IV ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DE FILOSOFIA
UFPE-UFPB-UFRN

XVI SEMANA DE FILOSOFIA DA UFRN

"O Universal e o Particular Hoje"

Natal, 5 a 9 de junho de 2006
 

 

Apresentação Áreas temáticas Atividades Programação Hospedagem/Alimentação Comissão

Resumos

Os resumos estão divididos de acordo com a primeira letra do nome do autor do trabalho.

A - D

E - H

I - L

M - P

Q - T

U - Z


Alteridade e Carne: um Diálogo com Derrida e Merleau-Ponty
Iraquitan de Oliveira Caminha
UFPB

Nossa intenção é analisar o sentido da noção de alteridade, empregado por Derrida, a partir da experiência de um corpo que toca um “outro” corpo. Por um lado, com base nesta analise, propomos compreender a proposta de desconstrução da noção de carne concebida por Merleau-Ponty, que, segundo Derrida, considera o tocar a partir de um elo de fusão entre tocado e tocante. Por outro lado, pretendemos examinar a noção de carne em Merleau-Ponty, contemplando, ao mesmo tempo, uma dimensão reflexiva, fundada na reversibilidade do sentir, e uma outra incompossível, fundada na condição existencial do corpo próprio como abertura permanente ao “outro”. Neste sentido, pensamos que um diálogo entre Derrida e Merleau-Ponty para tratar do problema da “alteridade” e da “carne” pode ser bastante pertinente para examinar a questão: “o universo o particular hoje”, tema do IV Encontro Interinstitucional de Filosofia (UFRN-UFPB-UFPE).
 


O conceito de causa sui na Ética de Benedictus de Spinoza
Isabel Maria Pinheiro Arruda
UECE

Nosso objetivo com o presente trabalho é expor e analisar o conceito de causa sui na Ética de Benedictus de Spinoza. A Ética inicia-se com oito definições que fazem referência e explicitam a causa de si, a finitude, a substância, os atributos, os modos, a sua concepção de Deus, a liberdade e a eternidade. A seguir, Spinoza demonstra que só existe uma única substância, que, por definição e absoluta necessidade do sistema, é causa sui, ou, em outras palavras, não é concebida por outra coisa e não necessita de nada além de si mesma para continuar existindo. Ou seja, a substância tem inteira autonomia, pois a causa, além de ser condição, é também o fundamento. Neste sentido, o conceito de causa sui adquire uma maior relevância na filosofia de Spinoza, pois é responsável por promover a ruptura com a tradição filosófica, excessivamente revestida de uma conotação predominantemente ontológica e lógica. Uma vez assimilado este conceito, torna-se possível a compreensão do real, pois, em Spinoza, tudo o que existe, exprime de maneira certa e determinada a natureza ou essência de Deus; isto é, tudo que existe exprime de modo certo e determinado a potência de Deus, que é causa e fundamento atual de todas as coisas e, por conseguinte, dele resulta algum efeito. Por fim, demonstraremos como o conceito de causa sui em Spinoza apresenta-se dissociado da noção da filosofia tradicional, pois foi associado à necessidade e à imanência, possibilitando o estabelecimento de elos entre a substância absolutamente infinita e as coisas finitas.
 


Rorty e a questão da filosofia sem espelho
Ivanaldo Santos
UERN

Para Richard Rorty, a partir do século XVII, com o abandono da discussão sobre Deus e o desenvolvimento da nova filosofia da ciência inaugurada com Descartes e Locke, a discussão sobre a mente, o conhecimento e a filosofia, passou a ser dominadas pela idéia da representação. Sendo assim, usualmente, a mente é comparada a um espelho que reflete a realidade, o conhecimento deve ocupar-se da precisão desse reflexo e a filosofia é o saber que se ocupa em discutir, com precisão, a relação mente, realidade e conhecimento. Para Rorty, a procura, por parte da filosofia, de correspondência entre mente, conhecimento e realidade, tem conduzido a filosofia, e, de certa forma, as outras áreas do conhecimento, a edificar discussões inócuas e um conhecimento apenas aparente. A filosofia não pode ser, como deseja Kant, o tribunal da razão pura capaz de julgar outras áreas do saber. É preciso, pois, acabar com essa ilusão. Para Rorty, os problemas clássicos da filosofia se tornaram áreas autônomas como, por exemplo, a ciência política, a sociologia, a antropologia, a economia, a neurologia e as demais ciências cognitivas. Sendo assim, a idéias de “mente” perdeu seu sentido com as descobertas da neurologia e das demais ciências cognitivas. Com isso, Rorty propõe que a filosofia abandone a idéia de “mente” e a pretensão, um tanto quanto arrogante, de julgar as outras áreas do saber. A filosofia perde o seu “espelho”, isto é, a mente, e torna-se uma análise da cultura.
Palavras-chave: Rorty, filosofia e mente
 


O realismo interno de Putnam e a noção de substância-identidade
Ivânio Lopes de Azevedo Júnior
UFC

Considerando a relevância do tradicional debate entre realismo e nominalismo, juntamente com as implicações epistemológicas advindas de tais posturas, acredito ser oportuna uma análise sobre alguns argumentos fornecidos pela filosofia analítica contemporânea, em especial, pelo realismo interno de Putnam. Digo isso, porque a teoria elaborada por Hilary Putnam tenta ser uma alternativa frente ao realismo metafísico e ao anti-realismo e, também, entre realismo e nominalismo. O que me interessa, nesta comunicação, são as conseqüências das teses defendidas por Putnam no tocante à teoria do conhecimento científico. Destarte, tenho dois objetivos específicos: primeiro, expor as teses básicas do internalismo, mostrando em que sentido o conhecimento humano é em parte descoberta e em parte invenção; em segundo lugar, analisarei a ficção da Terra Gêmea, bem como o argumento de que é possível fixar a referência dos termos para tipos naturais mediante a aplicação de designadores rígidos. Aqui nosso autor constrói uma interpretação minimalista da noção de “necessidade metafísica” proposta por Kripke, sugerindo um critério de substância-identidade que nos permite falar em descobertas científicas de estruturas profundas da natureza, sem o enorme ônus derivado dos compromissos metafísicos kripkeanos. Isso é possível em virtude da postura flexível, por parte de Putnam, em admitir a viabilidade de se pensar mundos possíveis nos quais as leis da natureza sejam diferentes, fazendo com que a água, por exemplo, mesmo possuindo a estrutura química H2O, tenha comportamentos distintos dos que conhecemos no mundo atual. Em outras palavras, a própria afirmação “a água é necessariamente H2O” é revisável, ou seja, a ciência pode chegar à conclusão que a água possui uma composição química diferente, então, seríamos obrigados a corrigir nossa afirmação. Uma vez que o critério de substância-identidade consiste na conjunção entre a composição do elemento natural e as leis que determinam seu comportamento e, que, mundos possíveis podem possuir outras leis, a pergunta pelas condições necessárias e suficientes para uma substância ser água em todos os mundos possíveis perde completamente o sentido. No entanto, caso a água seja efetivamente H2O, ela necessariamente possui essa estrutura. Putnam reconhece tanto a falibilidade epistêmica da ciência quanto a interferência da estrutura objetiva da substância natural. Assim, ele conclui que os significados dos termos para espécies naturais são estabelecidos pela interferência da natureza exterior em consonância com o esquema conceitual a partir de onde as coisas são nomeadas. Seguindo essa direção, apontarei os sentidos em que Putnam aceita e rejeita a idéia de senso comum que postula a existência objetiva de leis da natureza, ou, de necessidade física. O artigo Is Water Necessarily H2 O?, será minha principal fonte bibliográfica. Em suma, acredito que ao final deste trabalho, terei oferecido um breve esboço do realismo interno e, do mesmo modo, uma direção para compreendermos suas contribuições à filosofia das ciências.
 


O papel do princípio do contexto no projeto Logicista de Gottlob Frege
Izabel Cristina Izidoro de Souza
UFPE

Na introdução de Os Fundamentos da Aritmética (Die Grundlagen der Arithmetik) de 1884 Frege apresenta os três princípios fundamentais da sua investigação. O segundo deles veio a ser conhecido como o princípio do contexto: “Deve-se perguntar pelo significado das palavras no contexto da proposição e não isoladamente” (p. X). Ele reaparece no § 60 na passagem crucial, §§ 55-61, em que Frege argumenta pela necessidade de considerar os números como objetos autônomos e como uma parte importante da justificação para assim considerá-los. Ele é então reiterado no § 62 no começo da passagem igualmente importante, §§ 62-69, em que Frege expõe suas razões para definir os números cardinais como classe de conceitos. E finalmente, aparece no § 106, no curso da recapitulação dos principais resultados do livro. Mas apesar do princípio do contexto exercer um papel importante nas seções centrais de Os Fundamentos da Aritmética ele não é afirmado novamente em seus trabalhos posteriores, embora também não seja explicitamente repudiado. Na literatura secundária não há concordância acerca da manutenção ou não do princípio do contexto nos escritos posteriores de Frege. Angelelli afirma que o princípio do contexto é afirmado apenas em Os Fundamentos da Aritmética. E enfatiza que Frege em sua controvérsia com Hilbert, nega o princípio do contexto quando afirma que as palavras devem ter um significado independente dos seus contextos. Assim, Angelelli argumenta que o princípio do contexto não tem nem o significado nem a importância geralmente atribuída a ele. Michael D. Resnik cita uma passagem de uma carta de Frege a Peano de 1896 em que ele afirma que para uma argumentação ser possível, cada palavra deve ter uma referência, a mesma em todos as ocorrência, independentemente do resto da sentença, isto é, do contexto. Para Resnik esta passagem é uma explícita contradição ao princípio do contexto. Ao contrário das posições acima mencionadas Michael Dummett defende a manutenção do princípio do contexto. Segundo Dummett ele aparece em outros textos de forma modificada após Frege ter assimilado sentenças como nomes próprios. No § 10 do Vol. I do Grundegetz, há um apelo claro ao que ele chama de princípio do contexto generalizado. Dessa forma, nós intencionamos, nessa comunicação, analisar as controvérsias acerca do princípio do contexto e o seu papel no desenvolvimento do logicismo de Frege.
 


O Externalismo Causal-Histótico de Donald Davidson
Jaime Biella
UFRN

O Externalismo é um conjunto de teorias que, em oposição ao subjetivismo, vem se desenvolvendo desde a publicação de The Meaning of Meaning, de Hilary Putnam (1975) e Individualism and the Mental de Tyler Burge (1979). Davidson apresentou em vários artigos a sua própria teoria externalista, que ele classificou de “modest form of externalism”. Além de apresentar as principais teses externalistas de Davidson (que definiremos como Externalismo Causal-Histórico) e a relação deste tema com a tese da “autoridade da primeira pessoa”, também conhecido como o problema do “conhecimento da própria mente”, o objetivo do nosso trabalho é verificar se é possível, como Davidson pretende, conciliar suas teses externalistas com o fisicalismo de ocorrência (token physicalism) que Davidson apresentou em Mental Events (1970).
 


Ceticismo e Naturalismo na Filosofia de Hume
Jaimir Conte
UFRN

Autor de grandes obras filosóficas como o Tratado da natureza humana (1739-40), Investigação sobre o entendimento humano (1748) e Investigação sobre os princípios da moral (1751), David Hume (1711-1776) é também autor de vários escritos sobre religião nos quais se opõe, em praticamente todos os pontos, à ideologia religiosa predominante em seu tempo. O mais penetrante, filosófico e substancial de seus trabalhos sobre o tema são os Diálogos sobre a religião natural, cuja publicação só aconteceu depois de sua morte, em 1779. Outro trabalho significativo, apesar de não ter recebido a atenção merecida, é a História natural da religião (1757). Meu objetivo é fazer uma apresentação geral desta obra, chamando a atenção para os seus aspectos epistemológicos. Procurarei mostrar como, na História natural da religião, Hume tenta oferecer uma explicação em termos puramente naturais das origens e causas da crença religiosa.
 


O Conceito de Trabalho para Marx
James Wilson Januário de Oliveira
UFCE

Para Marx, o conceito de trabalho, esboçado nos Manuscritos Econômico-Filosóficos, é de condição sine qua non para a sociabilidade humana, sem o qual não seria possível a produção e a reprodução do homem, do ser social. Ser este, que pelo trabalho, pela atividade vital, transforma a natureza e se auto-transforma, possibilitando, com isto, a liberdade humana para criar livre e diversificadamente, diferente dos demais animais, que estão preso ao determinismo cego da natureza. Mas, no âmbito da sociabilidade hodierna, o trabalho deixa de ser essa atividade livre e consciente, pois o processo de objetivação humana passa a ocorrer de forma estranhada e se submete aos ditames do mercado, separando os produtores dos meios de produção e do produto final de seu trabalho. Por conseguinte, o homem torna-se um ser estranhado com o seu produto, com sua atividade, consigo mesmo e com os outros homens. Com isto, queremos demonstra que, para Marx, há sim um conceito de trabalho positivo (o trabalho livre, consciente e criativo), que, todavia, na sociabilidade moderna, passou a incorporar também um caráter negativo, que é o estranhamento (o trabalho repetitivo, mecânico, assalariado) que se fará presente no processo de objetivação dos homens. Essa questão é a base para se entender como se manifestam as alienações no mundo, e, por isso, ela tem relevância para nós enfrentarmos hoje nossos dilemas.
 


O conceito de geo-filosofia na obra O que é filosofia? de Deleuze e Guattari
Jean Pierre Gomes Ferreira
UECE

Este trabalho tem por objetivo principal analisar a relação da filosofia com a terra na obra O que é a filosofia?, de Gilles Deleuze e Félix Guattari, a partir do conceito de geo-filosofia. Tal relação, expressa neste conceito, também aparece na definição da filosofia como disciplina criadora de conceitos enquanto “territórios”, na definição de um plano de imanência definido como a “terra” e na definição do filósofo como personagem conceitual, isto é, como aquele que articula o território e a terra a partir de uma desterritorialização e de uma reterritorialização absoluta. Nossa tese é que a geo-filosofia de Deleuze e Guattari resume de modo auspicioso a relação da filosofia com a terra definida enquanto origem ou terra por vir. Relação esta que se dá por meio da criação de uma nova terra ou uma terra por vir propriamente filosófica, o conceito, a partir de um plano de imanência e de um personagem conceitual. Como metodologia a este trabalho, destacamos a leitura e análise da obra O que é a filosofia?, bem como de outros livros dos autores relacionados ao tema. Nossa conclusão, ainda parcial, é que a geo-filosofia definida por Deleuze e Guattari como a relação do conceito com o plano de imanência, ou do território com a terra, expõe de modo particular a relação da filosofia com a terra como sendo a de um a-partamento, isto é, uma separação que é ao mesmo tempo uma ligação com a terra. Neste sentido, a criação de conceitos a partir de um plano de imanência e um personagem conceitual sendo um a-partamento do filósofo, e da filosofia, em relação à terra por meio de um território propriamente seu, uma nova terra ou uma terra por vir. Por fim, agradecemos o apoio da FUNCAP no desenvolvimento desta pesquisa.
 


Espinosa versus Hobbes: a Propósito do Direito Natural
Jefferson Alves de Aquino
UFRN

Embora seja a Ética demonstrada segundo a ordem geométrica a obra máxima de Espinosa (1632-1677), vem crescendo o interesse por seus demais escritos, notadamente os Tratados teológico-político e Político. Tem-se feito cada vez mais perceptível o entrecruzamento entre a defesa do regime democrático apresentada nestas últimas obras e a metafísica imanentista apresentada na Ethica. Com o intuito de clarificar uma tal relação é que nos propomos aqui a apresentar os vínculos da política e da ontologia espinosanas, explicitando as conseqüências do imanentismo como estrutura ideal de realidade a fornecer as bases sólidas para uma defesa do regime democrático. Ora, assim como a identificação Deus sive Natura é a expressão máxima da negação do princípio de mundo como transcendência, também o regime democrático seria aquele que mais reduziria a dicotomia súdito-soberano, identificando ao máximo na esfera do poder as duas camadas. Inevitável a partir daqui a acareação da concepção política espinosana com aquela de Thomas Hobbes que de certo modo o influenciara, mas à qual sobrepõe o filósofo holandês seu próprio matiz. Para Hobbes, o estado de natureza seria aquela condição hipotética pela qual penso a liberdade irrestrita de um mundo sem leis civis, em que todos têm direito a tudo e, conseqüentemente, em que todos se voltam contra todos. O pacto aparece em Hobbes como a instância inquebrantável pela qual a paz é garantida, bem como o próprio poder soberano: uma vez o pacto constituído, por nada deve ser rompido, pois é ele a ultimação necessária de um acordo para a cessação da guerra entre todos. Mas para Espinosa o pacto é princípio exterior à realidade efetiva, pois se já não virmos no acordo qualquer garantia de usufruto de um bem, e se temos efetivo poder para rompê-lo, nada poderá impedir a ruptura. A tensão da política de Espinosa reside na admissão de que só é possível intervir legalmente na ordem social mediante as prescrições corroboradas pelo soberano; mas ao mesmo tempo a manutenção do direito natural (a potência da qual não podemos abdicar por ser constituinte essencial de nossa natureza) possibilita a legitimidade de repúdio ao soberano: não do ponto de vista do direito civil, mas da potência natural que jamais pode ser eliminada. Por isso havemos de procurar a forma de soberania mais concorde com o poder natural, aquela em que a ordem comunitária mais se assemelha à ordem natural. No Tratado político vemos o Estado democrático ser chamado Estado absoluto: o regime de governo absoluto é aquele mais conforme ao princípio da proteção e da paz, é precisamente o menos absolutista, o menos condizente com o summum malum da discórdia e do conflito, é aquele no qual mais se identificam política e ontologia imanenistas.
 


Hartmann e Heidegger, um mal entendido
Jesus Vazquez Torres
UFPE

Trata-se de analisar os desvios da leitura que Hartmann faz de Ser e Tempo, nos Fundamentos da Ontologia, a partir da diferença entre a concepção da fenomenologia que ambos autores desenvolvem. De fato, embora Hartmann pretenda assumir um ponto de partida que exclua todo pressuposto, não consegue evitar um realismo gnosiológico e ontológico de base, que determina sua interpretação da atitude de pensamento assumida por Heidegger como uma forma de deturpação subjetivista do problema ontológico.
 


Entre júbilo e ruína: o amor fati nietzscheano
Joana Brito de Lima
UFRN

A distinção entre pessimismo e trágico se inicia com O Nascimento da Tragédia, obra na qual Nietzsche se apropria do pensamento de Arthur Schopenhauer e se distancia da filologia; tal distinção continua em Humano, demasiado Humano com o abandono do pessimismo schopenhaueriano. Neste período se anuncia, também, o desencanto do filósofo com o músico Richard Wagner, considerado por Nietzsche o responsável pelo renascimento do espírito trágico na Alemanha moderna. O Nascimento da Tragédia apresenta uma teoria do trágico fundamentada na oposição e complementaridade entre apolíneo e dionisíaco, racionalismo e instinto, e na recusa do pessimismo como afirmação da vida. De tal maneira que, fundamentalmente, três questões são colocadas por Nietzsche nesta obra: a primeira trata da elaboração de uma teoria sobre a tragédia baseada nas divindades Apolo e Dioniso; a segunda consiste na crítica da ciência e do otimismo socrático segundo o qual o mundo seria racionalmente ordenado, e no elogio da arte, ao afirmar que a existência do mundo só se justifica como fenômeno estético; a terceira questão, de maior interesse para esta pesquisa, consiste na rejeição do pessimismo e na celebração irrestrita da vida – é isto o que Nietzsche define por pessimismo dionisíaco em oposição ao pessimismo romântico (Gaia Ciência, §370). Enfim, o objetivo desta comunicação é discutir como o projeto de uma teoria da tragédia repercute na máxima amor fati, enunciada no § 276 da Gaia Ciência por concentrar, decisivamente, a idéia de aceitação e afirmação da vida, ou mais precisamente, amor ao destino: o ocaso do herói trágico, entre júbilo e ruína.
 


EIKASIA: A linha Dividida em Platão aplicada ao nível mais inferior da Caverna
Jorge dos Santos Lima
UFRN

O pensamento platônico é estruturado a partir da Doutrina da Linha dividida. Segundo Ericsom e Fossa, essa Doutrina demonstra que a própria Linha Dividida deveria ser entendida em relação a cada um dos quatros modos de apreensão postulados por esta doutrina. Diante disto, este estudo resolve problematizar a seguinte questão: Como se pode entender a Linha dividida em relação ao primeiro nível, a Eikasia? Em outras palavras, se a linha dividida, referente ao primeiro modo de apreensão da realidade, ou seja, referente a Eikasia, possui quatro níveis, qual seria o conteúdo destes níveis? Com efeito, nesse trabalho objetiva-se analisar, dentro da Doutrina em destaque, o nível mais inferior da Caverna, o nível das sombras, o da Eikasia. Para Platão algumas pessoas naturalmente irão apreender a realidade acreditando dogmaticamente que tudo o que está diante de seus sentidos é verdadeiro (Eikasia). Outros poderão atingir um nível no qual predomina a opinião científica (Pístis). Existem aqueles que alcançam um terceiro nível, são os que chegam a esfera do raciocínio (díanoia); por fim, um quarto nível de pessoas que alcançam, pela intuição, a apreensão imediata das idéias transcendentais (nóesis). Porém, cada nível destes é representado internamente por uma estrutura epistemológica que é a Linha Dividida a qual é destacada em Platão consoante termos matemáticos, isto pode ser percebido, principalmente, através das relações de proporcionalidade na forma como está no final do Livro VI de A República. Independente do nível epistemológico, a pessoa consegue apreender o mundo a partir dessas relações de proporções, sendo diferenciado de uma pessoa para outra, não a estrutura, mas as formas de apreensão da realidade e, por isso, o conhecimento que cada um possui como também sua visão de mundo e de vida. No nível das Sombras, já podemos antecipar, a proporcionalidade se configura através de termos dogmáticos.
 


Dificuldades Envolvidas na Defesa dos Bares Particulars
Josailton Fernandes de Mendonça
UERN

Uma das soluções indicadas ao problema da natureza dos particulares é o chamado Bare Particulars (particulares puros ou particulares isolados). Esta solução se contrapõe àquela que estabelece a identificação dos particulares a partir de um feixe ou pacote de características as quais expressam igualmente a identidade do individuo. Neste sentido não existe algo que seja um puro particular. Contudo esta tese é inconciliável com a idéia comum de que todo corpo material pode mudar com respeito a uma ou mais características enquanto permanece numericamente o mesmo. Daí a idéia dos Bare Particulars. De acordo com seus defensores esta tese confere individualidade e unicidade ao particular não obstante as suas características. Assim permite-se a possibilidade lógica de dois ou mais distintos particulares terem todas as características em comum, isto é, a diversidade dos idênticos. Mas os críticos dessa idéia alertam para o fato dos Bare Particulars serem epistemologicamente suspeitos, no sentido de que a única referência que se pode fazer a qualquer particular é por meio das suas características, assim os Bare Particulars são na verdade um pressuposto ao qual não se tem acesso ao tratar os indivíduos, logo uma noção, epistemologicamente inócua. O objetivo então do trabalho é apresentar as dificuldades envolvidas na defesa dos Bare Particulars tomando como referência o debate entre Edwin Allaire, V.C.Chappell e J.W. Meiland em artigos publicados na Philosophical Studies nos ano de 1963, 1964, 1965 e 1966.
 


O Problema dos Universais na Filosofia Contemporânea
José Maria Arruda
UFC

Alguns filósofos – entre eles, Platão, Aristóteles, Leibniz e Frege – consideram que dada uma entidade x qualquer, ou bem x é uma entidade irrepetível, que não pode ser instanciada por nenhuma outra entidade ou x é uma entidade repetível, que pode ser instanciada em diversos segmentos distintos do espaço-tempo. Se x for uma entidade do primeiro tipo, então x é um particular; se pertencer ao segundo, x é um universal. À primeira vista, o traço distintivo entre particulares e universais parece residir no fato de que itens particulares são individuados e identificados por sua localização espaço-temporal singular, enquanto entidades universais são capazes de estar inteiramente presentes em segmentos descontínuos do espaço-tempo. Por esse critério, dois particulares não podem ocupar exatamente o mesmo segmento do espaço-tempo. Os universais, ao contrário, podem existir completamente em diversas porções descontínuas do espaço-tempo, bem como podem estar presentes simultaneamente no mesmo segmento do espaço-tempo.
Por platonismo devemos entender uma posição filosófica que defende que a distinção entre particulares e universais é insuperável e que entidades pertencentes a um desses tipos não podem ser reduzidas a entidades do outro tipo. Por nominalismo devemos entender a negação de que particulares e universais sejam categorias ontológicas irredutíveis. Para o nominalista, a postulação da existência dos universais é teoricamente desnecessária e ontologicamente falsa. Os platonistas explicam a concordância predicativa e a referência de termos abstratos apelando para universais; os nominalistas, inversamente, explicam os universais como hipóstase e reificação dos mecanismos semânticos da predicação e da referência.
O debate acerca da existência dos universais está presente em diversas disciplinas como Ontologia, Lógica, Filosofia da Linguagem, Filosofia da Matemática, Epistemologia e até mesmo Ética. Dependendo do contexto, o platonista inclui entre as entidades do domínio ontológico de seu discurso coisas tais como: a) propriedades e atributos – azul, sábio, etc.; b) relações; c) gêneros e espécies; d) objetos matemáticos como classes e números; e) objetos lógico-semânticos como proposições (realismo semântico); f) entidades teóricas tais como as Leis da Natureza (realismo científico); g) entidades abstratas complexas como mundos possíveis (realismo modal); h) fatos morais e i) até personagens fictícios como o Visconde de Sabugosa. Assumir o platonismo em um domínio qualquer de objetos não significa assumi-lo em todos os outros domínios. O universo platônico tende a ser demograficamente denso, habitado por entidades de diversos tipos, e sua ontologia é não-finitista.
O nominalista, por seu turno, pretende apontar as dificuldades dos comprometimentos ontológicos do platonismo e insiste que a invocação de universais para explicar aspectos semânticos da linguagem não é imprescindível. O apelo a um domínio de entidades, para além dos objetos concretos, não passaria de um “flatus vocis” sem nenhuma validade ontológica, resultante de reificações indevidas e da confusão entre signo e coisa. O nominalista assume um programa eliminativista e redutivo, segundo o qual toda sentença envolvendo universais tem como condição de verdade sentenças envolvendo apenas particulares. Ao contrário do platonista, ele tem predileção por paisagens desertas e por simplicidade teórica, desconfia de semânticas intensionalistas, abomina ontologias não-finitistas.
 


O sentido existencial e metafísico do mundo em Heidegger
José Ricardo Barbosa Dias
UFPB

O ser-aí (Dasein) é sua existência. Esta última consiste em possibilidades de ser. Heidegger denomina tais possibilidades de existenciais. O mundo do ser-aí é um desses existenciais. Por isso, o sentido de mundo, segundo Heidegger, é existencial. A significância ou totalidade de sentidos é o que primeiro nomeia esse mundo existencial. Porém, é a transcendência do ser-aí que diz, num nível mais profundo, esse sentido existencial de mundo. Heidegger, em Ser e tempo, de modo negativo explicita esse sentido existencial de mundo contrapondo-o a um sentido metafísico de mundo. Sentido que prevaleceu na tradição filosófica. Descartes, enquanto formulador do mundo como res extensa, é uma expressão desse sentido metafísico de mundo. Sentido que tem como fundamento a troca do ser pelo ente. A formulação cartesiana de mundo é, assim, testemunha do que Heidegger denomina o esquecimento do ser, no qual se mantém o mundo moderno como imagem (Weltbild).
 


O apolíneo e o dionisíaco em prol da vida segundo Nietzsche no Nascimento da Tragédia
José William Moreira Moreno Filho
UFC

O trabalho consiste na busca do esclarecimento dos impulsos naturais artísticos, segundo Nietzsche: o apolíneo e o dionisíaco. Ao analisá-los devidamente, de acordo com nosso autor, vem à tona toda a relevância da arte para a existência humana. A arte em geral e a arte trágica principalmente, é uma poderosa porção médica para o pessimismo e o ceticismo humanos, ou seja, ela é a cura para qualquer tipo de negação da vida, intensificando-a ao ponto de ser desejada eternamente. Isso acontece quando os dois impulsos, o apolíneo e o dionisíaco unem-se, gerando a maior expressão artística de todos os tempos: a tragédia ática. O intuito de Nietzsche nessa obra é trazer de volta a sabedoria trágica para o mundo ocidental moderno, pois segundo ele, após o assassinato da tragédia por Sócrates, a cultura ocidental vem caminhando numa progressiva decadência. Sócrates foi quem embutiu na cultura grega, e conseqüentemente na cultura ocidental em geral, um predomínio da razão (consciência), onde os abismos da existência poderiam ser explicados e justificados, deixando, assim, de lado o instinto, o qual é a principal fonte de criação artística. Dessa forma, a arte fica subsumida aos poderes da razão, um mal que, segundo Nietzsche, acarreta um pessimismo e um ceticismo exacerbados. Portanto, o papel desta apresentação é de refazer brevemente este percurso inaudito proposto por Nietzsche, o qual se caracteriza por ser uma apologia da arte, ao tempo em que é dado um diagnóstico da crise da modernidade.
 


O Agir Comunicativo enquanto Condição para uma Política Democrática na Filosofia de Harbemas
Juliano Cordeiro da Costa Oliveira
UFCE

Este trabalho tem como objetivo principal explicitar e discutir os princípios norteadores da ação comunicativa, buscando a proposta de uma política democrática no pensamento de Habermas. Pretendemos também compreender os processos deformadores ocorridos na esfera pública, decorrentes de uma mudança estrutural, com prejuízos a uma possível ética do discurso no âmbito da sociedade. Além disso, enfatizaremos como a razão instrumental, enquanto ideologia, legitima as questões de Estado como práticas supostamente neutras e técnicas, alterando uma idéia de política deliberativa à luz da ação comunicativa habermasiana. Habermas propõe em sua teoria da ação comunicativa uma mudança do paradigma racional dominante na modernidade, a razão instrumental, para um modelo de racionalidade comunicativa. Ao invés de uma razão instrumental, nosso autor reivindica a necessidade de uma concepção de racionalidade mais abrangente, a razão comunicativa, em que o pensamento racional passa a ser implementado socialmente num processo de interação dialógica dos atores livres, envolvidos numa mesma situação. Para o filósofo, a razão comunicativa adquire maior rigor por meio do que Habermas chama de discurso e atos de fala. Na ação comunicativa, cada interlocutor objetiva uma pretensão de validade sucessível de crítica, em que o outro pode contestar racionalmente tal pretensão de validade, por meio da argumentação e do discurso. É nesta perspectiva que Habermas afirma a relevância de uma razão comunicativa em contraposição à razão instrumental e finalista dominante na modernidade, haja vista que somente descentralizando a influência da razão instrumental no mundo da vida é que podemos criar condições necessárias para uma sociedade democrática. Nosso filósofo detecta que, na contemporaneidade, meios irracionais como o dinheiro e o poder passaram a substituir a linguagem e os atos de fala, em setores como a política.
Diante disso, Habermas argumenta que a política foi colonizada pela razão instrumental e tecnocrática; e se antes a razão iluminista questionou a ordem dos poderes do clero e da nobreza, ela, nos dias de hoje, cessou seu potencial crítico, tornando-se um tipo de razão tão-somente instrumental, que naturaliza e legitima a autoridade dominante. As decisões políticas são tidas como questões apenas técnicas e funcionais, sem que haja qualquer justificação e um amplo debate racional envolvendo toda a sociedade. As disposições políticas não são tomadas e discutidas, portanto, coletivamente, como defende Habermas. Ele argumenta que enquanto, na reprodução da vida social, as relações de poder não forem efetivamente neutralizadas, e a própria sociedade civil ainda ter como principal referência a razão instrumental, que objetiva apenas o lucro e a eficácia do sistema, nenhum sentido de política deliberativa e democrática poderá ser construído realmente. Habermas explicita a necessidade de a política deixar de ser uma mera questão técnica, uma forma de manifestação da racionalidade instrumental que despolitiza os assuntos de Estado, para ser o local em que as grandes decisões são tomadas democraticamente à luz da ação comunicativa. Esta é, portanto, a problemática maior de nossa pesquisa, ou seja, explicitar e discutir os princípios da ação comunicativa, objetivando a noção de uma política democrática em Jürgen Habermas.
 


O conceito sartriano de má fé na obra O Ser e o Nada
Leandro Lelis Matos
UFRN

Na primeira parte da obra O Ser e o Nada, Sartre trabalha o conceito de má-fé, traçando-o no terreno da ontologia. Para ele, a má-fé pode ser encarada como um mecanismo de fuga da consciência do eu, quando posta em conflito com alguma situação que se faça por necessidade desse eu ocultar-se em relação a si mesmo ou quem sabe até a uma outra consciência. Para que a má-fé seja um estado de fuga não é necessária a transcendência, haja visto que a má-fé ocorre interno no sujeito. Diferente da mentira, que sempre ocorre frente ao outro, numa transcendência-transcendida. A má-fé se apresenta como sendo um puro exercício da consciência como enganadora de si. Caso a má-fé seja compreendida como um subterfúgio, isso trás, também, um questionamento no plano existencial: quando a consciência opta por uma conduta de má-fé está enganando-se, mascarando-se e remetendo ao ser o que não é e não ser o que é. Com base nessas explicitações, tentaremos apresentar a má-fé como um sentido inovador da ontologia existencial no seio do pensamento sartreano.
Palavras-chave: Má-fé, ontologia, fuga, Sartre.
 


Nossos atos são livres ou determinados? Kant explica
Leonardo Oliveira Freire
UFRN

Este trabalho pretende analisar a obra Kantiana, quando trata da conduta, mas especificamente o problema da liberdade. Neste escopo, avaliaremos a construção do conceito da autonomia, pois somente por esta ser o homem detentor de dignidade. Pretendemos descrever como Kant, através de sua critica a razão, constrói seu conceito de imputabilidade a partir da liberdade, a saber: se não fôssemos livres, se não tivéssemos o "livre arbítrio, se estivéssemos submetidos ao determinismo, não seríamos responsáveis e não haveria moralidade, por outro lado, se somos livres, podemos ser imputados por agirmos a partir de nosso arbítrio. Assim, podemos dizer que somente diante a analise crítica do conceito de liberdade é que conseguimos entender o porquê de podermos ser punidos ou absorvidos perante um Tribunal.
 


Do grande perigo sobre o tempo da escolha do modelo de vida no Mito de Er de Platão
Lethicia Ouro de Almeida Marques de Oliveira
UFRJ

O Mito de Er, encontrado no final da República de Platão, narra a jornada das almas após a morte do corpo. Depois de receberem as recompensas por suas vidas no céu ou no Tártaro, e contemplarem a estrutura dos astros e suas esferas, as almas devem escolher o próximo modelo de vida que as acompanhará em seu próximo período mortal. O profeta mostra os modelos de vida às almas que, após tirarem a sorte, conhecem a ordem em que devem escolher o seu. Após a escolha, elas são levadas para o fuso de Anánke, a Necessidade, que a torna irreversível, vão à planície de Léthe, o Esquecimento, bebem das águas do rio Amelés, do Descuido, para voltarem a nascer. O mito conta que a escolha do modelo de vida é feita antes de nascermos, e assim, poderíamos concluir que, em vida, basta que a aceitemos e recebamos o que devemos por ela. Contudo, o próprio Sócrates, que conta a história, parece apontar para a possibilidade de tal escolha ser feita na vida temporal. O intuito do nosso texto é mostrar que, e como, essa escolha acontece em vida. Para isso mostraremos: como “antes de nascermos” engloba passado, presente e futuro; como essas três partes do tempo são, enquanto cantadas harmonicamente e simultaneamente pelas Moîrai, apresentadas como o mesmo; como o som do intervalo de oitava cantado pelas Sereias, que está em harmonia com o canto das Moîrai, diz respeito ao todo; como esse todo ou mesmo é, no mito, representado pelo instante da escolha do modelo de vida; quais as passagens nas quais Sócrates aponta a possibilidade de se escolher o modelo de vida em vida; como essa escolha feita em vida pode ser a mesma ou pode ser diferente; como uma mudança em vida da escolha do modelo de vida é exemplificada na definição platônica da filosofia enquanto exercício para a morte; qual o papel do esquecimento na nessa mudança; qual a relação entre memória e vida quando falamos da escolha do modelo de vida feita por quem filosofa.
 


O Universal e o Particular na Concepção de Ideologia em Karl Mannheim
Lorena de Melo Freitas
UFPE

Nossa comunicação tem por objetivo maior discutir o universal e o particular no tocante às concepções respectivamente total e parcial de que se utiliza Karl Mannheim para tipificar os tipos de ideologia. O termo ideologia foi inicialmente criado por um filósofo francês Destutt de Tracy sendo um ramo da zoologia já que esta estuda o comportamento dos organismos vivos e considerava que as idéias eram um conseqüente da interação entre estes organismos e a natureza ou meio ambiente. A conotação perde esta neutralidade, se pudermos assim dizer adquirindo um sentido pejorativo, quando Napoleão Bonaparte ataca Tracy e seus seguidores chamando-os de ideólogos, apesar destes pretenderem uma análise não abstrata, mas científico-materialista das idéias. Contudo o contexto imprime ao termo o sinônimo de abstração da realidade, ideólogos eram pois os que viviam em um mundo especulativo. Com esteio nesta concepção advinda de Napoleão, Karl Marx passa a elaborar um outro sentido que se expressa n’A Ideologia Alemã como equivalente à falsa consciência, ilusão. Posteriormente Lenin vai trabalhar a idéia de ideologia como qualquer concepção da realidade social ou política ligada aos interesses classe que a produz, havendo pois uma ideologia burguesa e uma proletária. Karl Mannheim no seu livro Ideologia e utopia vai apresentar a concepção de ideologia em dois significados distintos e separáveis: o particular e o total. A primeira ocorre quando uma fala apresentada tem disfarces mais ou menos conscientes da real natureza da situação, visto que reconhecer a realidade não combina com os interesses do proponente. A particularidade desta acepção apresenta-se quando se mostra a concepção total que se refere à ideologia de uma época ou de um grupo histórico-social como de uma classe, visto o conceito significar não idéias ou representações isoladas, mas o conjunto da estrutura de consciência de uma classe social. Quando em Sociologia do Conhecimento o autor prefere falar de perspectiva socialmente vinculada a usar o termo ideologia ele enfatiza um aspecto da ideologia total ou perspectiva social total ao dizer que ela não é somente fonte de erro ou ilusão, mas também fonte de lucidez e de conhecimento verdadeiro. Nossa tese é de que esta perspectiva inclusiva da ideologia total que ocorre no seu segundo livro citado, é em outros termos uma visão universal frente ao entendimento de Karl Marx que, identificando ideologia como consciência invertida, de uma certa forma particulariza a noção da palavra. Assim, trabalharemos a contraposição entre universal e o particular no pensamento de Karl Mannheim em dois planos: inicialmente na própria distinção que ele faz em ideologia total e parcial e num segundo plano aprofundando a discussão da ideologia total numa análise crítico-comparativa com a noção trabalhada por Karl Marx.
 


O Estado Liberal e a Educação
Luiz Roberto Alves dos Santos
FANEC

O presente trabalho pretende indicar quais são as grandes necessidades para o desenvolvimento de uma sociedade democrática, principalmente no que versa sobre a formação pedagógica desta, ou seja, pretende apresentar, em um nível teórico reflexivo, quais as características fundamentais para que possa existir o moderno Estado de Direito. Nesse sentido, o trabalho aqui proposto parte da pressuposição de que na atual conjuntura política globalizada, sobre a qual incidem certas pressões basilares para que um país qualquer seja reconhecido como um Estado de direito, são necessários determinados parâmetros mínimos para os cidadãos se compreendam dentro de uma democracia. Tais parâmetros dizem respeito prioritariamente à manutenção de dada ordem liberal que preserve sobremaneira o indivíduo, onde a ordenança estatal seria minimizada sobre as reais necessidades subjetivas, de maneira que os interesses individuais convergiriam, em última análise, para o bem coletivo. Por este prisma, o labor aqui realizado pretende mostrar que uma concepção como esta implica necessariamente em uma educação – social – que objetive emancipar os indivíduos e, conseqüentemente, transformá-los em cidadãos plenos, ou melhor, em cidadãos globalizados.
 


O Sistema Representativo Parlamentar e sua Crise Estrutural
Luiz Vicente Vieira
UFPE

A partir de uma hermenêutica de conceitos chaves da Filosofia Política moderna, paralelamente à análise da lógica interna que rege à sociedade Liberal moderna, busco diagnosticar os problemas enfrentados atualmente pelo sistema representativo moderno, o que pode explicar as origens de suas crises recorrentes. Mediante a explicitação da reinterpretação destes conceitos, operada pela corrente do liberalismo, objetivo, então, determinar até que ponto tais crise contribuem para minar as estruturas do Estado liberal de Direito, pondo em risco sua própria sobrevivência.
 

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