações consecutivas: qualidade, quantidade e medida. Hegel contrasta
as categorias do ser e do nada, que são supostamente unificadas na do devir.
Esta idéia também é considerada como encerrando uma contradição inerente, e
é substituída pelo “ser determinado”, isto é, o ser na posse de qualidades.
As qualidades, porém, se sucedem em alteração e há uma seqüência infinita,
que se opõe ao ser determinado, sendo chamada por Hegel de infinito “ruim”
ou “negativo”. O verdadeiro infinito, que compreende a síntese das duas
idéias anteriores, é o ser-para-si, que é infinito no sentido de ter
aplicações sem limites. As categorias até agora enunciadas se incluiriam nas
de qualidade. Hegel passa a estudar analogamente a categoria da quantidade
e, finalmente, como a síntese das duas, a da medida. É na identidade que há
no ser que se apresenta a primeira negação, que anuncia uma determinação,
pois ele só pode ser um para-si quando se relaciona com os outros, a
negação, que é interna e externa, pois o ser só é na medida em que mantém
tal relação (interior, ou consigo, e exterior, ou com outro).
Sendo início de nossa pesquisa de mestrado, buscar-se-á apreender a Doutrina
do Ser, expondo toda sua dialeticidade através de um estudo claro e sucinto.
Estudar esse método, esse processo dialético, demonstrado aqui por nós de
maneira resumida, é a proposta desse trabalho, e como a filosofia sempre é
pensada a partir de um determinado modo, primar pela compreensão adequada do
método hegeliano é tomar o Método como modo de conhecer, de instaurar o ato
de conhecer, que institui os problemas e fornece estilo à filosofia.
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Comentários acerca da Problemática da Vontade a partir dos Últimos
Escritos sobre Filosofia da Psicologia de Wittgenstein
Marcus José Alves de Souza
UFG
A conhecida argumentação wittgensteiniana acerca do problema da linguagem
privada ataca um certo ponto de partida filosófico sobre como abordar as
relações entre linguagem e experiência, a saber: a suposição que o
vocabulário que expressamos os conceitos mentais adquirem significado em
virtude de nossas próprias experiências. Seria como se houvesse um acesso
privilegiado em termos egológicos. “Sentir dor”, “querer algo”, “sentir
ódio”... seriam significantes em termos irredutivelmente subjetivos, apenas
o sujeito que “quer”, que “sente dor” ou que “odeia” sabe qual é seu estado
mental correspondente.
Nos “Últimos Escritos”(“Letze Schriften über die Philosophie der Psychologie”),
em especial o volume II, Wittgenstein faz reflexões sobre essa idéia de
acesso subjetivamente privilegiado, mostrando suas inconsistências, bem como
estabelecendo algumas explicações para o “interno” e o “externo”, no bojo
dessa discussão.
A pretensão dessa comunicação é tecer comentários sobre o tema da vontade
aproveitando de algumas das reflexões feitas por Wittgenstein nesses textos.
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Como descrever eventos mentais?
Maria Aparecida de Paiva Montenegro
UFC
Em Como ser um morcego?, Thomas Nagel (1974) examina a polêmica questão da
descrição dos eventos mentais e sugere que somente uma fenomenologia
objetiva, ainda por ser construída, seria capaz de dar conta da dimensão
universal característica dos enunciados da ciência – pensada como discurso
da terceira pessoa -, ao mesmo tempo em que salvaguardaria o caráter
particular atribuído aos estados mentais, acerca dos quais se supõe que a
perspectiva da primeira pessoa detenha um conhecimento privilegiado. A
presente comunicação pretende mostrar, a partir das críticas à psicologia
formuladas por filósofos contemporâneos de tradições distintas, como
Wittgenstein e Georges Politzer, que esse impasse em torno do cunho
subjetivo dos eventos mentais e a descrição objetiva dos mesmos requerida
pela ciência repousa justamente na ilusão de que se tem, na primeira pessoa,
acesso privilegiado aos próprios estados mentais. A impossibilidade de uma
linguagem privada, apontada por Wittgenstein, assim como a noção de “drama”,
proposta por Politzer como constituindo o fato psicológico por excelência,
parecem fazer convergir as vertentes continental e anglo-saxã da filosofia
contemporânea no que tange à desconstrução da antiga ilusão de uma vida
interior que antecederia as práticas lingüísticas. Em uma palavra,
pretende-se mostrar que é somente no âmbito da linguagem – portanto, de uma
perspectiva universal -, que se constrói um discurso do particular - aquele
acerca dos próprios eventos mentais.
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Teologia e Natureza em Kant
Maria Célia dos Santos
UFC
Esta proposta de trabalho pretende entender a concepção de natureza e
teleologia na Crítica da Faculdade de Julgar de Immanuel Kant. O conceito de
teleologia é hoje relegado ao esquecimento, ou à insignificância, no campo
das ciências físicas e biológicas. O pensamento de Kant, porém, é de que tal
conceito é imprescindível para entender muitas formas naturais que não se
encaixam nos princípios da Lógica Transcendental. Se admitirmos, com Kant,
que o mecanismo puro não é suficiente para nos ajudar na compreensão de
todos os fenômenos, ou seja, que apenas com causas eficientes não podemos
levar a cabo a explicação sistemática do mundo, e isto se dá necessariamente
em relação ao conceito de corpo organizado... a idéia teleológica é
aceitável como reguladora e serve para auxiliar o conhecimento.
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Amor como Percepção na Filosofia de Benedictus de Spinoza
Maria Tereza Mendes de Castro
UECE
A tradição filosófica grega foi a primeira a reconhecer o amor como uma
força harmonizadora e motora responsável pela ordem de todas as coisas
existentes. Seguindo esta linha de pensamento, o filósofo holandês
Benedictus de Spinoza reconhecerá o amor como uma idéia de harmonia através
da qual o homem se une àquilo que identifica a sua natureza à natureza da
substância perfeita. Em sua obra “O Breve Tratado” Spinoza define o amor
como a união com o objeto julgado magnífico e bom para o nosso entendimento.
Dessa maneira, podemos atribuir ao amor os mesmos atributos da substância
perfeita como, por exemplo, a eternidade e a infinitude. O amor surge ainda
como algo indispensável ao discernimento humano que conduzirá o homem ao
grau maior da escala de gêneros de conhecimento: o conhecimento intuitivo. O
homem, ao atingir este gênero de conhecimento, deixa de ser escravo de suas
paixões e se aproxima da substância única, se identificando com a sua
natureza. Spinoza, então, revela o amor numa dimensão totalmente racional
através da qual o homem evolui pelo conhecimento, aumentando a sua
liberdade.
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Estudo do Conceito de Verdade em Heidegger
Miguel Antonio do Nascimento
UFPB
Nesta oficina trato de uma parte de estudo mais amplo sobre o problema da
verdade em Heidegger. Procuro pôr em relevo o fato de que a definição
heideggeriana da verdade como adequação tem sua importância maior em mostrar
o que é necessário para se definir a verdade em filosofia e não propriamente
em mostrar a crítica que é feita ao conceito de verdade adotado pela
tradição filosófica até então; e de outra parte, o fato indica também que a
pergunta pela verdade continua sendo agora a exigência precípua da filosofia
que é ainda a mesma dos primórdios, não se justificando que o tema da
verdade seja subestimado. Com base na leitura dos textos “Da essência da
verdade” e “Ser e tempo” § 44 tento caracterizar o sentido de “essência” da
verdade para além destes textos, e que se encontra refletido em outras obras
de Heidegger, que tratam deste mesmo assunto.
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O Surrealismo e a Crítica ao Racionalismo
Nahyara Estevam Marinho
UFC
O nascimento oficial do movimento artístico chamado de Surrealismo data de
1924 com a publicação do Manifesto do Surrealismo assinado por André Breton.
Os artistas acusam a desvalorização da imaginação pelo homem na medida em
que ele é envolvido pelo cotidiano e pelas imposições das regras sociais,
como por exemplo, o racionalismo exacerbado do pensamento moderno, que traz
a necessidade de classificar e teorizar aquilo que é captado por meio da
experiência empírica. Pretendo, portanto, por meio deste trabalho, fazer uma
análise do movimento surrealista e da crítica à racionalidade que, apesar de
estar presente em diversas áreas do conhecimento, tomo como base a discussão
que se dá no âmbito filosófico. A razão, desde a modernidade delegada como
instância pela qual todo questionar do homem sobre o mundo teria que passar
por seu exame, provoca a depreciação do irracional, da quimera, do caótico,
que também passam a ser objetos de uma tentativa de explicação. Com a teoria
de Freud e a descoberta do inconsciente, é deslocada a razão de seu posto
como principal lógica de conhecimento para a revelação da verdade única do
mundo, apresentando uma outra capacidade humana que tem sua própria
estrutura não-racional. O movimento propõe, então, a expressão automática,
seja ela por meio da fala, da escrita e de outros meios artísticos, e a
livre associação, que seriam livres da intervenção da racionalidade e que
possibilitariam a manifestação do caótico e do irracional, também
constitutivos do homem. Para o filósofo alemão Nietzsche, o estabelecimento
de leis científicas que regem os acontecimentos no mundo, de regras morais e
de uma verdade seriam necessidades psicológicas de negação da mutação
constante do mundo, inclusive do homem, e das suas infinitas possibilidades.
O medo da finitude se manifesta pela construção de verdades imutáveis. A
ciência, a moral e toda filosofia ocidental tradicional e platonista atuam
de forma a negar a pluralidade do mundo, o devir, o caótico e o dionisíaco,
que, através da arte, o surrealismo pretende resgatar. As manifestações
artísticas são também uma forma de linguagem, na medida em que revelam a
apreensão do artista dos paradigmas, ou das mudanças deles, e os levam ao
público, que – por sua vez – os identificam por meio da experiência
estética. O Surrealismo segue, portanto, a crítica à razão como única fonte
de sentido que pode levar ao conhecimento, que ganha maior força no século
XX tanto na filosofia, como nas demais áreas do saber. As próprias ciências
naturais encontram por meio das experiências empíricas, dados que as
contradizem. Porém, a racionalidade e o cientificismo estão fortemente
arraigados à cultura ocidental e, apesar de criticados, a valorização do
caótico e do irracional permanece na clandestinidade. A proposta do
Surrealismo de expressão automática e associação livre, totalmente
independentes das regras que nos foram impostas é um exercício bastante
difícil – alguns dirão: impossível – mas louvável em um momento em que nos
perguntamos quais as possibilidades de uma nova forma de ver o mundo e a nós
mesmos.
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O ideal ascético: Acerca do problema da filosofia da religião em
Nietzsche e Kant
Nilo César Batista da Silva
UFRN
Nietzsche na crítica à tradição do pensamento metafísico articula o ideal
ascético como suporte metafísico da religião, da moral, da ciência e da
própria filosofia. Para ele, o exercício do filosofar, em suas origens,
propriamente ditas, foi pautado por este ideal ascético. Na Genealogia da
moral ele afirma: “o ideal ascético foi até agora senhor de toda filosofia,
porque a verdade na tradição foi entronizada como Ser, como Deus, como
instância Suprema” (GM:1998,§ III,24).Na Dialética Transcendental de Kant
Deus é colocado como uma idéia ou um conceito puro da razão, enquanto
representação necessária da razão humana, Deus permite conduzir as
categorias do entendimento até ao seu limite de unidade, totalidade e
incondicionado. Como a idéia de Deus não se estabelece em nenhuma realidade
objetiva, ou seja, não se subsume nenhuma dimensão fenomênica no âmbito de
um juízo demonstrativo, Deus apenas fornece ao entendimento uma direção
vazia do ponto de vista da economia do conhecimento e da teoria da razão. O
ideal transcendental resguarda a idéia de Deus de tornar-se um ídolo cujo
conteúdo seria emprestado na experiência sensível, assim o conceito
transcendental de Deus como o mais real de todos os seres não pode ser
omitido na filosofia por mais abstrato que ele seja, pois ele pertence à
ligação e à depuração de todos os conceitos concretos.
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Aspectos terapêuticos da linguagem no 2º Wittgenstein
Nilton Luiz da Rocha
UFRN
Perguntamos ao 2º Wittgenstein: a filosofia exerce propriedades terapêuticas
para as inquietações filosóficas do homem? Esta é a questão que tentaremos
esclarecer no desenvolvimento do presente artigo. Observa-se uma diferença
desde logo com relação ao título proposto do trabalho, o qual
propositadamente, abre as portas para as nossas discussões. É a filosofia ou
é a linguagem, no processo terapêutico que possibilita o estado de
tranqüilidade intelectual no homem? Para responder a estas questões,
localizaremos inicialmente o que está provocando o estado de inquietação,
para a seguir aplicarmos as articulações da linguagem como processo
terapêutico. Aqui, convém lembrar que estamos tratando de casos em que os
sintomas derivam da paixão pelo saber.
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A relação dialética entre o sistema de Hegel e os tropos céticos de
Agripa
Oscar Cavalcanti de Albuquerque Bisneto
UFRN
A perspectiva do presente trabalho consiste na articulação de três momentos
precisos: em primeiro lugar, busca realizar uma apreciação do real
significado que possui os tropos de Agripa para a estratégia cética de
Hegel; em segundo, procura expor criticamente a interpretação hegeliana das
aporias legadas pela tradição filosófica, não apenas as do ceticismo antigo,
mas sobretudo a do dualismo da filosofia crítica de Kant; e, finalmente,
procura evidenciar desse modo como Hegel, quer para negar, quer para
defender-se, quer até mesmo para afirmar, sempre e necessariamente está a
pressupor os tropos como o único paradigma metafísico, somente a partir do
qual ele poderia legitimamente fundar o início do seu Idealismo Absoluto.
Ora, se já é um lugar comum afirmar que Descartes extrai a validade da
certeza do cogito ao levar as objeções do ceticismo às suas últimas
consequências, então, em se tratando da estratégia cética de Hegel,
asseveramos que ele pouco se distancia da postura cartesiana. Pois, igual ao
cogito, o ponto fixo de Descartes, o primeiro conceito da Lógica - e que por
isso deve servir de eixo de sustentação para todo o Sistema - tem de ser
totalmente imune aos ataques lançados contra a possibilidade segura de um
legítimo início para a ciência. De modo que este primeiro conceito da Lógica
não será outro que o puro ser, tacitamente adquirido junto aos tropos, que,
por ser absolutamente vazio de determinações, não traz consigo nenhuma
pressuposição, resultando assim supostamente incólume face às arguições
céticas.
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Rousseau e a crítica histórica no Emílio
Otacílio Gomes da Silva Neto
UFPB
O problema do ser e do parecer em Rousseau não fica à margem da crítica
histórica. Lendo a história como palco das ações humanas deve-se perceber
quais são os historiadores que narraram os feitos das personagens históricas
com maior veracidade. A crítica a história pressupõe as ações morais de suas
personagens. Rousseau percebe que a história como palco das ações humanas é
o ambiente favorável para identificarmos as autênticas ações morais. A
ambigüidade também se faz presente no processo histórico, pois na história
pode-se ocultar a verdade e afirmar a mentira. A idéia segundo a qual
conhece-se os homens pelas ações e não pelo discurso presente no Livro IV do
Emílio ou Da Educação (1762), resgata as conclusões do Discurso sobre as
ciências e as artes (1750), bem como o tema das razões especiosas presente
no Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens
(1754). A história tem a sua importância pedagógica na proporção em que pode
contribuir ou não com a formação moral do aluno. Nessa perspectiva, a
história é importante porque está relacionada com o bem agir. Rousseau
parece inseri-la numa perspectiva mais ampla que é a perspectiva moral. E é
nessa perspectiva que podemos interpretar o estudo da história como mais
importante do que o estudo da filosofia. Através do discurso, a filosofia
pode ser fonte de falsidade e instabilidade no âmbito da moral. A história
tem a tarefa de desmascarar aquilo que a filosofia encobre. Na ótica de
Rousseau, não são as belas palavras que dizem a verdade, mas as belas ações.
Mostrando as ações, a história pode desmascarar os homens mostrando-os como
eles são em verdade.
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As Bases éticas do Realismo Jurídico
Pablo Capistrano
FARN
As correntes de interpretação jurídica que se fiam em pressupostos realistas
desenvolvem-se a partir de uma crítica sistemática as correntes
hermenêuticas principológicas. Nesse sentido, tanto o naturalismo jurídico,
quanto o formalismo necessitam ser descartados, tendo em vista o pressuposto
básico das correntes realistas que indica que a operação hermenêutica de
extração da solução de casos, com base em normas jurídicas ou princípios
gerais de direito é impossível. Tal pressuposto vai forçar a hermenêutica
realista a conceber a interpretação jurídica como estando centrada no caso e
nas conseqüências das decisões judiciais. Sob esse aspecto, no entanto, não
parece fazer sentido admitir que as correntes realistas devam ser
consideradas como derivação de uma ética utilitarista para o campo da
interpretação jurídica. Isso se faz claro na medida em que, caso o realismo
jurídico, admita o consequencialismo utilitarista, deveria também admitir
seus pressupostos principologicos (principio da máxima felicidade). A partir
dessas considerações o pressente trabalho tem como objetivo fundamental,
demonstrar que, a solução para o problema da construção de uma fundamentação
ética que sustente os pressupostos hermenêuticos das escolas realistas,
passa, não pela adoção de uma ética teleológica nos moldes do utilitarismo
clássico, mas sim de uma teleologia baseada na retomada de pressupostos de
uma ética das virtudes Aristotélica, em conformidade com a leitura de Michel
Villey.
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Do Parricídio à má Consciência: Articulações entre o Masoquismo e a
Vontade de Poder em Nietzsche e Freud
Pablo Severiano Benevides
UFCE
Este trabalho, ao tomar a Psicanálise e as investigações de Nietzsche acerca
da origem da moral por referenciais, objetiva problematizar a relação entre
aquilo que diz respeito a uma falta cometida e seu possível vínculo com um
castigo ou punição. Ao afirmar que o castigo, ao contrário do que
habitualmente se pensa, não está intimamente associado à punição, mas antes
ao exercício da vontade de poder, Nietzsche abre um espaço para uma
articulação fecunda com as concepções freudianas acerca do masoquismo e do
sadismo. Comecemos pela seguinte questão: qual é, para a Psicanálise, a
origem dos sentimentos morais? Esta resposta é elaborada a partir da
hipótese mítica do parricídio como advento da cultura. Há, portanto, a
suposição de que, num tempo anterior à cultura, havia um Pai terrível que
detinha para si todas as mulheres disponíveis e privava os irmãos (seus
filhos) de um contato sexual com estas. Uma vez que estes se unem em suas
pequenas forças, exterminam o Pai e o devoram num ritual totêmico. Diante
disto, recai sobre eles um sentimento de culpa pelo ato cometido que os leva
a proibirem a manutenção de vínculos sexuais com as mulheres – suas irmãs –
como forma moral de manter viva a memória do pai em função da proibição do
incesto. Se, todavia, o ato cometido diz respeito a uma dimensão ficcional,
este se sustenta para dar conta daquilo a que a Psicanálise veio dar voz: o
masoquismo. No que diz respeito a esse movimento de trazer para si a culpa
por um suposto ato cometido, cabe pormos a seguinte questão: como, para
Nietzsche, a punição veio a ser interpretada como um castigo, e como o
castigo veio a articular-se com a idéia de uma falta cometida?
Originariamente não se atribuía àquele que era punido a culpa pelo o que
ocorreu, isto veio a ser posto somente com a idéia de livre arbítrio. Aí
entra em jogo a figura ímpar do sacerdote asceta, que irá mudar a direção do
ressentimento dos fracos dando-lhe um sentido: “o sofrimento decorre de um
dano cometido”. Cria-se a vinculação necessária entre o sofrimento
(interpretado como “castigo”) e a vontade de sofrer mais: há que se punir
para quitar uma dívida impagável. Esta é dirigida a Deus, já que ele
consiste em todo o ideal que é a antítese da vontade de domínio e dos
instintos animais. Voltemos à articulação entre Nietzsche e Freud: o que,
para Nietzsche consiste no redirecionamento do ressentimento, para Freud diz
respeito ao parricídio. Estes cumprem, ao que parece, a mesma função:
instaurar o sentimento de culpa e de autopunição. A divergência aqui aparece
uma vez que, para Freud, há um masoquismo original – manifestado sob a forma
punitiva e cumpridor das exigências da pulsão de morte – que decorre de uma
parte da libido presa no próprio eu, ao passo em que, para Nietzsche, o
masoquismo – sob o nome de má consciência – é um fundamento secundário e não
original, já que consiste numa forma de manutenção de uma vida que se
degenera.
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A relação entre filosofia e tempo presente apresentada nos prefácios da
Ciência da Lógica de Hegel
Patrick de Oliveira Almeida
UECE
Uma das preocupações que os prefácios da Ciência da Lógica revela consiste
em mostrar que a tarefa do pensamento filosófico está em superar a defasagem
existente entre o ponto de vista que a consciência-de-si atinge sobre seu
tempo, como saber de uma época, e as transformações substanciais que
acometem o domínio do espiritual, na medida em que as mesmas devem ser
retiradas da inconsciência científica e elevadas ao reconhecimento. Este
movimento de elevação é o que constitui propriamente o processo de formação
científica. Tal processo se desenrola como a própria realização do desígnio
do Espírito: o autoconhecimento, que tem o significado do Espírito que vem a
se saber como livre e pura “interioridade”. Esta presente comunicação tem o
objetivo de problematizar o cumprimento desta tarefa enquanto ela é pensada
como indissociável do tempo presente. Para tanto, temos como ponto de
partida os dois prefácios da “Ciência da Lógica” que, por conterem
afirmações muito genéricas, nos obriga a empreender um movimento de saída em
direção a outra obras (Fenomenologia do Espírito, Enciclopédia das Ciências
Filosóficas, Princípios da Filosofia do Direito), no sentido de buscar
mediações que nos auxiliem na referida problematização.
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A leitura sartriana da psicanálise em O Ser e o Nada
Pierre Mignac de Lira
UFPE
Dentre os que se defrontaram com a problemática da psicanálise no séc. XX,
se destaca a figura de J. P. Sartre, que se considerava não um ‘falso amigo’
da psicanálise, e sim um ‘companheiro de viagem crítico’. Neste trabalho não
pretendemos traçar uma história das relações de Sartre com a psicanálise,
rastreando textos e entrevistas com ela relacionados, mas ater-se única ou
pelo menos principalmente à obra de Sartre O ser e o Nada, considerando que
as teses com relação à psicanálise, nela contidas, não se alteraram
substancialmente no decorrer dos anos. Para isso, no primeiro momento
trataremos das críticas feitas a Freud, mais especificamente, e por serem as
principais, as que se encontram no segundo capítulo da primeira parte da
referida obra. Em seguida, tentaremos avaliar a relevância que essas
críticas podem ter para com a obra freudiana, e como elas se articulam com a
filosofia existencial de Sartre.
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