Alteridade e Carne: um Diálogo com Derrida e Merleau-Ponty
Iraquitan de Oliveira Caminha
UFPB
Nossa intenção é analisar o sentido da noção de alteridade, empregado por
Derrida, a partir da experiência de um corpo que toca um “outro” corpo. Por
um lado, com base nesta analise, propomos compreender a proposta de
desconstrução da noção de carne concebida por Merleau-Ponty, que, segundo
Derrida, considera o tocar a partir de um elo de fusão entre tocado e
tocante. Por outro lado, pretendemos examinar a noção de carne em
Merleau-Ponty, contemplando, ao mesmo tempo, uma dimensão reflexiva, fundada
na reversibilidade do sentir, e uma outra incompossível, fundada na condição
existencial do corpo próprio como abertura permanente ao “outro”. Neste
sentido, pensamos que um diálogo entre Derrida e Merleau-Ponty para tratar
do problema da “alteridade” e da “carne” pode ser bastante pertinente para
examinar a questão: “o universo o particular hoje”, tema do IV Encontro
Interinstitucional de Filosofia (UFRN-UFPB-UFPE).
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O conceito de causa sui na Ética de Benedictus de Spinoza
Isabel Maria Pinheiro Arruda
UECE
Nosso objetivo com o presente trabalho é expor e analisar o conceito de
causa sui na Ética de Benedictus de Spinoza. A Ética inicia-se com oito
definições que fazem referência e explicitam a causa de si, a finitude, a
substância, os atributos, os modos, a sua concepção de Deus, a liberdade e a
eternidade. A seguir, Spinoza demonstra que só existe uma única substância,
que, por definição e absoluta necessidade do sistema, é causa sui, ou, em
outras palavras, não é concebida por outra coisa e não necessita de nada
além de si mesma para continuar existindo. Ou seja, a substância tem inteira
autonomia, pois a causa, além de ser condição, é também o fundamento. Neste
sentido, o conceito de causa sui adquire uma maior relevância na filosofia
de Spinoza, pois é responsável por promover a ruptura com a tradição
filosófica, excessivamente revestida de uma conotação predominantemente
ontológica e lógica. Uma vez assimilado este conceito, torna-se possível a
compreensão do real, pois, em Spinoza, tudo o que existe, exprime de maneira
certa e determinada a natureza ou essência de Deus; isto é, tudo que existe
exprime de modo certo e determinado a potência de Deus, que é causa e
fundamento atual de todas as coisas e, por conseguinte, dele resulta algum
efeito. Por fim, demonstraremos como o conceito de causa sui em Spinoza
apresenta-se dissociado da noção da filosofia tradicional, pois foi
associado à necessidade e à imanência, possibilitando o estabelecimento de
elos entre a substância absolutamente infinita e as coisas finitas.
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Rorty e a questão da filosofia sem espelho
Ivanaldo Santos
UERN
Para Richard Rorty, a partir do século XVII, com o abandono da discussão
sobre Deus e o desenvolvimento da nova filosofia da ciência inaugurada com
Descartes e Locke, a discussão sobre a mente, o conhecimento e a filosofia,
passou a ser dominadas pela idéia da representação. Sendo assim, usualmente,
a mente é comparada a um espelho que reflete a realidade, o conhecimento
deve ocupar-se da precisão desse reflexo e a filosofia é o saber que se
ocupa em discutir, com precisão, a relação mente, realidade e conhecimento.
Para Rorty, a procura, por parte da filosofia, de correspondência entre
mente, conhecimento e realidade, tem conduzido a filosofia, e, de certa
forma, as outras áreas do conhecimento, a edificar discussões inócuas e um
conhecimento apenas aparente. A filosofia não pode ser, como deseja Kant, o
tribunal da razão pura capaz de julgar outras áreas do saber. É preciso,
pois, acabar com essa ilusão. Para Rorty, os problemas clássicos da
filosofia se tornaram áreas autônomas como, por exemplo, a ciência política,
a sociologia, a antropologia, a economia, a neurologia e as demais ciências
cognitivas. Sendo assim, a idéias de “mente” perdeu seu sentido com as
descobertas da neurologia e das demais ciências cognitivas. Com isso, Rorty
propõe que a filosofia abandone a idéia de “mente” e a pretensão, um tanto
quanto arrogante, de julgar as outras áreas do saber. A filosofia perde o
seu “espelho”, isto é, a mente, e torna-se uma análise da cultura.
Palavras-chave: Rorty, filosofia e mente
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O realismo interno de Putnam e a noção de substância-identidade
Ivânio Lopes de Azevedo Júnior
UFC
Considerando a relevância do tradicional debate entre realismo e
nominalismo, juntamente com as implicações epistemológicas advindas de tais
posturas, acredito ser oportuna uma análise sobre alguns argumentos
fornecidos pela filosofia analítica contemporânea, em especial, pelo
realismo interno de Putnam. Digo isso, porque a teoria elaborada por Hilary
Putnam tenta ser uma alternativa frente ao realismo metafísico e ao
anti-realismo e, também, entre realismo e nominalismo. O que me interessa,
nesta comunicação, são as conseqüências das teses defendidas por Putnam no
tocante à teoria do conhecimento científico. Destarte, tenho dois objetivos
específicos: primeiro, expor as teses básicas do internalismo, mostrando em
que sentido o conhecimento humano é em parte descoberta e em parte invenção;
em segundo lugar, analisarei a ficção da Terra Gêmea, bem como o argumento
de que é possível fixar a referência dos termos para tipos naturais mediante
a aplicação de designadores rígidos. Aqui nosso autor constrói uma
interpretação minimalista da noção de “necessidade metafísica” proposta por
Kripke, sugerindo um critério de substância-identidade que nos permite falar
em descobertas científicas de estruturas profundas da natureza, sem o enorme
ônus derivado dos compromissos metafísicos kripkeanos. Isso é possível em
virtude da postura flexível, por parte de Putnam, em admitir a viabilidade
de se pensar mundos possíveis nos quais as leis da natureza sejam
diferentes, fazendo com que a água, por exemplo, mesmo possuindo a estrutura
química H2O, tenha comportamentos distintos dos que conhecemos no mundo
atual. Em outras palavras, a própria afirmação “a água é necessariamente H2O”
é revisável, ou seja, a ciência pode chegar à conclusão que a água possui
uma composição química diferente, então, seríamos obrigados a corrigir nossa
afirmação. Uma vez que o critério de substância-identidade consiste na
conjunção entre a composição do elemento natural e as leis que determinam
seu comportamento e, que, mundos possíveis podem possuir outras leis, a
pergunta pelas condições necessárias e suficientes para uma substância ser
água em todos os mundos possíveis perde completamente o sentido. No entanto,
caso a água seja efetivamente H2O, ela necessariamente possui essa
estrutura. Putnam reconhece tanto a falibilidade epistêmica da ciência
quanto a interferência da estrutura objetiva da substância natural. Assim,
ele conclui que os significados dos termos para espécies naturais são
estabelecidos pela interferência da natureza exterior em consonância com o
esquema conceitual a partir de onde as coisas são nomeadas. Seguindo essa
direção, apontarei os sentidos em que Putnam aceita e rejeita a idéia de
senso comum que postula a existência objetiva de leis da natureza, ou, de
necessidade física. O artigo Is Water Necessarily H2 O?, será minha
principal fonte bibliográfica. Em suma, acredito que ao final deste
trabalho, terei oferecido um breve esboço do realismo interno e, do mesmo
modo, uma direção para compreendermos suas contribuições à filosofia das
ciências.
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O papel do princípio do contexto no projeto Logicista de Gottlob Frege
Izabel Cristina Izidoro de Souza
UFPE
Na introdução de Os Fundamentos da Aritmética (Die Grundlagen der Arithmetik)
de 1884 Frege apresenta os três princípios fundamentais da sua investigação.
O segundo deles veio a ser conhecido como o princípio do contexto: “Deve-se
perguntar pelo significado das palavras no contexto da proposição e não
isoladamente” (p. X). Ele reaparece no § 60 na passagem crucial, §§ 55-61,
em que Frege argumenta pela necessidade de considerar os números como
objetos autônomos e como uma parte importante da justificação para assim
considerá-los. Ele é então reiterado no § 62 no começo da passagem
igualmente importante, §§ 62-69, em que Frege expõe suas razões para definir
os números cardinais como classe de conceitos. E finalmente, aparece no §
106, no curso da recapitulação dos principais resultados do livro. Mas
apesar do princípio do contexto exercer um papel importante nas seções
centrais de Os Fundamentos da Aritmética ele não é afirmado novamente em
seus trabalhos posteriores, embora também não seja explicitamente repudiado.
Na literatura secundária não há concordância acerca da manutenção ou não do
princípio do contexto nos escritos posteriores de Frege. Angelelli afirma
que o princípio do contexto é afirmado apenas em Os Fundamentos da
Aritmética. E enfatiza que Frege em sua controvérsia com Hilbert, nega o
princípio do contexto quando afirma que as palavras devem ter um significado
independente dos seus contextos. Assim, Angelelli argumenta que o princípio
do contexto não tem nem o significado nem a importância geralmente atribuída
a ele. Michael D. Resnik cita uma passagem de uma carta de Frege a Peano de
1896 em que ele afirma que para uma argumentação ser possível, cada palavra
deve ter uma referência, a mesma em todos as ocorrência, independentemente
do resto da sentença, isto é, do contexto. Para Resnik esta passagem é uma
explícita contradição ao princípio do contexto. Ao contrário das posições
acima mencionadas Michael Dummett defende a manutenção do princípio do
contexto. Segundo Dummett ele aparece em outros textos de forma modificada
após Frege ter assimilado sentenças como nomes próprios. No § 10 do Vol. I
do Grundegetz, há um apelo claro ao que ele chama de princípio do contexto
generalizado. Dessa forma, nós intencionamos, nessa comunicação, analisar as
controvérsias acerca do princípio do contexto e o seu papel no
desenvolvimento do logicismo de Frege.
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O Externalismo Causal-Histótico de Donald Davidson
Jaime Biella
UFRN
O Externalismo é um conjunto de teorias que, em oposição ao subjetivismo,
vem se desenvolvendo desde a publicação de The Meaning of Meaning, de Hilary
Putnam (1975) e Individualism and the Mental de Tyler Burge (1979). Davidson
apresentou em vários artigos a sua própria teoria externalista, que ele
classificou de “modest form of externalism”. Além de apresentar as
principais teses externalistas de Davidson (que definiremos como
Externalismo Causal-Histórico) e a relação deste tema com a tese da
“autoridade da primeira pessoa”, também conhecido como o problema do
“conhecimento da própria mente”, o objetivo do nosso trabalho é verificar se
é possível, como Davidson pretende, conciliar suas teses externalistas com o
fisicalismo de ocorrência (token physicalism) que Davidson apresentou em
Mental Events (1970).
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Ceticismo e Naturalismo na Filosofia de Hume
Jaimir Conte
UFRN
Autor de grandes obras filosóficas como o Tratado da natureza humana
(1739-40), Investigação sobre o entendimento humano (1748) e Investigação
sobre os princípios da moral (1751), David Hume (1711-1776) é também autor
de vários escritos sobre religião nos quais se opõe, em praticamente todos
os pontos, à ideologia religiosa predominante em seu tempo. O mais
penetrante, filosófico e substancial de seus trabalhos sobre o tema são os
Diálogos sobre a religião natural, cuja publicação só aconteceu depois de
sua morte, em 1779. Outro trabalho significativo, apesar de não ter recebido
a atenção merecida, é a História natural da religião (1757). Meu objetivo é
fazer uma apresentação geral desta obra, chamando a atenção para os seus
aspectos epistemológicos. Procurarei mostrar como, na História natural da
religião, Hume tenta oferecer uma explicação em termos puramente naturais
das origens e causas da crença religiosa.
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O Conceito de Trabalho para Marx
James Wilson Januário de Oliveira
UFCE
Para Marx, o conceito de trabalho, esboçado nos Manuscritos
Econômico-Filosóficos, é de condição sine qua non para a sociabilidade
humana, sem o qual não seria possível a produção e a reprodução do homem, do
ser social. Ser este, que pelo trabalho, pela atividade vital, transforma a
natureza e se auto-transforma, possibilitando, com isto, a liberdade humana
para criar livre e diversificadamente, diferente dos demais animais, que
estão preso ao determinismo cego da natureza. Mas, no âmbito da
sociabilidade hodierna, o trabalho deixa de ser essa atividade livre e
consciente, pois o processo de objetivação humana passa a ocorrer de forma
estranhada e se submete aos ditames do mercado, separando os produtores dos
meios de produção e do produto final de seu trabalho. Por conseguinte, o
homem torna-se um ser estranhado com o seu produto, com sua atividade,
consigo mesmo e com os outros homens. Com isto, queremos demonstra que, para
Marx, há sim um conceito de trabalho positivo (o trabalho livre, consciente
e criativo), que, todavia, na sociabilidade moderna, passou a incorporar
também um caráter negativo, que é o estranhamento (o trabalho repetitivo,
mecânico, assalariado) que se fará presente no processo de objetivação dos
homens. Essa questão é a base para se entender como se manifestam as
alienações no mundo, e, por isso, ela tem relevância para nós enfrentarmos
hoje nossos dilemas.
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O conceito de geo-filosofia na obra O que é filosofia? de Deleuze e
Guattari
Jean Pierre Gomes Ferreira
UECE
Este trabalho tem por objetivo principal analisar a relação da filosofia com
a terra na obra O que é a filosofia?, de Gilles Deleuze e Félix Guattari, a
partir do conceito de geo-filosofia. Tal relação, expressa neste conceito,
também aparece na definição da filosofia como disciplina criadora de
conceitos enquanto “territórios”, na definição de um plano de imanência
definido como a “terra” e na definição do filósofo como personagem
conceitual, isto é, como aquele que articula o território e a terra a partir
de uma desterritorialização e de uma reterritorialização absoluta. Nossa
tese é que a geo-filosofia de Deleuze e Guattari resume de modo auspicioso a
relação da filosofia com a terra definida enquanto origem ou terra por vir.
Relação esta que se dá por meio da criação de uma nova terra ou uma terra
por vir propriamente filosófica, o conceito, a partir de um plano de
imanência e de um personagem conceitual. Como metodologia a este trabalho,
destacamos a leitura e análise da obra O que é a filosofia?, bem como de
outros livros dos autores relacionados ao tema. Nossa conclusão, ainda
parcial, é que a geo-filosofia definida por Deleuze e Guattari como a
relação do conceito com o plano de imanência, ou do território com a terra,
expõe de modo particular a relação da filosofia com a terra como sendo a de
um a-partamento, isto é, uma separação que é ao mesmo tempo uma ligação com
a terra. Neste sentido, a criação de conceitos a partir de um plano de
imanência e um personagem conceitual sendo um a-partamento do filósofo, e da
filosofia, em relação à terra por meio de um território propriamente seu,
uma nova terra ou uma terra por vir. Por fim, agradecemos o apoio da FUNCAP
no desenvolvimento desta pesquisa.
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Espinosa versus Hobbes: a Propósito do Direito Natural
Jefferson Alves de Aquino
UFRN
Embora seja a Ética demonstrada segundo a ordem geométrica a obra máxima de
Espinosa (1632-1677), vem crescendo o interesse por seus demais escritos,
notadamente os Tratados teológico-político e Político. Tem-se feito cada vez
mais perceptível o entrecruzamento entre a defesa do regime democrático
apresentada nestas últimas obras e a metafísica imanentista apresentada na
Ethica. Com o intuito de clarificar uma tal relação é que nos propomos aqui
a apresentar os vínculos da política e da ontologia espinosanas,
explicitando as conseqüências do imanentismo como estrutura ideal de
realidade a fornecer as bases sólidas para uma defesa do regime democrático.
Ora, assim como a identificação Deus sive Natura é a expressão máxima da
negação do princípio de mundo como transcendência, também o regime
democrático seria aquele que mais reduziria a dicotomia súdito-soberano,
identificando ao máximo na esfera do poder as duas camadas. Inevitável a
partir daqui a acareação da concepção política espinosana com aquela de
Thomas Hobbes que de certo modo o influenciara, mas à qual sobrepõe o
filósofo holandês seu próprio matiz. Para Hobbes, o estado de natureza seria
aquela condição hipotética pela qual penso a liberdade irrestrita de um
mundo sem leis civis, em que todos têm direito a tudo e, conseqüentemente,
em que todos se voltam contra todos. O pacto aparece em Hobbes como a
instância inquebrantável pela qual a paz é garantida, bem como o próprio
poder soberano: uma vez o pacto constituído, por nada deve ser rompido, pois
é ele a ultimação necessária de um acordo para a cessação da guerra entre
todos. Mas para Espinosa o pacto é princípio exterior à realidade efetiva,
pois se já não virmos no acordo qualquer garantia de usufruto de um bem, e
se temos efetivo poder para rompê-lo, nada poderá impedir a ruptura. A
tensão da política de Espinosa reside na admissão de que só é possível
intervir legalmente na ordem social mediante as prescrições corroboradas
pelo soberano; mas ao mesmo tempo a manutenção do direito natural (a
potência da qual não podemos abdicar por ser constituinte essencial de nossa
natureza) possibilita a legitimidade de repúdio ao soberano: não do ponto de
vista do direito civil, mas da potência natural que jamais pode ser
eliminada. Por isso havemos de procurar a forma de soberania mais concorde
com o poder natural, aquela em que a ordem comunitária mais se assemelha à
ordem natural. No Tratado político vemos o Estado democrático ser chamado
Estado absoluto: o regime de governo absoluto é aquele mais conforme ao
princípio da proteção e da paz, é precisamente o menos absolutista, o menos
condizente com o summum malum da discórdia e do conflito, é aquele no qual
mais se identificam política e ontologia imanenistas.
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Hartmann e Heidegger, um mal entendido
Jesus Vazquez Torres
UFPE
Trata-se de analisar os desvios da leitura que Hartmann faz de Ser e Tempo,
nos Fundamentos da Ontologia, a partir da diferença entre a concepção da
fenomenologia que ambos autores desenvolvem. De fato, embora Hartmann
pretenda assumir um ponto de partida que exclua todo pressuposto, não
consegue evitar um realismo gnosiológico e ontológico de base, que determina
sua interpretação da atitude de pensamento assumida por Heidegger como uma
forma de deturpação subjetivista do problema ontológico.
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Entre júbilo e ruína: o amor fati nietzscheano
Joana Brito de Lima
UFRN
A distinção entre pessimismo e trágico se inicia com O Nascimento da
Tragédia, obra na qual Nietzsche se apropria do pensamento de Arthur
Schopenhauer e se distancia da filologia; tal distinção continua em Humano,
demasiado Humano com o abandono do pessimismo schopenhaueriano. Neste
período se anuncia, também, o desencanto do filósofo com o músico Richard
Wagner, considerado por Nietzsche o responsável pelo renascimento do
espírito trágico na Alemanha moderna. O Nascimento da Tragédia apresenta uma
teoria do trágico fundamentada na oposição e complementaridade entre
apolíneo e dionisíaco, racionalismo e instinto, e na recusa do pessimismo
como afirmação da vida. De tal maneira que, fundamentalmente, três questões
são colocadas por Nietzsche nesta obra: a primeira trata da elaboração de
uma teoria sobre a tragédia baseada nas divindades Apolo e Dioniso; a
segunda consiste na crítica da ciência e do otimismo socrático segundo o
qual o mundo seria racionalmente ordenado, e no elogio da arte, ao afirmar
que a existência do mundo só se justifica como fenômeno estético; a terceira
questão, de maior interesse para esta pesquisa, consiste na rejeição do
pessimismo e na celebração irrestrita da vida – é isto o que Nietzsche
define por pessimismo dionisíaco em oposição ao pessimismo romântico (Gaia
Ciência, §370). Enfim, o objetivo desta comunicação é discutir como o
projeto de uma teoria da tragédia repercute na máxima amor fati, enunciada
no § 276 da Gaia Ciência por concentrar, decisivamente, a idéia de aceitação
e afirmação da vida, ou mais precisamente, amor ao destino: o ocaso do herói
trágico, entre júbilo e ruína.
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EIKASIA: A linha Dividida em Platão aplicada ao nível mais inferior da
Caverna
Jorge dos Santos Lima
UFRN
O pensamento platônico é estruturado a partir da Doutrina da Linha dividida.
Segundo Ericsom e Fossa, essa Doutrina demonstra que a própria Linha
Dividida deveria ser entendida em relação a cada um dos quatros modos de
apreensão postulados por esta doutrina. Diante disto, este estudo resolve
problematizar a seguinte questão: Como se pode entender a Linha dividida em
relação ao primeiro nível, a Eikasia? Em outras palavras, se a linha
dividida, referente ao primeiro modo de apreensão da realidade, ou seja,
referente a Eikasia, possui quatro níveis, qual seria o conteúdo destes
níveis? Com efeito, nesse trabalho objetiva-se analisar, dentro da Doutrina
em destaque, o nível mais inferior da Caverna, o nível das sombras, o da
Eikasia. Para Platão algumas pessoas naturalmente irão apreender a realidade
acreditando dogmaticamente que tudo o que está diante de seus sentidos é
verdadeiro (Eikasia). Outros poderão atingir um nível no qual predomina a
opinião científica (Pístis). Existem aqueles que alcançam um terceiro nível,
são os que chegam a esfera do raciocínio (díanoia); por fim, um quarto nível
de pessoas que alcançam, pela intuição, a apreensão imediata das idéias
transcendentais (nóesis). Porém, cada nível destes é representado
internamente por uma estrutura epistemológica que é a Linha Dividida a qual
é destacada em Platão consoante termos matemáticos, isto pode ser percebido,
principalmente, através das relações de proporcionalidade na forma como está
no final do Livro VI de A República. Independente do nível epistemológico, a
pessoa consegue apreender o mundo a partir dessas relações de proporções,
sendo diferenciado de uma pessoa para outra, não a estrutura, mas as formas
de apreensão da realidade e, por isso, o conhecimento que cada um possui
como também sua visão de mundo e de vida. No nível das Sombras, já podemos
antecipar, a proporcionalidade se configura através de termos dogmáticos.
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Dificuldades Envolvidas na Defesa dos Bares Particulars
Josailton Fernandes de Mendonça
UERN
Uma das soluções indicadas ao problema da natureza dos particulares é o
chamado Bare Particulars (particulares puros ou particulares isolados). Esta
solução se contrapõe àquela que estabelece a identificação dos particulares
a partir de um feixe ou pacote de características as quais expressam
igualmente a identidade do individuo. Neste sentido não existe algo que seja
um puro particular. Contudo esta tese é inconciliável com a idéia comum de
que todo corpo material pode mudar com respeito a uma ou mais
características enquanto permanece numericamente o mesmo. Daí a idéia dos
Bare Particulars. De acordo com seus defensores esta tese confere
individualidade e unicidade ao particular não obstante as suas
características. Assim permite-se a possibilidade lógica de dois ou mais
distintos particulares terem todas as características em comum, isto é, a
diversidade dos idênticos. Mas os críticos dessa idéia alertam para o fato
dos Bare Particulars serem epistemologicamente suspeitos, no sentido de que
a única referência que se pode fazer a qualquer particular é por meio das
suas características, assim os Bare Particulars são na verdade um
pressuposto ao qual não se tem acesso ao tratar os indivíduos, logo uma
noção, epistemologicamente inócua. O objetivo então do trabalho é apresentar
as dificuldades envolvidas na defesa dos Bare Particulars tomando como
referência o debate entre Edwin Allaire, V.C.Chappell e J.W. Meiland em
artigos publicados na Philosophical Studies nos ano de 1963, 1964, 1965 e
1966.
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O Problema dos Universais na Filosofia Contemporânea
José Maria Arruda
UFC
Alguns filósofos – entre eles, Platão, Aristóteles, Leibniz e Frege –
consideram que dada uma entidade x qualquer, ou bem x é uma entidade
irrepetível, que não pode ser instanciada por nenhuma outra entidade ou x é
uma entidade repetível, que pode ser instanciada em diversos segmentos
distintos do espaço-tempo. Se x for uma entidade do primeiro tipo, então x é
um particular; se pertencer ao segundo, x é um universal. À primeira vista,
o traço distintivo entre particulares e universais parece residir no fato de
que itens particulares são individuados e identificados por sua localização
espaço-temporal singular, enquanto entidades universais são capazes de estar
inteiramente presentes em segmentos descontínuos do espaço-tempo. Por esse
critério, dois particulares não podem ocupar exatamente o mesmo segmento do
espaço-tempo. Os universais, ao contrário, podem existir completamente em
diversas porções descontínuas do espaço-tempo, bem como podem estar
presentes simultaneamente no mesmo segmento do espaço-tempo.
Por platonismo devemos entender uma posição filosófica que defende que a
distinção entre particulares e universais é insuperável e que entidades
pertencentes a um desses tipos não podem ser reduzidas a entidades do outro
tipo. Por nominalismo devemos entender a negação de que particulares e
universais sejam categorias ontológicas irredutíveis. Para o nominalista, a
postulação da existência dos universais é teoricamente desnecessária e
ontologicamente falsa. Os platonistas explicam a concordância predicativa e
a referência de termos abstratos apelando para universais; os nominalistas,
inversamente, explicam os universais como hipóstase e reificação dos
mecanismos semânticos da predicação e da referência.
O debate acerca da existência dos universais está presente em diversas
disciplinas como Ontologia, Lógica, Filosofia da Linguagem, Filosofia da
Matemática, Epistemologia e até mesmo Ética. Dependendo do contexto, o
platonista inclui entre as entidades do domínio ontológico de seu discurso
coisas tais como: a) propriedades e atributos – azul, sábio, etc.; b)
relações; c) gêneros e espécies; d) objetos matemáticos como classes e
números; e) objetos lógico-semânticos como proposições (realismo semântico);
f) entidades teóricas tais como as Leis da Natureza (realismo científico);
g) entidades abstratas complexas como mundos possíveis (realismo modal); h)
fatos morais e i) até personagens fictícios como o Visconde de Sabugosa.
Assumir o platonismo em um domínio qualquer de objetos não significa
assumi-lo em todos os outros domínios. O universo platônico tende a ser
demograficamente denso, habitado por entidades de diversos tipos, e sua
ontologia é não-finitista.
O nominalista, por seu turno, pretende apontar as dificuldades dos
comprometimentos ontológicos do platonismo e insiste que a invocação de
universais para explicar aspectos semânticos da linguagem não é
imprescindível. O apelo a um domínio de entidades, para além dos objetos
concretos, não passaria de um “flatus vocis” sem nenhuma validade
ontológica, resultante de reificações indevidas e da confusão entre signo e
coisa. O nominalista assume um programa eliminativista e redutivo, segundo o
qual toda sentença envolvendo universais tem como condição de verdade
sentenças envolvendo apenas particulares. Ao contrário do platonista, ele
tem predileção por paisagens desertas e por simplicidade teórica, desconfia
de semânticas intensionalistas, abomina ontologias não-finitistas.
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O sentido existencial e metafísico do mundo em Heidegger
José Ricardo Barbosa Dias
UFPB
O ser-aí (Dasein) é sua existência. Esta última consiste em possibilidades
de ser. Heidegger denomina tais possibilidades de existenciais. O mundo do
ser-aí é um desses existenciais. Por isso, o sentido de mundo, segundo
Heidegger, é existencial. A significância ou totalidade de sentidos é o que
primeiro nomeia esse mundo existencial. Porém, é a transcendência do ser-aí
que diz, num nível mais profundo, esse sentido existencial de mundo.
Heidegger, em Ser e tempo, de modo negativo explicita esse sentido
existencial de mundo contrapondo-o a um sentido metafísico de mundo. Sentido
que prevaleceu na tradição filosófica. Descartes, enquanto formulador do
mundo como res extensa, é uma expressão desse sentido metafísico de mundo.
Sentido que tem como fundamento a troca do ser pelo ente. A formulação
cartesiana de mundo é, assim, testemunha do que Heidegger denomina o
esquecimento do ser, no qual se mantém o mundo moderno como imagem (Weltbild).
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O apolíneo e o dionisíaco em prol da vida segundo Nietzsche no Nascimento
da Tragédia
José William Moreira Moreno Filho
UFC
O trabalho consiste na busca do esclarecimento dos impulsos naturais
artísticos, segundo Nietzsche: o apolíneo e o dionisíaco. Ao analisá-los
devidamente, de acordo com nosso autor, vem à tona toda a relevância da arte
para a existência humana. A arte em geral e a arte trágica principalmente, é
uma poderosa porção médica para o pessimismo e o ceticismo humanos, ou seja,
ela é a cura para qualquer tipo de negação da vida, intensificando-a ao
ponto de ser desejada eternamente. Isso acontece quando os dois impulsos, o
apolíneo e o dionisíaco unem-se, gerando a maior expressão artística de
todos os tempos: a tragédia ática. O intuito de Nietzsche nessa obra é
trazer de volta a sabedoria trágica para o mundo ocidental moderno, pois
segundo ele, após o assassinato da tragédia por Sócrates, a cultura
ocidental vem caminhando numa progressiva decadência. Sócrates foi quem
embutiu na cultura grega, e conseqüentemente na cultura ocidental em geral,
um predomínio da razão (consciência), onde os abismos da existência poderiam
ser explicados e justificados, deixando, assim, de lado o instinto, o qual é
a principal fonte de criação artística. Dessa forma, a arte fica subsumida
aos poderes da razão, um mal que, segundo Nietzsche, acarreta um pessimismo
e um ceticismo exacerbados. Portanto, o papel desta apresentação é de
refazer brevemente este percurso inaudito proposto por Nietzsche, o qual se
caracteriza por ser uma apologia da arte, ao tempo em que é dado um
diagnóstico da crise da modernidade.
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O Agir Comunicativo enquanto Condição para uma Política Democrática na
Filosofia de Harbemas
Juliano Cordeiro da Costa Oliveira
UFCE
Este trabalho tem como objetivo principal explicitar e discutir os
princípios norteadores da ação comunicativa, buscando a proposta de uma
política democrática no pensamento de Habermas. Pretendemos também
compreender os processos deformadores ocorridos na esfera pública,
decorrentes de uma mudança estrutural, com prejuízos a uma possível ética do
discurso no âmbito da sociedade. Além disso, enfatizaremos como a razão
instrumental, enquanto ideologia, legitima as questões de Estado como
práticas supostamente neutras e técnicas, alterando uma idéia de política
deliberativa à luz da ação comunicativa habermasiana. Habermas propõe em sua
teoria da ação comunicativa uma mudança do paradigma racional dominante na
modernidade, a razão instrumental, para um modelo de racionalidade
comunicativa. Ao invés de uma razão instrumental, nosso autor reivindica a
necessidade de uma concepção de racionalidade mais abrangente, a razão
comunicativa, em que o pensamento racional passa a ser implementado
socialmente num processo de interação dialógica dos atores livres,
envolvidos numa mesma situação. Para o filósofo, a razão comunicativa
adquire maior rigor por meio do que Habermas chama de discurso e atos de
fala. Na ação comunicativa, cada interlocutor objetiva uma pretensão de
validade sucessível de crítica, em que o outro pode contestar racionalmente
tal pretensão de validade, por meio da argumentação e do discurso. É nesta
perspectiva que Habermas afirma a relevância de uma razão comunicativa em
contraposição à razão instrumental e finalista dominante na modernidade,
haja vista que somente descentralizando a influência da razão instrumental
no mundo da vida é que podemos criar condições necessárias para uma
sociedade democrática. Nosso filósofo detecta que, na contemporaneidade,
meios irracionais como o dinheiro e o poder passaram a substituir a
linguagem e os atos de fala, em setores como a política.
Diante disso, Habermas argumenta que a política foi colonizada pela razão
instrumental e tecnocrática; e se antes a razão iluminista questionou a
ordem dos poderes do clero e da nobreza, ela, nos dias de hoje, cessou seu
potencial crítico, tornando-se um tipo de razão tão-somente instrumental,
que naturaliza e legitima a autoridade dominante. As decisões políticas são
tidas como questões apenas técnicas e funcionais, sem que haja qualquer
justificação e um amplo debate racional envolvendo toda a sociedade. As
disposições políticas não são tomadas e discutidas, portanto, coletivamente,
como defende Habermas. Ele argumenta que enquanto, na reprodução da vida
social, as relações de poder não forem efetivamente neutralizadas, e a
própria sociedade civil ainda ter como principal referência a razão
instrumental, que objetiva apenas o lucro e a eficácia do sistema, nenhum
sentido de política deliberativa e democrática poderá ser construído
realmente. Habermas explicita a necessidade de a política deixar de ser uma
mera questão técnica, uma forma de manifestação da racionalidade
instrumental que despolitiza os assuntos de Estado, para ser o local em que
as grandes decisões são tomadas democraticamente à luz da ação comunicativa.
Esta é, portanto, a problemática maior de nossa pesquisa, ou seja,
explicitar e discutir os princípios da ação comunicativa, objetivando a
noção de uma política democrática em Jürgen Habermas.
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O conceito sartriano de má fé na obra O Ser e o Nada
Leandro Lelis Matos
UFRN
Na primeira parte da obra O Ser e o Nada, Sartre trabalha o conceito de
má-fé, traçando-o no terreno da ontologia. Para ele, a má-fé pode ser
encarada como um mecanismo de fuga da consciência do eu, quando posta em
conflito com alguma situação que se faça por necessidade desse eu ocultar-se
em relação a si mesmo ou quem sabe até a uma outra consciência. Para que a
má-fé seja um estado de fuga não é necessária a transcendência, haja visto
que a má-fé ocorre interno no sujeito. Diferente da mentira, que sempre
ocorre frente ao outro, numa transcendência-transcendida. A má-fé se
apresenta como sendo um puro exercício da consciência como enganadora de si.
Caso a má-fé seja compreendida como um subterfúgio, isso trás, também, um
questionamento no plano existencial: quando a consciência opta por uma
conduta de má-fé está enganando-se, mascarando-se e remetendo ao ser o que
não é e não ser o que é. Com base nessas explicitações, tentaremos
apresentar a má-fé como um sentido inovador da ontologia existencial no seio
do pensamento sartreano.
Palavras-chave: Má-fé, ontologia, fuga, Sartre.
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Nossos atos são livres ou determinados? Kant explica
Leonardo Oliveira Freire
UFRN
Este trabalho pretende analisar a obra Kantiana, quando trata da conduta,
mas especificamente o problema da liberdade. Neste escopo, avaliaremos a
construção do conceito da autonomia, pois somente por esta ser o homem
detentor de dignidade. Pretendemos descrever como Kant, através de sua
critica a razão, constrói seu conceito de imputabilidade a partir da
liberdade, a saber: se não fôssemos livres, se não tivéssemos o "livre
arbítrio, se estivéssemos submetidos ao determinismo, não seríamos
responsáveis e não haveria moralidade, por outro lado, se somos livres,
podemos ser imputados por agirmos a partir de nosso arbítrio. Assim, podemos
dizer que somente diante a analise crítica do conceito de liberdade é que
conseguimos entender o porquê de podermos ser punidos ou absorvidos perante
um Tribunal.
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Do grande perigo sobre o tempo da escolha do modelo de vida no Mito de Er
de Platão
Lethicia Ouro de Almeida Marques de Oliveira
UFRJ
O Mito de Er, encontrado no final da República de Platão, narra a jornada
das almas após a morte do corpo. Depois de receberem as recompensas por suas
vidas no céu ou no Tártaro, e contemplarem a estrutura dos astros e suas
esferas, as almas devem escolher o próximo modelo de vida que as acompanhará
em seu próximo período mortal. O profeta mostra os modelos de vida às almas
que, após tirarem a sorte, conhecem a ordem em que devem escolher o seu.
Após a escolha, elas são levadas para o fuso de Anánke, a Necessidade, que a
torna irreversível, vão à planície de Léthe, o Esquecimento, bebem das águas
do rio Amelés, do Descuido, para voltarem a nascer. O mito conta que a
escolha do modelo de vida é feita antes de nascermos, e assim, poderíamos
concluir que, em vida, basta que a aceitemos e recebamos o que devemos por
ela. Contudo, o próprio Sócrates, que conta a história, parece apontar para
a possibilidade de tal escolha ser feita na vida temporal. O intuito do
nosso texto é mostrar que, e como, essa escolha acontece em vida. Para isso
mostraremos: como “antes de nascermos” engloba passado, presente e futuro;
como essas três partes do tempo são, enquanto cantadas harmonicamente e
simultaneamente pelas Moîrai, apresentadas como o mesmo; como o som do
intervalo de oitava cantado pelas Sereias, que está em harmonia com o canto
das Moîrai, diz respeito ao todo; como esse todo ou mesmo é, no mito,
representado pelo instante da escolha do modelo de vida; quais as passagens
nas quais Sócrates aponta a possibilidade de se escolher o modelo de vida em
vida; como essa escolha feita em vida pode ser a mesma ou pode ser
diferente; como uma mudança em vida da escolha do modelo de vida é
exemplificada na definição platônica da filosofia enquanto exercício para a
morte; qual o papel do esquecimento na nessa mudança; qual a relação entre
memória e vida quando falamos da escolha do modelo de vida feita por quem
filosofa.
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O Universal e o Particular na Concepção de Ideologia em Karl Mannheim
Lorena de Melo Freitas
UFPE
Nossa comunicação tem por objetivo maior discutir o universal e o particular
no tocante às concepções respectivamente total e parcial de que se utiliza
Karl Mannheim para tipificar os tipos de ideologia. O termo ideologia foi
inicialmente criado por um filósofo francês Destutt de Tracy sendo um ramo
da zoologia já que esta estuda o comportamento dos organismos vivos e
considerava que as idéias eram um conseqüente da interação entre estes
organismos e a natureza ou meio ambiente. A conotação perde esta
neutralidade, se pudermos assim dizer adquirindo um sentido pejorativo,
quando Napoleão Bonaparte ataca Tracy e seus seguidores chamando-os de
ideólogos, apesar destes pretenderem uma análise não abstrata, mas
científico-materialista das idéias. Contudo o contexto imprime ao termo o
sinônimo de abstração da realidade, ideólogos eram pois os que viviam em um
mundo especulativo. Com esteio nesta concepção advinda de Napoleão, Karl
Marx passa a elaborar um outro sentido que se expressa n’A Ideologia Alemã
como equivalente à falsa consciência, ilusão. Posteriormente Lenin vai
trabalhar a idéia de ideologia como qualquer concepção da realidade social
ou política ligada aos interesses classe que a produz, havendo pois uma
ideologia burguesa e uma proletária. Karl Mannheim no seu livro Ideologia e
utopia vai apresentar a concepção de ideologia em dois significados
distintos e separáveis: o particular e o total. A primeira ocorre quando uma
fala apresentada tem disfarces mais ou menos conscientes da real natureza da
situação, visto que reconhecer a realidade não combina com os interesses do
proponente. A particularidade desta acepção apresenta-se quando se mostra a
concepção total que se refere à ideologia de uma época ou de um grupo
histórico-social como de uma classe, visto o conceito significar não idéias
ou representações isoladas, mas o conjunto da estrutura de consciência de
uma classe social. Quando em Sociologia do Conhecimento o autor prefere
falar de perspectiva socialmente vinculada a usar o termo ideologia ele
enfatiza um aspecto da ideologia total ou perspectiva social total ao dizer
que ela não é somente fonte de erro ou ilusão, mas também fonte de lucidez e
de conhecimento verdadeiro. Nossa tese é de que esta perspectiva inclusiva
da ideologia total que ocorre no seu segundo livro citado, é em outros
termos uma visão universal frente ao entendimento de Karl Marx que,
identificando ideologia como consciência invertida, de uma certa forma
particulariza a noção da palavra. Assim, trabalharemos a contraposição entre
universal e o particular no pensamento de Karl Mannheim em dois planos:
inicialmente na própria distinção que ele faz em ideologia total e parcial e
num segundo plano aprofundando a discussão da ideologia total numa análise
crítico-comparativa com a noção trabalhada por Karl Marx.
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O Estado Liberal e a Educação
Luiz Roberto Alves dos Santos
FANEC
O presente trabalho pretende indicar quais são as grandes necessidades para
o desenvolvimento de uma sociedade democrática, principalmente no que versa
sobre a formação pedagógica desta, ou seja, pretende apresentar, em um nível
teórico reflexivo, quais as características fundamentais para que possa
existir o moderno Estado de Direito. Nesse sentido, o trabalho aqui proposto
parte da pressuposição de que na atual conjuntura política globalizada,
sobre a qual incidem certas pressões basilares para que um país qualquer
seja reconhecido como um Estado de direito, são necessários determinados
parâmetros mínimos para os cidadãos se compreendam dentro de uma democracia.
Tais parâmetros dizem respeito prioritariamente à manutenção de dada ordem
liberal que preserve sobremaneira o indivíduo, onde a ordenança estatal
seria minimizada sobre as reais necessidades subjetivas, de maneira que os
interesses individuais convergiriam, em última análise, para o bem coletivo.
Por este prisma, o labor aqui realizado pretende mostrar que uma concepção
como esta implica necessariamente em uma educação – social – que objetive
emancipar os indivíduos e, conseqüentemente, transformá-los em cidadãos
plenos, ou melhor, em cidadãos globalizados.
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O Sistema Representativo Parlamentar e sua Crise Estrutural
Luiz Vicente Vieira
UFPE
A partir de uma hermenêutica de conceitos chaves da Filosofia Política
moderna, paralelamente à análise da lógica interna que rege à sociedade
Liberal moderna, busco diagnosticar os problemas enfrentados atualmente pelo
sistema representativo moderno, o que pode explicar as origens de suas
crises recorrentes. Mediante a explicitação da reinterpretação destes
conceitos, operada pela corrente do liberalismo, objetivo, então, determinar
até que ponto tais crise contribuem para minar as estruturas do Estado
liberal de Direito, pondo em risco sua própria sobrevivência.
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