“o apocalipse dos trabalhadores” e a crise do cuidado

De autoria do escritor português Valter Hugo Mãe, publicado pela editora Biblioteca Azul no ano de 2017, o livro “o apocalipse dos trabalhadores” versa sobre diversas questões pertinentes a nossa época. A narrativa trata da história de trabalhadoras, duas Marias, ambas empregadas domésticas, que possuem suas vidas diretamente ligadas ao mundo do trabalho. Entre chãos para limpar, relacionamentos violentos e vassouras, uma teia de explorações ligam as duas trabalhadoras, que são desumanizadas a ponto de não se enxergarem como pessoas, mas sim instrumentos de seus patrões e do sistema capitalista. Quando pensamos o quanto o local de mulheres pobres sempre foi delegado ao serviço do cuidado e a negação de sua própria vida para dedicação exclusiva ao outro, a história traz à luz as consequências psicológicas e sociais da negação do desejo e da realização pessoal dessas mulheres em função dessa lógica cotidiana. Em meio a uma pandemia onde a ordenação do trabalho doméstico se alterou é importante pensarmos não apenas na nossa casa, que agora temos que limpar, mas quais são as estruturas sociais mantidas em detrimento das jornadas exaustivas das trabalhadoras domésticas. Nas palavras de Maria das Graças, essas mulheres não são máquinas sem paragem a esquecer a sua própria felicidade.

Texto: Giovana Alves