IV ENCONTRO INTERINSTITUCIONAL DE FILOSOFIA
UFPE-UFPB-UFRN

XVI SEMANA DE FILOSOFIA DA UFRN

"O Universal e o Particular Hoje"

Natal, 5 a 9 de junho de 2006
 

 

Apresentação Áreas temáticas Atividades Programação Hospedagem/Alimentação Comissão

Resumos

Os resumos estão divididos de acordo com a primeira letra do nome do autor do trabalho.

A - D

E - H

I - L

M - P

Q - T

U - Z


O Universal e o Particular através do Conceito: a Hermenêutica Hebraica dá Razão a Schelling?
Edrisi Fernandes
UFRN

Na sua “Introdução à Filosofia da Mitologia”, Schelling lembra (3a lição) que, na língua hebraica (assim como no árabe), existe um “laço filosófico” entre diferentes significados aparentemente não-conciliáveis de um vocábulo, e que essa aparente confusão “se revela como um verdadeiro sistema de noções, donde o laço real não se encontra à superfície, não podendo ser descoberto senão graças a pesquisas científicas aprofundadas”. Sem pretender recomendar que todos devem estudar o hebraico, sugerimos, a partir da análise de um importante texto hermenêutico chassídico do Rabino Dov Ber (Baer) de Lubavitch (1773-1827), o Sha’ar ha-Yichud (“O Portão [para o Entendimento] da Unidade [de Deus]”) - que trata do método analítico chamado hitbonenuth ou Binah ha-Binah, “compreensão da compreensão” ou “entendimento do entendimento”, a partir de uma investigação das complexas relações entre hitbonenuth e as sefirot Binah (“Compreensão”, grego Noesis), Chochmah (“Sabedoria”, grego Sophia) e a Sefira “virtual” Da’at (“Conhecimento”, grego Gnosis) -, que é possível, a partir do hitbonenuth (um estudo intensivo, múltiplo e profundo dos aspectos internos e externos de uma mensagem), chegar a um entendimento sobre o sentido universal e o particular comunicado pelo conceito, mesmo nos casos em que o estudante não esteja familiarizado com o modo de surgimento “orgânico” da língua veicular. Mediante o hitbonenuth, um método tido pelos seus sistematizadores como universal para a apreensão da profundidade de qualquer conceito, acreditamos poder extrapolar para línguas não-semíticas a observação schellinguiana de que o laço filosófico que conecta, num campo epistêmico não encontrável à superfície, significados aparentemente não-conciliáveis, é de fato um laço objetivo.
 


Imagem do pensamento: uma crítica deleuziana aos pressupostos da filosofia
Elaine Guinevere de Melo
UFPB

Enquanto a Ciência funda conceitos a partir de pressupostos conhecidos de modo explícito, a Filosofia, por sua vez, ao fundamentar novos conceitos, parte de pressupostos subjetivos e implícitos. Por essa razão, Descartes, quando empreende fundamentar o Cogito, evita definir o homem como animal racional, já que isso implicaria em lidar com conceitos já cristalizados numa definição.
A forma de um pressuposto subjetivo ou implícito é a seguinte: “Todo mundo sabe...”. Portanto, todo mundo sabe, sem precisar recorrer a um conceito, e de um modo pré-filosófico, o que significa pensar e ser. De modo que, ao dizer “Penso, logo sou”, Descartes supõe que esteja compreendido implicitamente o significado universal contido nessa sua proposição. “Todo mundo sabe, ninguém pode negar” _ eis a forma da representação, a forma do discurso daquele que representa a “todo mundo”.
A forma mais geral da representação está, portanto, no elemento de um senso comum como natureza reta e boa vontade. Os pressupostos implícitos que se encontram no senso comum como Cogitatio Natura Universalis são, pois, o ponto de partida da Filosofia. Neste sentido, pode-se dizer que o aparato conceitual filosófico tem como base pressupostos implícitos que compõem uma Imagem do pensamento, pré-filosofica e natural, extraída do elemento puro do senso comum.
Acima, apresentamos algumas das principais idéias que participam da composição do conceito de Imagem do Pensamento, assim como formulado por Gilles Deleuze no livro “Diferença e Repetição”. Nesta comunicação, trataremos de apresentar não somente os argumentos que Deleuze usa para fundamentar um tal conceito, mas também expandiremos o tema a partir de referências a textos de alguns filósofos em que se vê uma correspondência com pontos específicos de sua crítica aos pressupostos da Filosofia, a exemplo de Nietzsche e Schopenhauer.
 


A proposta de uma ontologia fenomenológico-existencial de Sartre em O ser e o nada
Eliana Sales Paiva
UFC

Para Sartre, enquanto as ontologias substancial-objetivas pressupõem “a essência como fundamento da existência”, como propósito de priorizar as coisas reais, a ontologia fenomenológico-existencial compreende que, para existir, é preciso enfrentar o caráter absoluto do ser e levantar o questionamento da finitude do homem. Em Sartre, a existência é compreendida como fenômeno indicativo, ou seja, ele pretende ressaltar a condição do homem de se enunciar e se manifestar como sujeito que se escolhe e se projeta. Todavia, há possibilidade da existência de ser e de nada. Nas características fundamentais do ser (o ser é, o ser é em si, o ser é o que é) reside a identidade perfeita. Nesse sentido o ser está confinado na sua inacessibilidade e torna-se impossível saber qual é a estrutura interna do ser, bem como qualquer tentativa de determiná-la é vã. Porém, no ser há também uma descompressão, uma fissura que é o nada. O nada pode vir de um ser que o traga de dentro de si. O nada manifesta no mundo através daquele ser que se pergunta sobre o nada de seu próprio ser. Esse ser que segrega o nada é o homem. O homem é um ser de eclosão, que está preocupado, insatisfeito atarefado em recriar a si mesmo. O processo nadificador atinge nuclearmente a própria realidade de fazer sair de si através da interrogação e da negação. Sartre desenvolve uma ontologia fenomenológico-existencial que pretende vislumbrar uma transitividade do compreender como ato de intenção significante e não conceber a contingência e a facticidade como fatos oferecidos à intelecção. O sentido ontológico é descrever cada instante do surgimento da consciência intencional, nadificante, fora do ser, enfim, uma consciência cuja ação interna só é compreensiva a partir do surgimento da presença-ausência do mundo e do outro.
 


Universal e Particular em Marx: a Crítica à Filosofia do Direito de Hegel e o Problema da Sociedade Civil
Enoque Feitosa Sobreira Filho
UFRN

Embora comumente seja considerado como formulado por Hegel e, em seguida, criticado por Marx, do conceito de sociedade civil já se valiam outros autores, antes daqueles. Em seu significado mais originário a sociedade ou esfera civil não apresentava nenhuma autonomia perante o Estado. Só com o claro estabelecimento da dicotomia “estado natural X estado civil” se começa a operar uma transformação no conceito de sociedade civil. E isso se inicia quando o estado civil deixa de ser mero prolongamento do estado natural e, pelo contrário, passa a ser resultado de um contrato estipulado por indivíduos originalmente livres e que decidem abandonar aquele estado e dar vida a um estado civil dotado de poder e legitimidade. Marx, que herda o conceito hegeliano de sociedade civil, ainda que inverta a precedência, também se contrapõe às teorias contratualistas, onde o indivíduo isolado abandonaria o estado natural e pactua viver em sociedade. Ele, como se abordará em sede própria, chama a sociedade civil de esfera do homem egoísta, voltado unicamente para si mesmo, ou seja, enquanto humano desvinculado da sua humanidade, preparando assim o terreno de sua consideração, nos textos de maturidade, do proletariado enquanto “classe universal”. Em sua análise, valoriza claramente a explicação aristotélica e critica as teorias de um pacto originário, argumentando a partir da Política: o homem é, literalmente, um animal político, não é apenas animal social, mas o é no sentido de que, até o seu isolamento pressupõe vida social. A produção do indivíduo fora da sociedade é uma raridade que só aconteceria a um homem civilizado que, mesmo sendo transportado a um lugar selvagem, ainda assim levaria consigo as forças da sociedade, ou seja, é algo tão inusitado como seria a criação e desenvolvimento de uma linguagem sem o pressuposto de indivíduos que vivessem juntos e falassem entre si. As pessoas vivem e produzem em sociedade e este é o ponto de partida. O caçador e o pescador isolados pertenceriam ao mundo da ficção, como é apontado em “O capital”. Ou seja, ao invés de enxergar o indivíduo como resultado de um processo histórico, vêem-no como o prius da história. Tal visão é meramente aparência visto que a sociedade primitiva é tão somente uma antecipação do que virá a ser a sociedade civil, esfera do indivíduo egoísta, preso em sua particularidade. Como aponta o próprio Marx, a teoria do “pacto originário” é rejeitada e os que dela se valem, tomam como pressuposto algo que estariam obrigados a explicar, pois o espírito da sociedade civil pressupõe a existência da “guerra de todos contra todos” e não a sua eliminação, como imaginou, por exemplo, Rousseau. E, quanto a este, ele lembra que mesmo a idéia de contrato social, que pressupõe a relação de sujeitos independentes por natureza, tampouco repousaria sob tal naturalismo aparente, pois o que se forjava, já naquela época, era a concepção de uma sociedade que se preparava para a livre-concorrência e na qual o indivíduo aparece plenamente destituído de tais laços naturais.
 


A função do método de análise na constituição do argumento do cogito nas Meditações: uma leitura do cogito através da reductio ad absurdum
Érico Andrade Marques de Oliveira
Université Sorbonne

Normalmente se analisa o enunciado cartesiano do cogito das Meditações em conformidade com aquele do Discurso, tomando ambos os enunciados como conseqüência da certeza de que para pensar é necessário existir. Nesse sentido, o enunciado cartesiano seria fruto de uma intuição intelectual, impassível de uma demonstração porque circunscrita à consciência imediata do axioma: para pensar é necessário ser. Entretanto, Descartes utiliza por vezes o termo conclusão para designar o enunciado do cogito das Meditações o que nos permite nos interrogarmos se esse enunciado não seria derivado de uma “demonstração”. No caso em que o cogito seja de fato uma conclusão de uma demonstração, pode-se avançar a tese que essa demonstração está condicionada ao método analítico, reconhecidamente empreendido por Descartes nas Meditações como via segura para se apresentar ordenadamente as certezas metafísicas. Por isso, na metafísica esse método teria a função de apresentar – sob a forma de uma rede de implicações ontológicas – o raciocínio que conduz à certeza da existência. Como cumpre nas Meditações determinar a certeza da existência sem tomar como base nenhuma certeza preestabelecida, o método analítico financiaria, segundo nossa interpretação, uma reconstrução do argumento do cogito sob a base de uma reductio ad absurdum cujo objetivo nas Meditações consiste em mostrar – sem recorrer a uma certeza prévia – a contradição inelutável da tentativa de se demonstrar a não existência daquele que questiona sua própria existência. Nessa perspectiva, o enunciado do cogito das Meditações, que se impõe de maneira singular na obra cartesiana, colocaria em evidência um raciocínio indireto mediante o qual se apresenta as implicações contraditórias da representação da não existência daquele que pensa no intuito de prover o sujeito da certeza de que a existência é absolutamente inquestionável.
 


Filosofia da Linguagem em Walter Benjamin
Ericsson Venâncio Coriolano
UFC

Essa comunicação visa aproximar Benjamin da tradição dialética mostrando que já em seus primeiros textos filosóficos ele tentou superar a diferença entre a essência do real e da linguagem a partir do desdobramento da linguagem geral, no seu modo de ser indeterminado, até sua determinação na história como signo nomeador. No texto de 16, Sobre a Linguagem Geral e a Humana, Benjamin parte da separação provisória e metodológica entre espírito e linguagem e afirma que só pertença a esfera lingüística o que é comunicável no conteúdo espiritual das coisas. Ao admitir essa separação a linguagem geral surge como limitada diante da essência do real já que só pode mostrar o que da totalidade do espírito da natureza se externa na forma comunicativa, poderia-se dizer que a natureza ao se expor sempre aliena sua totalidade na sua maneira particular de comunicação tornando-se ela – a natureza em essência – estranha à linguagem e a si mesmo, já que ela só se expõe alienando-se de sua totalidade. Apossibilidade de superação deste estranhamento entre a essência do real e a linguagem – ou entre a linguagem e ela mesma, já que na linguagem se assume o inexprimível como uma auto-negação de si ao se expor como real – é visto por Benjamin na forma de ser da linguagem geral como língua nomeadora ou humana. Na língua humana a linguagem se determina como nomeadora, já que na natureza em geral ela era apenas a expressão parcial de si, pois as línguas das coisas só transpareciam o que nelas era comunicável. Esse “o que é comunicável” na língua humana nomeadora é a própria comunicação. No nome a linguagem comunica o comunicável ou comunica a si mesmo ou a linguagem fala. Logo, não faz sentido afirmar que na língua humana o homem só comunica o que é comunicável de sua essência, pois sua essência já é o que é comunicável. Dessa forma a língua humana surge como momento de síntese entre essência espiritual e linguagem, sendo o nome a expressão perfeita da linguagem que se expõe em sua totalidade e o homem como o particular que carrega em si a possibilidade de redimir a relação entre linguagem e espírito. Logo, toda natureza se reconhece no nome que o homem comunica ao expressar sua essência lingüística. O nome é a garantia de uma relação perfeita entre realidade essencial e linguagem, pois no nome a linguagem nega o inexprimível se determinando como o próprio desenvolvimento do espírito ao se reconhecer no homem como diferente de si mesmo por possuir um nome que lhe garanta uma identidade em cada modo de ser seu. Na língua humana a linguagem geral chega ao seu desdobramento mais rico já que pode se auto-diferenciar de si mesmo se determinando em diversas línguas na natureza, sabendo que essa diferença é garantida no seu modo de ser nomeador que negação da negação da linguagem, ou seja, a superação do inexprimível.
 


Emancipação Política e Emancipação Humana: Marx e a Crítica do Estado Político em "A Questão Judaica"
Estenio Ericson Botelho de Azevedo
UECE

Esta comunicação tem como objetivo a exposição da crítica do Estado político (moderno) apresentada por Karl Marx no texto A Questão Judaica (1843), crítica que tem como elemento central o “exame da relação entre emancipação política e emancipação humana”. Para Marx, tal crítica consiste em revelar a contradição entre o Estado político e os elementos seculares particulares, ou seja, os elementos que compõem a ‘vida real’, situada na esfera da particularidade. Estes elementos, tratados pelo Estado moderno enquanto ‘distinções não-políticas’, não são senão os pressupostos gerais do próprio Estado político e manifestam sua insuficiência na medida em que são contrapostos por este mesmo Estado político em sua condição universal. Esta é, contudo, uma contraposição na qual e pela qual estes mesmos elementos da particularidade são os pressupostos do Estado, em sua universalidade. Assim, diz Marx: “O Estado político é, por natureza, a vida genérica do homem em oposição à sua vida material”. Nestes termos, a crítica que se coloca neste texto de juventude de Marx constitui-se fundamentalmente da crítica da emancipação política, emancipação que não se constitui na forma plena da emancipação humana. Tendo por base a cisão entre Estado político e sociedade civil, a emancipação política carrega em sua natureza um radical dualismo entre a vida genérica (limitada à universalidade abstrata da vida política) e a vida individual (subsumida no particularismo da sociedade civil). Em sua vida genérica, o membro do Estado político aparece como pessoa pública, em sua universalidade irreal na condição de ‘cidadão abstrato’. Em sua vida individual, o membro da sociedade civil aparece como indivíduo independente e egoísta, isto é, enquanto pessoa privada ‘separado da comunidade’ e identificado como ‘homem autêntico’. Distintamente, a emancipação humana constituir-se-á, para Marx, pela superação desta cisão entre o citoyen e o bourgeois, entre o universalimso abstrato do Estado político e o particularismo da sociedade civil. Em outras palavras, somente quando o homem individual tiver em si a vida genérica – “quando tiver reconhecido e organizado as suas próprias forças como forças sociais, de maneira a nunca mais separar de si esta força social como força política “ – é que, segundo Marx, “a emancipação humana será plena”.
 


Platão e a impertinência de escrever
Fábio Augusto Antea Rotilli
UFPB

No “Fedro”, Platão trata de executar, entre outros empreendimentos, uma crítica radical à palavra escrita. Segundo Derrida, trata-se efetivamente de uma condenação categórica à atividade do escritor (em geral!); seja este sofista, filósofo, poeta... Tal problemática constituiria o cerne, o ponto fundamental do “Fedro”, mas aparece dissolvido num mito, numa metáfora...
Nossa apresentação, focada nesse objeto, indagará: Como o “pai da filosofia ocidental”, que escreveu tantos livros, pode fazer uma crítica tão severa à escritura? E, baseado em que?
 


Duas Relações Possíveis entre o Universal e o Particular: os Métodos Filosófico e Matemático na Crítica da Razão Pura
Fábio Tenório de Carvalho
UFMG

O que distingue a matemática da filosofia não são os conceitos com os quais elas se ocupam, mas essencialmente os métodos que elas empregam em suas demonstrações e exposições. Tal é, pelo menos, a posição de Kant na Crítica da Razão Pura. Para ele, essa distinção era de suma relevância, uma vez que ela implica na interdição de um dos caminhos pelos quais o pendor especulativo da razão costumava manifestar-se de maneira dogmática. Afinal – chegaram a cogitar alguns metafísicos –, se a matemática foi bem sucedida em erigir um conhecimento racional puro, porque não importar seu método de demonstração para a filosofia, onde um conhecimento da mesma estirpe também se almeja? Para explicar a impossibilidade deste transplante do método matemático para a metafísica, Kant chama a atenção para o modo peculiar como a geometria, a álgebra e a aritmética garantem a universalidade dos seus juízos. O fundamento da universalidade envolvida na proposição “todo segmento de reta é infinitamente divisível” não é a subordinação lógica desta proposição a uma outra sentença mais geral, como se aquela fosse uma dedução válida a partir desta. São as leis de construção de qualquer reta na intuição pura que fazem com que a universalidade daquela proposição revele-se in concreto, ou seja, em cada exemplo particular de reta imaginada ou intuída. Esta maneira específica de relacionar o universal e o particular não pode ser reproduzida pelo método filosófico. Pretende-se, nesta comunicação, retomar tal distinção kantiana entre os dois métodos, explorá-la em seus pormenores e, por fim, esboçar uma avaliação sobre a sua possível atualidade.
 


Derrida e a Metafísica
Fernando Facó de Assis Fonseca
UFC

Pode-se afirmar que a confluência de toda filosofia contemporânea é a critica à metafísica. Após a reflexão nietzschiana sobre o pensamento ocidental e a suspeita de uma tentativa de fundamentação ultima do real, inaugurou-se o cenário para o pensamento pós-moderno. Dentre os pós-modernos franceses, Derrida é considerado o filósofo que realizou uma crítica bastante original das concepções metafísicas. Influenciado pelo pensamento de Heidegger, como boa parte dos filósofos franceses, Derrida tenta desconstruir o pensamento metafísico de forma contundente. Segundo ele, os principais desconstrutores da metafísica (Nietzsche, Freud e Heidegger) não conseguiram se desvencilhar de seus princípios. A metafísica permaneceu disfarçada sob seus conceitos, tornando impossível que seus pensamentos dela se afaste, mesmo quando se elabora uma outra explicação do real, sob uma hierarquia de conceitos que abandona uma pretensão de verdade última e essencial. Derrida passa a trabalhar, como ele mesmo diz, às margens da filosofia, a partir de uma proposta desconstrucionista. Nesse sentido, além de toda dicotomização metafísica entre ser/ente, verdade/mentira, corpo/alma etc, Derrida pretende demonstrar como o pensamento ocidental tende a se sustentar sob uma significação ultima, a qual, segundo ele, constituiria a base do pensamento metafísico. Temos, assim, além de uma desconstrução do sujeito do conhecimento, uma reflexão que revela os nós metafísicos, inclusive os que se manifestam em seu próprio pensamento. A partir do neologismo Differance, Derrida pretende mostrar como o sentido é produzido mediante um jogo de diferenciações. Neste jogo, o pensamento ocidental elegeu uma, dentre as possíveis formas de significação; fixou-se nela, concebendo-a como verdade essencial e ignorando outras possibilidades de significado. A proposta do presente trabalho é fazer uma análise da crítica elaborada por Derrida sobre o pensamento metafísico. Para tanto, partiremos do ponto de inflexão de Nietzsche, segundo o qual todo significado é sempre produzido, não dado. Analisaremos também os argumentos utilizados por Derrida no que concerne à impossibilidade de deslocamento do círculo metafísico, bem como a tentativa de elaboração de um outro centro para se pensar a realidade, (tentativa esta que não se exime da possibilidade de cair em uma outra metafísica). Tais considerações constituem a base que circunda toda a obra de Derrida, sem a qual é impossível entender a radicalidade do seu pensamento.
 


Idealidade Platônica e Tragicidade Nietzscheana
Francisca Rosália Silva Menezes
UFC

Porque Platão estaria tão decididamente determinado a excluir toda e qualquer poesia da educação superior do jovem grego? A visão platônica da poesia é governada pela epistemologia que subjaz seu novo programa educacional (sua Paidéia filosófica) que tem um ideal de formação filosófica a partir de um conhecimento de um objeto universal, normativo e imutável (mégiston máthema). Sendo um investigador da idealidade divina que se orienta para o mundo metaempírico, Platão enxerga na experiência poética (mimesis) um perigo moral e intelectual, sendo ela mesma a realização de uma faculdade que é antítese da ciência. A poesia “de caráter mimético” é descrita por Platão como um tipo de produção ou de discurso no qual a verdade é apenas relativa e inferior ontologicamente as certezas absolutas da episteme, que são derivadas do mundo das Formas Perfeitas. No livro X da República, o filósofo ateniense qualifica como fundamental o dano que a poesia (mimesis) pode causar aos seus ouvintes, pois segundo ele, ela “corrompe o claro entendimento” e pode atuar como “veneno psíquico”. Certamente não é essa a compreensão que Nietzsche tem da experiência do êxtase dionisíaco revivido nas tragédias nos palcos da pólis grega. Ao ressaltar a importância da experiência do trágico como cultivo e educação para elevação do espírito humano, Nietzsche enxerga a possibilidade de trazer à culminância o afeto do artista criador, e ao mesmo tempo uma humanidade mais fortalecida, onde o drama da finitude não é amparado por falsos modelos metafísicos que mascaram a vida e a transformam no lugar da confortável mediocridade utilitarista, paraíso do último homem. São essas e outras considerações que pretendemos apresentar em nossa comunicação.
Palavras-chave: Poesia mimética – Paidéia – Verdade – experiência trágica
 


Platão e o mito do andrógino
Francisco Diniz de Andrade Meira
UFPB

Platão é considerado um inovador, criando um novo gênero em que a mitologia é tida como um subterfúgio para o entendimento. O filosofo usa da mitologia para uma explicação em vista da revelação da verdade, enquanto que entre os gregos era predominante o uso do mito como exaltação dos deuses e heróis, e para fins religiosos. No Banquete, Platão nos aponta um caminho onde o amor nos impulsiona para uma vida de satisfação e gozo. Percorrendo alguns aspectos do discurso de Aristófanes, teremos a intenção de mostrar o mito do Andrógino, bem como sua disposição no diálogo. Assim, saberemos que a condição dos homens é de incompletude e que somos fadados a procurar a complementação; o amor, neste mito, é marcado pela privação das metades, o perfeito vira imperfeito, a completude vira busca incessante, mas é nesse cenário que Eros entra para impor a condição da busca para a volta à completude, à perfeição, tendo em vista que a perfeição se dá no encontro, patrocinado por Eros, de dois corpos que se desejam – em busca da unidade original. Veremos o caráter filosófico de Eros como tensão que nasce da falta. Procurando preenchê-la. O homem é pura carência: carência do outro, de seu outro, tão insaciável, quanto despropositada, a aspiração por uma fusão definitiva, sem, contudo, nos encontrarmos com a plenitude. Estamos destinados a eterna procura por aquilo que perdemos. Estamos “condenados” ao amor.
 


Ontologia do presente, racismo, lutas de resistência
Guilherme Castelo Branco
UFRJ

Sem dúvida, a partir da hipótese de Michel Foucault segundo a qual a criação de novos espaços para o exercício da liberdade depende da situação das relações de poder, de caráter agonístico, perguntar-se sobre a razão de ser da violência na atualidade passa a ser um tema central e incontornável. Em especial se incluirmos nesse universo de análise a questão do bio-poder e do racismo, tal como está apresentado no Em defesa da Sociedade, conceitos foucaultianos que trazem novas luzes para a reflexão sobre o estatuto da liberdade no presente histórico, assim como tornam muito mais complexo o debate sobre o lugar da tolerância e da razão nas relações políticas e sociais.
 


As razões que levaram Austin a abordar a distinção entre os verbos performativo e constatativo
Hélcia Macedo de Carvalho Diniz e Silva
UFPB

Este trabalho tem por objetivo o estudo na teoria dos atos de fala especificamente dos verbos performativo e constatativo, conceitos inicialmente apresentados por Austin como antagônicos. Mas o filósofo abandona a distinção e tece uma nova teoria da linguagem comum cunhando os atos locucionários, ilocucionários e perlocucionários. Seguimos nesta pesquisa a abordagem da linguagem comum da obra Quando dizer é fazer: palavras e ação de Austin, cuja teoria não aceita fronteiras entre filosofia e lingüística. Austin surge com a discussão sobre a linguagem, colocando-a como objeto de estudo da filosofia. Assim, revoluciona não só a filosofia analítica, como também a lingüística.
 


Do Homem Natural ao Homem Artificial: Um Estudo sobre a Antropologia de Hobbes no Leviatã
Hermano José Falcone de Almeida
UFPB

Tendo como ponto de partida o projeto hobbesiano de construir uma ciência do homem, o presente estudo segue os passos do filósofo Thomas Hobbes, tendo como base o Leviatã, por ser essa a obra que sintetiza o pensamento do autor. Escrita com um misto de ciência, que utiliza a geometria como referência, e literatura clássica, o Leviatã coloca questões ainda hoje atuais. A descrição do homem, seja em estado de natureza ou em Estado social, colocado diante da problemática da natureza passional e beligerante do ser humano. A linguagem e a razão tornam o homem uma espécie diferente de outras, sendo um dos fatores fundamentais para a saída do estado de natureza. As paixões que nos impedem de alcançar a paz no estado natural ameaçam a vida e o corpo do homem que, por medo da morte e esperança de uma vida melhor, impulsiona a passagem para o homem artificial, produto da deliberação e vontade humana. O Estado, ou corpo artificial, é instituído para garantir a paz e preservar a vida. Põe um limite no direito e liberdade naturais e faz cumprir as leis da natureza, que são normas para alcançarmos a paz. Porém, o homem artificial sofre de doenças, assim como o homem natural. Estas podem contribuir para a queda do pacto entre súditos e soberano, fazendo assim perecer o Estado. A antropologia extraída do Leviatã nos remete a uma passionalidade humana inquietante e os limites da razão para controlar estas.
 

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