Até quarta, Isabela! – Francisco Julião

“Esta é uma carta de amor (…)”, a frase que inicia o livro define o que será essa leitura. Francisco Julião, liderança política das Ligas Camponesas, foi perseguido e preso logo após o Golpe Militar de 1964. É nesse contexto de cárcere que ele se deteve a escrever uma carta para a sua filha recém-nascida, Isabela. O amor ao qual Julião se refere ao longo do texto não se detém apenas ao de um pai para com sua filha, mas de um lutador para com seu povo. As memórias que o autor vai narrando gera uma variedade de emoções em nós leitores de 2020. Há aqueles momentos em que o medo nos consome, quando por exemplo, Julião narra a recepção em Belo Horizonte do General Mourão Filho, articulador do Movimento desencadeado em Minas e que hoje, 56 anos depois, é o vice-presidente eleito do nosso país. Nos indignamos também ao avaliarmos como o retrato das desigualdades no Brasil permanecem sem grandes alterações estruturais. No entanto, para além dessas emoções que pesam sobre a história do nosso país, há sentimentos que permeiam o livro e que enche nossos corações e mentes de esperança. Ler sobre a solidariedade do povo com Julião em seus momentos de fuga, os movimentos sociais organizados do período, a resistência em um momento antidemocrático e o amor de um brasileiro para com sua nação nos fortalece na atual conjuntura que vivemos.

Texto: Isabela Ferreira